domingo, setembro 28, 2025

Poesia ao domingo

 Nasceu-te um filho


Nasceu-te um filho. Não conhecerás,

jamais, a extrema solidão da vida.

Se a não chegaste a conhecer - já não conhecerás


a dor terrível de a saber escondida

até no puro amor. E esquecerás,

se alguma vez adivinhaste a paz

traiçoeira de estar só, a pressentida,


leve e distante imagem que ilumina

uma paisagem mais distante ainda.

Já nenhum astro te será fatal.


E quando a Sorte julgue que domina,

ou mesmo a Morte, se a alegria finda

- ri-te de ambas, que um filho é imortal.


Jorge de Sena, in " Visão Perpétua"


PS - Porque hoje seria o seu aniversário!

sexta-feira, setembro 26, 2025

Música à sexta



Homenagem a Cláudia Cardinale que partiu a 23 deste mês.

quarta-feira, setembro 24, 2025

Cinema

 Emir Kusturica é um cineasta e músico sérvio.

Com uma expressiva sequência de trabalhos internacionalmente aclamados, é visto como um dos mais criativos diretores de cinema dos anos oitenta e noventa.

Recebeu duas vezes a Palma de Ouro bem como a comanda francesa da Ordre des Arts et des Lettres.

Vi na segunda-feira, num horário que me levou para a cama depois da 1h e meia, o seu filme Underground ou Era uma Vez um País e pude, de novo,  constatar a sua originalidade.

Tendo como cenário a Jugoslávia, durante a 2aª Guerra Mundial, alia a cenas de uma enorme comicidade a tragédia de um território destruído. e com milhares de mortos.

Como músico introduz sempre uma sonoridade com um ritmo frenético, alucinante mesmo, mas também músicas da época em tom bem nostálgico.

É uma fábula apaixonante e metafórica  sobre o destino trágico da Jugoslávia, vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1995.

Um "partisan" engana o seu maior amigo e restantes companheiros, mantendo-os numa cave mesmo após o final da guerra, convencendo-os que a luta continua e lucrando com o tráfico de armas.

No meio do cómico de muitas cenas também surge o elemento mágico que dão ao filme um tom de estranheza que se entranha.

domingo, setembro 21, 2025

Poesia ao domingo

 Canção de Outono


No entardecer da terra

O sopro do longo outono

Amareleceu o chão.

Um vago vento erra

Como um sonho mau num sono

Na lívida solidão.


Soergue as folhas e pousa

As folhas volve e revolve

Esvai-se ainda outra vez.

Mas a folha não repousa

E o vento lívido volve

E expira na lividez.


Eu já não sou quem era;

O que eu sonhei, morri-o;

E mesmo o que hoje sou

Amanhã direi: quem dera

Volver a sê-lo! mais frio

O vento vago voltou.



Fernando Pessoa

sábado, setembro 20, 2025

Autárquicas

 Vamos ter eleições Autárquicas no próximo dia 12 de outubro e a campanha eleitoral já mexe.

De novo, depois de alguns anos de interregno, eis-me envolvida na campanha no meu concelho e, sobretudo, na minha freguesia.

Numa terra onde o Chega conseguiu uma percentagem de votos superior ao nível nacional, torna-se premente uma campanha esclarecedora, criativa e com gente que já deu provas em várias áreas profissionais e sem telhados de vidro.

O Chega é uma séria ameaça à nossa democracia, há que combatê-lo com o exemplo da dignificação da política, sem o nomear. Quanto mais se falar dele, pior.

sexta-feira, setembro 19, 2025

Música à sexta

E vem aí o outono!


quarta-feira, setembro 17, 2025

Doce Setembro

 Setembro vai anunciando a chegada do outono, mas, por enquanto, os dias ainda estão luminosos e apetece acrescentar-lhes doçura.

Um dos meus pessegueiros deu fruta para dar e vender, fiz doce de pêssego, deram-me figos e transformei-os em doce.

Hoje, uma boa alma veio trazer-me um poceiro de maçãs de uma das minhas propriedades, já que estou impossibilitada de ir apanhá-las. Claro que serão transformadas em doce, mas talvez também faça umas tartes.

Adoro o cheiro adocicado que se espalha pela casa, durante estas minhas tão pouco habituais aventuras culinárias.

segunda-feira, setembro 15, 2025

Leituras

 O romance "Lillias Fraser" de Hélia Correia despertou-me um enorme interesse.

