quarta-feira, março 31, 2010

Do mal, o menos...

Neste país atrapalhdo e cheio de trapalhices até o Março, marçagão me saíu um enormíssimo trapalhão
De manhã Inverno está certo mas de tarde Verão é que não!
Termina assim, como começou, desta forma inglória, com chuva e frio. Parte sem deixar saudades...
Mas a Natureza, que é mais resistente e inteligente que nós, está-se nas tintas para o mau-humor de Março e presenteou-nos com a Primavera de acordo com o calendário.
Do mal, o menos!
Assim o nosso olhar aquece enquanto o corpo protesta contra as condições climatéricas.
Aqui vos deixo alguns apontamentos floridos captados sem sair à rua.
A Nina à janela do escritório do dono com uma enorme vontade de se lançar à orquídea...

A Nocas à janela da cozinha por onde, teimosamente, pretende entrar, sem qualquer sucesso...


A ameixieira que se está a desfazer em flocos de "neve" por causa do vento...


As orquídeas de exterior na varanda do meu escritório!



segunda-feira, março 29, 2010

Leva-me os olhos, gaivota...


Leva-me os olhos, gaivota,
e deixa-os cair lá longe naquela ilha sem rota...
Lá...
onde os cravos e os jasmins
nunca se repetem nos jardins...
Lá...
onde nunca a mesma aranha tece a mesma teia
na mesma escuridão das mesmas casas...
Lá...
onde toda a noite canta uma sereia
e a lua tem asas...
Lá...
José Gomes Ferreira
Nota: também gosto muito da poesia de José Gomes Ferreira.

sexta-feira, março 26, 2010

Sul II

Nomes muito originais


Imagens captadas na praia do Cavoeiro

terça-feira, março 23, 2010

Sul I

E sempre os mesmos tons de azul...

A mesma paz...


A mesma serenidade...

O mesmo marulhar do mar...




Nas praias de inverno primaveril, ao sul.




domingo, março 21, 2010

Vidro Côncavo

No Dia Mundial da Poesia escolhi António Gedeão...

Vidro Côncavo

Tenho sofrido poesia
como quem anda no mar.
Um enjoo.
Uma agonia.
Sabor a sal.
Maresia.
Vidro côncavo a boiar.

Dói esta corda vibrante.
A corda que o barco prende
à fria argola do cais.
Se vem onda que a levante
vem logo outra que a distende.
Não tem descanso jamais.

António Gedeão, in Poesias Completas



quinta-feira, março 11, 2010

Deixo-vos...

...com um enigma dos fáceis.



Por onde é que eu andei no primeiro dia de sol desta semana?
Não acertem logo, está bem?

segunda-feira, março 08, 2010

Duas mulheres na cidade...

Um post lido ontem em "O Casario do Ginjal" do Luís Milheiro lembrou-me um episódio que tinha vontade de aqui contar e que só a preguiça o tem impedido porque o texto vai ficar longo.
Descia com a minha cunhada mais velha, que além de cunhada é sobretudo uma grande amiga desde o tempo do liceu, do Príncipe Real para S. Bento, quando deparámos com imensa tralha a atafulhar o estreito passeio por onde caminhávamos, à saída de um prédio antigo onde se realizavam obras num dos apartamentos.
No meio do lixo destacavam-se dois enormes sacos de plástico muito sujos e cheios de livros.
Com a cumplicidade e a curiosidade que nos une, começámos logo a vasculhar para descobrirmos que tipo de livros seriam aqueles.
Entretanto desce um operário que olha com espanto aquelas senhoras armadas em "trapeiras".
Perguntámos-lhe, com alguma insegurança, se tudo aquilo seria para deitar fora, ao que ele respondeu que se ali estava era porque nada prestava e seria esse o seu destino. Afastou-se e nós continuámos a nossa "investigação".
Perante o nosso espanto, encontrámos:
17 volumes da obra de Eça de Queirós, da Livraria Chadron, de Lello & Irmãos Lda. , cujas datas de emissão iam de 1920 a 1928, encadernados em percalina vermelha;
5 volumes em francês das Obras Completas de Lamartine, de Pagnerre - L. Hachette et Cie. - Furne et Cie., de 1855 a 1858 (em numeração romana );
2 volumes da obra de Júlio Verne, em português, de 1887 e 1888, de David Corazzi, Editor e um volume de 1890 já da Companhia Nacional Editora, devido ao encerramento ou venda da editora anterior.
Os três volumes em percalina verde.
Ainda havia outros livros que não vale a pena referir para não alongar excessivamente a narrativa.
De forma alguma iríamos deixá-los ali, sujeitos ao despejo num ecoponto ou numa lixeira juntamente com tudo o que se acumulava ao fundo da escada e no passeio.
Embora cansadas, lá carregámos com os sacos ainda umas centenas de metros até ao apartamento da minha cunhada e limpámos-lhes o pó e as teias de aranha.
Agora já se encontram em minha casa, à espera do Verão, para, com vagar, decidirmos o que fazer a este espólio.
Diante de um crime como este, porque deitar livros para o lixo deveria ser considerado crime, interrogámo-nos:
- Quem teria sido capaz de cometer tamanha barbaridade?
Como é óbvio os operários apenas executam ordens e, pelos vitsos, nenhum deles tinha gosto pela leitura...
Eu bem avisei que isto ia ficar longo, mesmo com muitos cortes na narrativa e nas considerações tecidas à volta do rocambolesco episódio.
As imagens ilustram os factos e o título procura lembrar o dia que se comemora hoje.




segunda-feira, março 01, 2010

Leonoreta de lambreta

Passeava-me pelo Chiado quando descobri um café deveras original num pátio interior, ali mesmo ao lado da Bertrand...
Entrei numa 1ª sala onde a peça decorativa por excelência era uma velha máquina de costura, seguia-se uma pequena galeria de exposições e finalmente uma outra sala com cadeiras totalmente desirmanadas, dos anos 30/40/50.
Na galeria encontravam-se quadros de um pintor cujo nome esqueci (a idade não perdoa)...
Saltou-me à vista este porque me lembrei imediatamente de António Gedeão e do seu Poema da Auto-Estrada, com ecos de Camões.
Aqui está, embora incompleto e com a indumentária da Leonor um pouco descoordenada.
Eu ando numa de "incompletude"...

Poema da Auto-Estrada
Voando para a praia
Leonor na estrada preta.
Vai na brasa, de lambreta.
Leva calções de pirata,
vermelho de alazarina,
modelando a coxa fina
de impaciente nervura.
Como guache lustroso,
amarelo de indantreno,
blusinha de terileno
desfraldada na cintura.
Fuge, fuge, Leonoreta.
Vai na brasa, de lambreta.
Agarrada ao companheiro
na volúpia da escapada
pincha no banco traseiro
em cada volta da estrada.
Grita de medo fingido,
que o receio não é com ela,
mas por amor e cautela
abraça-o pela cintura.
Vai ditosa e bem segura.
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