domingo, setembro 21, 2025

Poesia ao domingo

 Canção de Outono


No entardecer da terra

O sopro do longo outono

Amareleceu o chão.

Um vago vento erra

Como um sonho mau num sono

Na lívida solidão.


Soergue as folhas e pousa

As folhas volve e revolve

Esvai-se ainda outra vez.

Mas a folha não repousa

E o vento lívido volve

E expira na lividez.


Eu já não sou quem era;

O que eu sonhei, morri-o;

E mesmo o que hoje sou

Amanhã direi: quem dera

Volver a sê-lo! mais frio

O vento vago voltou.



Fernando Pessoa

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