Começa com  a batalha de Culloden, na Escócia onde os escoceses católicos se opõem aos ingleses protestantes, numa tentativa de colocarem no trono o católico Charles Stuart.

A batalha resultou numa carnificina que matou vários clãs e levou "à deportação em massa dos escoceses para o novo mundo."

Tive que fazer consultas para entender esta luta.

Do massacre salvou-se uma menina loira, de olhos cor de mel que tinha o condão de adivinhar a morte dos que a rodeavam.

Depois de várias mudanças, vamos encontrar a protagonista em Lisboa, num convento de religiosas inglesas nas vésperas do terramoto de 1755. Adivinhando esse cataclismo, sai da cidade e chega a Mafra, cujo convento permanece de pé.

Regressa a Lisboa e visualizamos o horror da morte, da destruição e a ação do  Ministro, como construtor da cidade e perseguidor dos Távoras, entre outras vítimas.

Para abreviar Lillias Fraser, pela mão de Blimunda Sete-Luas, atravessa o Alentejo para ir dar à luz na terra de ninguém, entre Portugal e Espanha. 

E foi assim o seu encontro.

" A criança está bem. De hoje em diante, eu tomo conta de vocês as duas.

- Que criança, senhora? - disse Lillias.

- A que tu Lillias Fraser, vais parir.

- Como pode sabê-lo?

- Vejo dentro do corpo das pessoas quando estou em jejum - explicou Blimunda.

- Eu vejo a morte - disse Lillias.


Peço desculpa pelo atabalhoado do resumo, mas de facto a obra é interessantíssima do ponto de vista histórico.

domingo, setembro 14, 2025

Poesia ao domingo

Natália Correia nasceu, nos Açores,  a 13 de setembro de 1923 e é um vulto assinalável e desassombrado da nossa literatura.

Hoje recordo-a.


Há noites...


Há noites que são feitas dos meus braços

e um silêncio comum às violetas

e há sete luas que são sete traços

de sete noites que nunca foram feitas.


Há noites que levamos à cintura

como um cinto de grandes borboletas.

E um risco de sangue na nossa carne escura

de uma espada à bainha de um cometa.


Há noites que nos deixam para trás

enrolados no nosso desencanto

e cisnes brancos que só são iguais

à mais longínqua onda de seu canto.


Há noites que nos levam para onde

o fantasma de nós fica mais perto:

e é sempre a nossa voz que nos responde

e só o nosso nome estava certo. 

sábado, setembro 13, 2025

Setembro

 Nos setembros da minha infância e adolescência ainda se fazia praia, porque as aulas começavam em outubro e eram belas tardes em jogos de grupos de amigos que passavam de um ano para o outro e dos banhos de sol a comer pastéis de nata ou bolas de Berlim.

Era também tempo de vindimas e, como o meu avô paterno tinha pelo menos três vinhas, pude participar nessa atividade muitas vezes. Eram umas uvas deliciosas e, tanto eu como os meus primos, comíamos mais do que apanhávamos.

A avó guardava as mais especiais para pendurar no celeiro, onde lentamente, se iam transformando em passas, enquanto em cima de uma enorme arca repousavam figos, maçãs e peras. Cheirava a outono quando lá entrávamos.

Agora, os meus netos já tiveram ontem a abertura do ano letivo e não demonstram grande entusiasmo em regressar à escola.

Lembro-me de estar ansiosa pelo começo das aulas, depois de três meses de férias, sobretudo no colégio que frequentei em regime de internato. Tínhamos tantas novidades para contar às amigas, os primeiros namoricos, os novos amigos que fizemos na praia, a arrumação da nossa cama no dormitório, vermos quem iria dormir ao nosso lado, vermos a nossa posição na sala de aula e arrumarmos os novos livros dentro da carteira.

Atualmente, não chegam a sentir saudades dos amigos, graças ou "desgraças" aos telemóveis, porque estão sempre em contacto com conversas e jogos.

Outros tempos, outros passatempos, tudo muda e nós também.

sexta-feira, setembro 12, 2025

Música à sexta











Rick Davies foi vocalista, teclista e cofundador da banda Supertramp.
Faleceu no sábado, dia 6 de setembro.

quinta-feira, setembro 11, 2025

Cretinices

 André Ventura vociferou contra a ida do PR à Alemanha ao Bürgerfest, em Berlim,  confundindo este festival com um festival de hambúrgueres.

