segunda-feira, janeiro 31, 2011

Quem passa por Alcobaça...

Não foi difícil decifrar o enigma tanto mais que o Rui Pascoal é da zona...
Depois foram aparecendo várias pistas, desde o nome dos rios, à  canção de Maria de Lurdes Rezende, à doçaria conventual, ao frango na púcara do Restaurante "Corações Unidos", à Casa das Artes em risco de fechar, e até o Rui da Bica num ataque de nostalgia chegou a Évora!
Mas ninguém fez referência à bela Inês que repousa em paz no Mosteiro de Alcobaça, estando o seu Pedro do outro lado da nave.
Aproveito para recordar que esta real história de amor, que tão tragicamente terminou, além de estar eternizada nestes mausoléus também não foi esquecida por António Ferreira (1528-1569) na peça de teatro " A Castro", por Camões nos Lusíadas, Canto III, estâncias 118/135 e ainda por Henry de Montherland, dramaturgo francês (1896-1972) na peça "La Reine Morte", mais tarde adaptada ao cinema.
Haverá ainda muito mais manifestações literárias à volta destes amores.




 Uma das naves laterais do mosteiro...


 Também não houve referência às chitas vistosas que agora servem para fazer sacos, aventais, abat-jours de candeeiros, almofadas, etc.


E finalmente, para os mais gulosos, um pequeno apontamento da célebre Pastelaria Alcôa.
Os suspiros de D. Pedro e as cornucópias são uma delícia!

Recomendação:
Não deixem de passar e parar em Alcobaça porque vale a pena!

sexta-feira, janeiro 28, 2011

Onde é que passei?

Entusiasmada com os enigmas do Rui da Bica até me tenho esquecido dessa vertente do meu blogue, por isso aqui fica este.



Gosto de rios mesmo que sejam estreitos e de...


 passagens em arco...


Gosto também de estátuas no meio de praças adormecidas...

segunda-feira, janeiro 24, 2011

Tempo de Violetas

(imagem da net)


Em miúda, nas tardes de sol de Janeiro, quando saía da escola, embrenhava-me pelos campos para apanhar violetas.
Depois de já ter um bom raminho voltava para casa, cortava-lhes os pés, limpava-as e metia-as num frasquinho com álcool de bocal largo.
Durante dias e dias, ia agitá-lo e o líquido, inicialmente incolor, ia adquirindo um tom anilado.
Quando achava que o "produto" estava perfeito, destapava o frasco, cheirava e sentia-me feliz por ser perfumista.
Há dias, o meu "fiel jardineiro" fez-me reparar num dos canteiros do meu mico-jardim coberto de violetas.
Foi então que pensei em voltar a ser perfumista!

sexta-feira, janeiro 21, 2011

Pé de pobre não tem número...

Ninguém se esquecia das palavras sábias de Ernesto, ditas ao receber mais um saco de generosidade, com pares de sapatos e peças de vestuário: "Pé de pobre não tem número."
Sempre fora o que a avó Casemira lhe ensinara. E a velha senhora ainda acrescentava: " E pobre não troca de roupa, a roupa é que troca de pobre. Vai primeiro para o irmão pobre, depois para o primo pobre, depois para o neto pobre, e assim por diante, até a pobre da roupa já não perceber se nasceu camisola ou cachecol."
Apesar da tenra idade, o gaiato era doutorado na matéria: nascera sem nada e crescera ainda sem menos. Por isso, não temia assaltos, incêndios nem tremores de terra. A vida para ele pouco valia. Com apenas nove anos de idade, já vira desaparecer os bens mais preciosos: a avó, a madrinha e os irmãos que se foram espalhando pelo mundo da desgraça, herdando os passos errantes dos pais.
Ernesto apreciava a liberdade do desapego e nada lhe faltava na capital do país "Vale-tudo-menos-tirar-olhos". Estranhamente, e da noite para o dia, a maioria dos habitantes começara a acreditar nas convicções da mais jovem curandeira daquele lugar: " Quem ajuda recebe troco e, às vezes, a dobrar. Até já vi alguns jackpots."
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Embora o nome do país fosse um aviso, a capital parecia uma terra pacata, mas à noite, nas ruas desertas, o garoto já assistira a verdadeiros filmes de terror, de suspense e mesmo pornográficos, sem nunca pagar bilhete.
"Boa noite, está na hora de ir para o Baú" era assim que Ernesto Naftalina, sua alcunha por gostar tanto de roupa, se referia ao rés-do-chão abandonado, onde dormia num velho colchão, rodeado de mais peças de vestuário do que as existentes na boutique da dona Estrelinha. ....................................................................................................................................................................
Sozinho e confortável no seu Baú, Naftalina passava os serões a cortar fotografias de pessoas com nomes sonantes e a desenhar-lhes por cima fatos, vestidos e chapéus que nunca lhe passaram pela cabeça. nesses momentos sentia-se milionário. Para ele, pobreza era não ter imaginação: não sendo para comer, beber, vestir ou transportar, as ideias tornaram-se, na vida de Ernesto, a tampa da panela de muitos apuros.
"Quando for grande, vou vestir senhores Presidentes, Ministros e Primeiras Damas. Como pode um país sentir-se feliz se os políticos só usam fatos cinzento ratazana, azul noite sem lua ou beje de gente morta?" - comentava Naftalina com o senhor Arlindo, dono do café do largo, enquanto partilhavam as notícias do telejornal, à hora do almoço. O proprietário sorridente pensava: " Sonhar é bom e não custa dinheiro."
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Isabel Zambujal, in "Do Conserto do Mundo" ( Contos)

