domingo, setembro 21, 2025

Poesia ao domingo

 Canção de Outono


No entardecer da terra

O sopro do longo outono

Amareleceu o chão.

Um vago vento erra

Como um sonho mau num sono

Na lívida solidão.


Soergue as folhas e pousa

As folhas volve e revolve

Esvai-se ainda outra vez.

Mas a folha não repousa

E o vento lívido volve

E expira na lividez.


Eu já não sou quem era;

O que eu sonhei, morri-o;

E mesmo o que hoje sou

Amanhã direi: quem dera

Volver a sê-lo! mais frio

O vento vago voltou.



Fernando Pessoa

4 comentários:

  1. Outono, já?
    Pessoa, sempre!
    Abraço

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  2. O OUTONO 🍂 é exposto na música, na arte, na literatura, mas tem o seu papel principal na POESIA.

    Abraço-te, Leo, neste domingo frio e cinzento claro e canto 🎶

    “Eu gosto é do verão
    ……………………………………
    No outono a escola ameaça abrir
    No outono passo a noite a tossir
    No outono há folhas sempre a cair
    E a chuva faz os prédios ruir”

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  3. Que beleza de poema!... Se o lermos atentas e despertas, ao significado de cada estrofe.

    "Eu já não sou quem era;
    O que eu sonhei, morri-o;
    E mesmo o que hoje sou
    Amanhã direi: quem dera
    Volver a sê-lo!"...

    Acho que, pela primeira vez, entendi a dor que a alma de Pessoa sentiu!

    Grande abraço, Leo.

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  4. Talvez tivesse sido a sua instabilidade emocional que o inspirou a escrever poesia tão triste, tão melancólica.

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