Está cada vez mais demagogo e há quem vá nas suas patranhas!

Consegui introduzir o trema!

quarta-feira, setembro 10, 2025

Singularidades

 O tratamento por você está generalizado, mas sempre me incomodou, porque em miúda me ensinaram que essa prática era deselegante.

O you tão funcional da língua inglesa e o vous dos francófonos não se aplicam à nossa língua, porque entre o tu e o vós ficamos meio "desasados".

O você refere-se a uma segunda pessoa, com quem não temos intimidade, que depois é seguida de um verbo na 3ª pessoa do singular, 

Exemplos. Você prefere peixe ou carne?; Você é primo do meu vizinho?; Você pode sentar-se onde quiser.

No norte ainda se usa o vós na segunda pessoa do plural, exemplo: Vós sois de onde? e nós usamos o vocês também nada elegante.

À vezes lá me escapa um vocês e peço logo desculpa, substituindo por senhores, senhoras, caros ouvintes, etc. .

Quando me dirijo a alguém com quem não tenho intimidade uso normalmente o nome da pessoa, ou o senhor ou senhora seguidos também do verbo na 2ª pessoa do singular.

Singularidades da nossa língua.

O você do português do Brasil ainda veio complicar mais estas formas de tratamento.

Tudo isto a propósito de duas frases encontradas no livro de Mário de Carvalho que estou a ler.

"O licenciado Joel Strosse Neves dificilmente suportava que, fora de uma leve intimidade, um desconhecido o tratasse por você. Você é estrebaria, sete fardos por dia..."


E ainda me lembrei de uma colega do norte que, perante o você, retorquia sempre: -Você é estrebaria! Mas não acrescentava o resto. 

terça-feira, setembro 09, 2025

Leituras

 Lisboa, por más razões, está na berra.

Mas não vou por aí.

Concluído o livro de Ana Margarida Carvalho "Que Importa a Fúria do Mar" que me levou até aos horrores do Tarrafal, peguei ao acaso no "Era Bom Que Trocássemos Umas Ideias Sobre o Assunto" de Mário e Carvalho, pai de referida escritora.

Logo nas primeiras páginas surge uma descrição de Lisboa que  achei absolutamente pictórica.


"Quanto à cor de Lisboa, de tons sempre variáveis com o fluir das estações e os caprichos dos sóis de das atmosferas, disponho-me a jurar e a declarar notarialmente que branca não é. Basta subir-se ao miradouro da Senhora do Monte, ali a S. Gens, ou ao terraço do Hotel Sheranton, ou àquele enorme edifício azul que fecha a Alameda D. Afonso Henriques nos altos da Barão de Sabrosa, ou mesmo ao humilde convés dum cacilheiro, para poder verificar que a cidade, descontando o grená rugoso dos telhados, varia entre os rosas-suaves, os verdes-esbatidos, os amarelos doces, em milhentas tonalidades que não fazem mal à vista. Lá terá as suas brancuras aqui e além, mas estão precisamente colocadas, para compor o todo."


Prefiro pensar em Lisboa assim!

segunda-feira, setembro 08, 2025

Citação

 "Um ser humano verdadeiramente vivo não pode permanecer neutral."


Nadine Gordimer

(1923 - 2019)


Escritora sul-africana, Prémio Nobel da Literatura em 1991

domingo, setembro 07, 2025

Poesia ao domingo

 Vento no Rosto


À hora em que as tardes descem, 

noite aspergindo nos ares,

as coisas familiares

noutras formas acontecem.


As arestas emudecem.

Abrem-se flores nos olhares.

Em perspetivas lunares

lixo e pedras resplandecem.


Silêncios, perfis de lagos,

escorrem cortinas de afagos,

malhas tecidas de engodos.


Apetece acreditar,

ter esperanças, confiar,

amar a tudo e a todos.


António Gedeão, in Poesias Completas

sábado, setembro 06, 2025

Solidariedade


 

Tenho o lenço palestiniano há muito tempo e nem sei dizer como é que veio parar às minhas mãos.

Sei que tem significados diferentes para as cores de cada um.

Se começou por ser um lenço usado só por homens, essa prática alterou-se.

O meu kufiya é branco, preto e cinzento, como podem ver.

