quarta-feira, setembro 10, 2025

Singularidades

 O tratamento por você está generalizado, mas sempre me incomodou, porque em miúda me ensinaram que essa prática era deselegante.

O you tão funcional da língua inglesa e o vous dos francófonos não se aplicam à nossa língua, porque entre o tu e o vós ficamos meio "desasados".

O você refere-se a uma segunda pessoa, com quem não temos intimidade, que depois é seguida de um verbo na 3ª pessoa do singular, 

Exemplos. Você prefere peixe ou carne?; Você é primo do meu vizinho?; Você pode sentar-se onde quiser.

No norte ainda se usa o vós na segunda pessoa do plural, exemplo: Vós sois de onde? e nós usamos o vocês também nada elegante.

À vezes lá me escapa um vocês e peço logo desculpa, substituindo por senhores, senhoras, caros ouvintes, etc. .

Quando me dirijo a alguém com quem não tenho intimidade uso normalmente o nome da pessoa, ou o senhor ou senhora seguidos também do verbo na 2ª pessoa do singular.

Singularidades da nossa língua.

O você do português do Brasil ainda veio complicar mais estas formas de tratamento.

Tudo isto a propósito de duas frases encontradas no livro de Mário de Carvalho que estou a ler.

"O licenciado Joel Strosse Neves dificilmente suportava que, fora de uma leve intimidade, um desconhecido o tratasse por você. Você é estrebaria, sete fardos por dia..."


E ainda me lembrei de uma colega do norte que, perante o você, retorquia sempre: -Você é estrebaria! Mas não acrescentava o resto. 

20 comentários:

  1. Quase sempre substituo o 'você' por senhor ou senhora.
    O que, de todo, não se deve usar é o termo 'vocês'.
    Agradeço os ensinamentos.
    Abraço

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  2. „Você é estrebaria“ — dizia o meu avô materno.
    Que ninguém se atreva a tratar-me por „você“.
    O detesto absolutamente a língua brasileira.

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    1. Na residência sénior onde estive as funcionárias portuguesas tratavam os utentes por você, as brasileiras e as cabo-verdianas usavam a senhora, o senhor.
      Pensei chamar a atenção das jovens técnicas superiores, mas verifiquei que também usavam o você.
      Nada a fazer, quando o exemplo vem de cima.
      Detesto esse tratamento, mas está a generalizar-se nas camadas mais jovens.

      Abraço

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  3. Estou de saída. Mais tarde escreverei o meu comentário. Um longo comentário! :)

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  4. A palavra "você" deriva da expressão "vossa mercê".
    Com o tempo, "vossa mercê" evoluiu para "vossemecê", "vosmecê" e, finalmente, para "você".
    Aqui no norte ainda é habitual "tratar" os mais velhos por "você". Por exemplo: -Na minha infância era uma falta de educação tratar os pais, tios ou avôs por "tu".
    https://rabiscosdestorias.blogspot.com

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    1. Eu conheço a evolução.
      Eu tratava os meus avós por vossemecê.
      O tratamento por tu em relação aos familiares mais velhos é relativamente recente.
      Os meus filhos já são dessa geração, bem como os meus netos, mas não usam o você.

      Abraço

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  5. Eu sempre tratei a minha mãe por „tu“.
    O meu pai morreu, quando eu tinha cinco meses.
    Aos meus tios e avós tratava-os por „senhor“ e „senhora“.
    Quando me casei comecei a tratar os meus sogros por „senhor“ e „senhora“, mas eles não aceitaram esse tratamento português e depois passei a tratá-los por „tu”.

    Abraço nesta quarta-feira quente e risonha ☀️

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    1. Quando me casei, fiz o mesmo que tu e os meus sogros para se dirigirem a mim diziam o meu nome.
      Actualmente só a minha cunhada mais nova, que tinha 8 anos quando casei e depois foi minha aluna nunca conseguiu tratar-me por tu, já as filhas, o marido e os companheiros das filhas tratam-me por tu.
      Singularidades familiares! 😀

      Abraço

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    2. Os meus sogros eram alemães e a família é tratada por “tu”.

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  6. Tal qual a minha saudosa mãe sempre me ensinou.
    "Você é estrebaria"...As pessoas têm nome.
    Mas também varia muito de terra para terra.
    Em relação ao meu avô, eu, e todos os netos, mesmo os mais crescidos, pedíamos-lhe a bênção " Sua bença, avô". E ele estendia-nos a mão para receber o beijo, como Patriarca da família, que era.
    Hoje, os meus netos tratam-me por 'tu'. Felizmente!! :))
    Sinais da evolução dos tempos! :)
    Abraço

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    1. Eu também pedia a bênção ao meu avô paterno, mas não pedia à avó. De facto ele era o Patriarca!
      Do lado materno não havia esse protocolo. 😀

      Abraço

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    2. Nunca pedi a benção a ninguém.

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  7. Eu costumava dizer aos meus alunos que havia um você na linha de Cascais, mas esse era chique!
    Os pais tratam os filhos por você e vice-versa!
    Você está a ver? 😀

    Abraço

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  8. Incluir o pronome “você na conjugação dos verbos é relativamente recente.
    No Algarve, não ficava bem usar esta forma de tratamento. Os filhos não usavam você, mas sim o laço de parentesco, “mãe, quer um copo de água”. Já algumas pessoas do norte pronunciavam muito bem o você quando se dirigiam ao pai ou à mãe.
    Tutear os nossos pais (eu e o meu irmão) foi natural para nós. Contava-se que um dia uma vizinha intrometida se referiu a esta forma de tratamento e que a minha mãe, muito habilmente, defendeu a sua teoria. : )
    “Você é estrebaria” não conhecia, mas por associação e dentro do contexto, compreendi o sentido e confirmei a origem da expressão com o nosso amigo Google.
    Também havia o trato de você na terceira pessoa de pais para filhos: “ Mariazinha, a menina quer lanchar agora?” Snobismo no seu melhor? Ou apenas características culturais? Há quem defendesse as duas opiniões.
    Agora aqui no meu querido Canadá, preferimos tratar toda a gente pelo nome próprio. Não foi fácil para mim na altura, vinda de um país com tantos floreados no trato, mas gradualmente integrei-me. : ) Até garotos me tratam pelo nome próprio e pessoas que me vêm pela primeira vez. No ambiente de trabalho esta informalidade transmite igualdade. Tal com em qualquer situação, há exceções onde usamos os títulos académicos e os títulos de acordo com o alto cargo que desempenham.
    Na verdade, o “you” simplifica tudo. : )

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  9. O meu comentário aqui no word não me parecia tão longo!

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  10. Li os comentários. Nós não tínhamos esse hábito de pedir a bênção. Agora pensando nisso, considero um hábito muito carinhoso e respeitoso.

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  11. Correção ... que me VÊEM pela primeira vez...
    Quero mostrar que ainda sei escrever português. : ))

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