quinta-feira, novembro 30, 2006

Meu coração é um pórtico partido


Meu coração é um pórtico partido
Dando excessivamente sobre o mar.
Vejo em minha alma as velas vãs passar
E cada vela passa num sentido.

Um soslaio de sombras e ruído
Na transparente solidão do ar
Evoca estrelas sobre a noite estar
Em afastados céus o pórtico ido...

E em palmares de Antilhas entrevistas
Através de, com mãos eis apartados
Os sonhos, cortinados de ametistas,

Imperfeito o sabor de compensando
O grande espaço entre os troféus alçados
Ao centro do triunfo em ruído e bando...


Fernando Pessoa, in Cancioneiro


Uma pequena homenagem ao grande Pessoa que nasceu a 13 de Junho de 1888 e morreu a 30 de Novembro de 1935, faz hoje 71 anos.

quarta-feira, novembro 29, 2006

Pôr do Sol

F Faz hoje precisamente três meses que me meti na aventura de ter um blogue.
Agradeço as 1.300 visitas feitas até agora e peço desculpa pelo tom melancólico da maioria das minhas postagens.

Para comemorar, escolhi uma fotografia tirada por mim no miradouro das Portas de Coimbra, final de um dos percursos sugeridos a partir do Palace Hotel do Buçaco.
O tempo não estava de grande feição mas a Mata do Buçaco merece a nossa visita em qualquer época do ano!

sexta-feira, novembro 24, 2006

Desencontro


Que língua estrangeira é esta
que me roça a flor do ouvido,
um vozear sem sentido
que nenhum sentido empresta?
Sussurro de vago tom,
reminiscência de esfinge,
voz que se julga, ou se finge
sentido, e é apenas som.
Contracenamos por gestos,
por sorrisos, por olhares,
rodeios protocolares,
cumprimentos indigestos,
firmes apertos de mão,
passeios de braço dado,
mas por som articulado,
por palavras, isso não.
Antes morrer atolado
na mais negra solidão.


Rómulo de Carvalho/António Gedeão nasceu a 24/11/1906. Faria hoje 100 anos.
Rómulo de Carvalho morreu, António Gedeão permanece!

quinta-feira, novembro 23, 2006

A morte não sai das ruas em Bagad



"É a guerra aquele monstro que quanto mais come e consome tanto menos se farta."

Padre António Vieira

Em Bagdad continua-se a morrer! Cada dia é mais sangrento que o anterior!

A morte não sai das ruas de Bagdad!

quarta-feira, novembro 22, 2006

Ó meu cogumelo preto


Ó meu cogumelo preto,
minha bengala vestida,
minha espada sem bainha
com que aos mouros arremeto.

Chapéu-de-chuva, meu Anjo,
que da chuva me defendes,
meu aonde pôr as mãos
quando não sei onde pô-las.

Ó minha umbrela - palavra
tão cheia de sugestões,
tão musical, tão aberta!

Meu pára-raios de Poetas,
minha bandeira da Paz
minha musa de varetas!

Sebastião da Gama


Nota:
Para animar os dias de chuva...

quarta-feira, novembro 15, 2006

Regresso ao sótão

O sótão já era, nessa época, um armazém de memórias, mas a noite de 2 de Dezembro de 2003 veio aumentar-lhe a capacidade de armazenagem.
Nessa noite a casa ficou parcialmente destruída e totalmente danificada por um incêndio. Salvou-se o sótão e foi para aí que foram levados alguns despojos.
Ontem voltei lá, para mais uma sessão de" exorcismo".
Era preciso separar por nomes, rasgar, limpar, encaixotar, arrumar em estantes livros escolares, álbuns de B.D., cadernos de apontamentos, testes, legos, jogos, índios e cow-boys, cartas, bilhetinhos..enfim um mundo de recordações.
Quilos e quilos de papel foram para a reciclagem...mas com tanta hesitação!...
É apenas papel - pensava eu.
Só que tomar esta decisão, quando a cada passo ia lendo um nome escrito com letra infantil, de adolescente e de jovem universitário foi uma agonia.
Esta manhã voltei ao sótão e o pior já está!
Tinha de ser!
E no jardim ainda há rosas!...

O Grito



O grito mais lancinante é aquele que ninguém ouve!

domingo, novembro 12, 2006

Atlântico

Mar,
Metade da minha alma é feita de maresia.

Sophia de Mello, in Poesia







Santa Eulália - Algarve

sábado, novembro 11, 2006

Mar


Já o vi com vários cambiantes de azul e verde, prateado, acinzentado, negro salpicado de estrelas pescadoras e até roxo. Mas nunca o tinha visto com uma imensa orla acastanhada desvanecida logo que a tempestade deu lugar à bonança .
Quando lhe lancei um último olhar, antes de regressar à serra, foi com um estontente azul turquesa que me presenteou.
E deixou-me, de novo, um pouco mais reconciliada com a vida!

sexta-feira, novembro 03, 2006

À espera de um sinal ao Sul

Vou partir rumo ao Sul
Sentar-me frente ao mar
E esperar
Que me dês algum sinal!

Pode ser
nuvem
estrela
gaivota
barco
concha
chuva
Seja o que for
Eu vou entender
Quando estiver
Frente ao mar
À espera
Do teu sinal...

quarta-feira, novembro 01, 2006

Dia do Bolinho

Neste dia 1 de Novembro, cumpriu-se mais uma vez a tradição e as crianças sairam de casa bem cedo, para pedirem o "Pão por Deus".
Mas a cidade dificulta-lhes a tarefa.
São prédios com muitos apartamentos, alguns vazios e elas já aprenderam que por aí não levam nada.
Optam pelas zonas de moradias onde as pessoas procuram estar presentes para as receber.
Contudo cada vez se vê menos criançada pelas ruas.
À minha porta não bateu ninguém!