Estou a usá-lo como forma de mostrar a minha solidariedade com o povo mártir da Palestina e não por exibicionismo.

Cada um se manifesta de acordo com os meios e a sensibilidade que tem.

sexta-feira, setembro 05, 2025

Música à sexta



Neste tempo de tristeza e de dor os "Deolinda", num cenário de uma Lisboa serena, convidam-nos a brincar, a aproveitar o que de bom há na vida!

quinta-feira, setembro 04, 2025

Elevador da Glória



O elevador da Glória é um dos icónicos ascensores de Lisboa, cidade de sete colinas.

Este elevador liga a Praça dos Restauradores ao Miradouro de S. Pedro de Alcântara, um dos mais espetaculares da cidade, ao popular Bairro Alto e ainda ao Chiado, daí ser muito usado por turistas , mas também por portugueses residentes ou de visita.

É um elevador que conheço bem e que já utilizei várias vezes, nunca me passando pela cabeça que pudesse  ocorrer um acidente.

Inaugurado em 1885, tragicamente teve ontem um descarrilamento que fez 16 vítimas mortais e muitos feridos.

A cidade e o país estão de luto.

 

quarta-feira, setembro 03, 2025

RTP2

 Hotel  Europa


Sou fã das séries da RTP2, daí ter seguido com muito interesse "Hotel Europa" que teve apenas dois episódios. Começou na segunda e terminou ontem.

A história começa em 1918, com o final da guerra e o regresso do jovem Emil à casa de família, um belo castelo transformado em hotel.

A narrativa é passada no período  entre as duas guerras e acompanha os sonhos, as fragilidades e os destinos da família Dreesen e baseia-se em factos reais.

Embora se situe nesse período da história da Alemanha, concretamente à beira do Reno, na Renânia ocupada pelos vencedores franceses, aborda questões que continuam atuais: racismo, antissemitismo, emancipação feminina, violência contra as mulheres, amor entre pessoas do mesmo sexo e a busca por novos modos de vida, numa luta entre o conservadorismo/nacionalismo do chefe da família e a abertura a novos conceitos de lazer, de entretenimento por parte de Emil, da irmã e da avó.

Perseguido por uma morte que cometeu durante a guerra na frente de batalha, o jovem Emil acaba por se juntar aos que fogem do início do nazismo.


terça-feira, setembro 02, 2025

Citação

 Ainda com Fernando Luís Veríssimo bem presente.


"Conhece-te a ti mesmo, mas não fique íntimo."


Como interpretam esta citação?

segunda-feira, setembro 01, 2025

Leituras

O meu filho mais velho, que habita no meu coração e na minha memória, tinha um humor muito especial e marcava o seu falar por palavras que eu desconhecia. Limitava-me a deduzir o seu significado pelo contexto.

Uma dessas palavras era "Beleléu" .

Com a morte do escritor brasileiro Luís Fernando Veríssimo fiquei a saber pelo Facebook o que significava para ele:

BELELÉU - Lugar de localização indefinida. Em alguns mapas fica além das Cucuias; em outros faz fronteira com Cafundó do Judas e Raio Que os Parta do Norte. Beleléu  tem algumas características estranhas. Nenhum dos seus matos tem cachorro, todas as suas vacas estão no brejo - e todos os seus economistas são brasileiros.


P.S. Achei uma delícia a definição desta palavra tão usual no léxico do meu filho.

domingo, agosto 31, 2025

Poesia ao domingo

 Serenata


Dize-me tu, montanha dura,

onde nenhum rebanho pasce,

de que lado na terra escura

brilha o nácar da sua face.


Dize-me tu, palmeira fina, 

onde nenhum pássaro canta, 

em que caverna submarina

seu silêncio em corais descansa.


Dize-me tu, ó céu deserto,

dize-me tu se é muito tarde,

se a vida é longe e a dor é perto

e tudo é feito de acabar-se.



Cecília Meireles, in Antologia Poética


sábado, agosto 30, 2025

Olhares



À procura de uma legenda!

 

sexta-feira, agosto 29, 2025

Música à sexta

A 29 de agosto de 1966, The Beatles deram o seu último concerto.



quarta-feira, agosto 27, 2025

Enigma


 

Os enigmas já não têm graça porque o Lens responde a tudo, daí que seja apenas uma brincadeira.