Nota: este é um extracto de um conto retirado do livro referido, livro esse elaborado em parceria por vários autores, desde os mais consagrados aos iniciados, no âmbito do Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social.
Cada conto reflecte um olhar sobre a temática em questão, de acordo com a sensibilidade do seu autor.
Patti, minha simpática visitante, de "Ares da Minha Graça" é uma das contistas.

POBREZA É FICAR INDIFERENTE!

É uma edição da Imprensa Nacional Casa da Moeda.

sexta-feira, janeiro 14, 2011

Estilhaços



Eu fechava a porta para que, depois, o simples abrir dos trincos tivesse o brilho de um milagre. Para que ele, mais uma vez, casasse comigo. E o mundo se abrisse, casa, cama e sonho.
Durante anos, porém, os passos do meu marido ecoaram como a mais sombria ameaça. Eu queria fechar a porta, mas era por pânico. Meu homem chegava do bar, mais sequioso do que quando fora. Cumpria o fel do seu querer me vergastava com socos e chutos. No final, quem chorava era ele para que eu sentisse pena das suas mágoas. Eu era culpada por suas culpas. Com o tempo, já não me custavam as dores. Somos feitos assim de espaçadas costelas, entremeadas de vãos e reentrâncias para que o coração seja exposto e ferível.
Venâncio estava na violência como quem não sai do seu idioma. Eu estava no pranto como quem sustenta a própria raiz. Chorando sem direito a soluço; rindo sem acesso a gargalhada. O cão se habitua a comer sobras. Como eu me habituei a restos de vida.


Extracto de um dos contos de Mia Couto in " O Fio das Missangas"


Dados provisórios fornecidos em Novembro de 2010 pelo Observatório de Mulheres Assassinadas por violência doméstica registaram 39 vítimas mortais e ainda 11 vítimas associadas, perfazendo um total de 50 pessoas.
As tentativas de homicídio atingiram 39 mulheres.

Nota: A imagem é da net.

segunda-feira, janeiro 10, 2011

Saudades do Tejo

Tenho raízes na lezíria por parte da avó paterna.
Talvez por isso, de vez em quando, tenho que ir olhar o Tejo de perto.


Ontem foi um desses dias...
Encontrei-o a correr feito prata líquida na Barquinha...


Do lado de Tancos corria azul...


No cais os barcos estavam parados sem navegar...
A corrente ia fortíssima.


Do lado de lá, a linda povoação do Arripiado onde há um restaurante chamado "O Moinante" que tem na ementa uma deliciosa açorda com sável frito...



Esta foi a altura que as águas atingiram na grande cheia de 1951.
Marcação feita na parede de um quintal da marginal de Tancos.


O guardador desse quintal e das margens do rio!


E a jóia da coroa!
O Castelo de Almourol...


Nunca me canso de olhar-te " Tejo que levas as águas..."

terça-feira, janeiro 04, 2011

O Fio das Missangas











A missanga, todos a vêem.
Ninguém nota o fio que,
em colar vistoso, vai compondo as missangas.
Também assim é a voz do Poeta:
um fio de silêncio costurando o tempo.




Mia Couto in "O Fio das Missangas"




Mesmo sem sermos poetas, todos vamos costurando o nosso tempo...
Às vezes, vamos mesmo remendando!