Onde é que almocei ontem com os meus rapazes?


segunda-feira, agosto 25, 2025

Leituras

 



Voltei a este livro que nos fala da revolta dos vidreiros na Marinha Grande, mas não só.

Cada capítulo é iniciado com uma citação.

Escolhi esta.


Porque a gente que viu pouco do mundo, como viu pouco, também costuma dar pouco crédito ao muito que os outros viram.


Fernão Mendes Pinto

domingo, agosto 24, 2025

Poesia ao domingo

E por Vezes


E por vezes as noites duram meses

E por vezes as noites oceanos

E por vezes os braços que apertamos

Nunca mais são os mesmos  E por vezes


 encontramos de nós em poucos meses

o que a noite nos fez em muitos anos

E por vezes fingimos que lembramos

E por vezes  lembramos que por vezes


ao tomarmos o gosto dos oceanos

só o sarro das noites não dos meses

lá no fundo dos copos encontramos


E por vezes sorrimos ou choramos

E por vezes por vezes ah por vezes

num segundo se evolam tantos anos


David Mourão-Ferreira, in "Matura Idade"



sexta-feira, agosto 22, 2025

quinta-feira, agosto 21, 2025

Olhares

 Servem-nos à mesa e são imigrantes, os tais que segundo versões da extrema-direita e de muitos que acreditam nas fake news , vieram para Portugal para terem casas de graça, bons subsídios, prioridade para os filhos nas creches e escolas e no SNS e os que trabalham vieram tirar o emprego aos portugueses.

São do Chile, do Nepal, do Paquistão, do Brasil, da Alemanha, dos PALOP e trabalham arduamente no atendimento de turistas de todas as nacionalidades.

Aqueles que não falam português já conseguem entender-nos e são todos de uma enorme simpatia.

Com os seus descontos para a Segurança Social estão a contribuir para as reformas de milhares de portugueses.

Contudo precisam de habitação condigna, ordenados de acordo com as tabelas salariais praticadas e de mais compreensão e humanismo da parte de um povo de emigrantes.

terça-feira, agosto 19, 2025

Olhares



Eu sei que os tempos não estão fáceis, mas não resisti a este bom conselho encontrado numa esplanada!
 

domingo, agosto 17, 2025

Poesia ao domingo

 Liberdade


Aqui nesta praia onde

Não há vestígio de impureza,

Aqui onde há somente

Ondas tombando interruptamente

Puro espaço e lúcida unidade, 

Aqui o tempo apaixonadamente

Encontra a própria liberdade.


Sophia de Mello Breyner Andersen

sexta-feira, agosto 15, 2025

quarta-feira, agosto 13, 2025

Escapadela cultural



Ontem, ao fim da tarde, fui a Ourém onde, na sua Biblioteca Municipal, assisti a uma belíssima sessão sobre Miguel Torga, precisamente no dia em que nasceu em S. Martinho da Anta, em 1907.
Elsa Ligeiro é uma excelente comunicadora, sabe imenso sobre a vida e obra deste vulto enorme da nossa literatura e a conversa fluiu de forma muito natural.
Também foi daqueles intelectuais que foram parar ao Aljube, no tempo da ditadura.
Até fui convidada a ler três dos seus poemas, o que me deixou lisonjeada.
Apesar de ser numa admiradora da sua poesia, o que esteve mais em foco foram os contos, sobretudo "Os Bichos".
Conheço a Casa-Museu em S. Martinho da Anta, mas não conheço a de Coimbra.
Ir a Ourém é também uma ótima oportunidade de distribuir alguns abraços por amigas que lá tenho. 





 

segunda-feira, agosto 11, 2025

Música

 Esta semana que passou, tive uma experiência única.

Fui à minha atual esteticista que canta no coro da santa terrinha e ainda numa das muitas capelas que por cá existem.

Ela sabe que eu também já pertenci a um coro, daí gostar muito de cantar.

Falei-lhe da minha manhã de cantorias, tipo Karaoke , e ela perguntou-me o que tinha cantado.

Daí a pouco estávamos as duas a cantar Carlos do Carmo, Rui Veloso e Amália.

No fim, presenteou-me com a Nella Fantasia, na sua voz de soprano.

Uma maravilha!

domingo, agosto 10, 2025

Poesia ao domingo

Intermezzo

Hoje não posso ver ninguém:
sofro pela Humanidade.
Não é por ti...
Nem por ti...
Nem por ti...
Nem por ninguém.
É por alguém.
Alguém que não é ninguém,
mas é toda a Humanidade.

                                                          

António Gedeão

sexta-feira, agosto 08, 2025

Música à sexta


Com o desejo de um feliz tempo de verão!






quinta-feira, agosto 07, 2025

Leituras

 Hoje encontrei, no Facebook de uma antiga aluna, referências à leitura de Annie Ernaux.

Quis comentar que também conhecia a escritora francesa, Prémio Nobel da Literatura em 2022, mas não me lembrava dos títulos.

Tirei-me dos meus cuidados e fui à estante principal da casa procurar por Annie Ernaux.

Pensava eu que tinha a estante minimamente organizada, quer dizer: literatura portuguesa, literatura brasileira, literatura de expressão portuguesa de África, poesia portuguesa, literatura francesa, em francês e finalmente literatura estrangeira.

Mas qual quê?!

Dei com uma enorme confusão, livros misturados sem qualquer critério  e nada de encontrar o que queria.

Às tantas lembrei-me de me baixar até às pilhas de livros que já não cabem na horizontal e esperam que eu lhes dê um lugar digno.

E foi aí que encontrei o que queria: " Uma Paixão Simples ", em português e La Place, em francês.

Tenho mesmo que dar um jeito a tamanho caos literário.

quarta-feira, agosto 06, 2025

Escapadela cultural



Integrada na associação SEMPRAUDZ, de Leiria, pude alargar um pouco os meus conhecimentos, já que vivo numa terra que pouco ou nada me oferece.
A visita começou pelo Museu do Vidro que "conta" todo o percurso do vidro na cidade vidreira da Marinha Grande.












Depois seguimos para o Museu Joaquim Correia, ilustre escultor marinhense.





Após de um excelente almoço num hotel da cidade, seguimos para S. Pedro de Moel.
Aí fizemos uma visita encenada muito interessante, à Casa Museu de Afonso Lopes Vieira.
Um ator no  papel do poeta e uma atriz no papel de Amélia Rey Colaço,  jovem filha de um querido amigo do poeta, representaram algumas cenas da sua vida.
Na capela, ficámos a saber por Amélia Rey Colaço que Afonso Lopes Vieira é o autor da letra do cântico mais ouvido em Fátima.
Já depois, dentro da casa, na sala virada ao mar, fomos recebidos pelo "Senhor Doutor" que se apresentou.
Tirou o curso de Direito em Coimbra, por imposição do pai, com a "excelente nota de 10" e mesmo assim à custa do seu colega de quarto.
Ele tinha nascido para poeta e nada queria com leis.
Foi ele que "traduziu" para o português moderno Os Lusíadas que, devido ao português do Séc. XVI, era absolutamente ilegível para um leitor comum.
Soubemos ainda que alguns dos seus escritos deram origem a visitas da PIDE e chegou a estar preso devido a poemas abertamente críticos de Salazar.
Esteve apenas uma semana preso, graças ao empenho de amigos bem colocados
Não foi possível tirar fotos dentro da casa, porque estavam em remodelação para jantares culturais.
Eu já conhecia a casa, mas, por falta de fotos, deixo-vos com o mar de S. Pedro cujo marulhar nos acompanhou durante toda a visita.









domingo, agosto 03, 2025

Poesia ao domingo

 Renúncia


Como nunca vieste, já não venhas.

O mais rico tesouro é o que se nega.

Ágil veleiro doutros mares, navega 

Com as asas que tenhas!


Foge de ti, porque de mim fugiste.

Alarga a solidão que me consome.

E apaga na memória a praia triste

Onde eu pergunto às ondas o teu nome


Miguel Torga

sexta-feira, agosto 01, 2025

Música à sexta


Às vezes esperamos por um milagre que tarda!



terça-feira, julho 29, 2025

Homenagem

 O fisioterapeuta que me acompanha já nasceu no séc. XXI.

É um jovem simpático, exigente, mas vai elogiando os meus avanços.

Às vezes falamos de música e ele conhece as grandes bandas e os seus vocalistas dos anos 60, 70, 80 do séc. passado, enquanto eu sou quase ignorante em relação aos músicos e bandas da atualidade.

A minha admiração por estes jovens, que ele representa, é enorme pois, "lá fora", ganhariam muito mais, mas mantêm-se firmes no seu posto de trabalho, procurando minimizar a falta de bons técnicos nesta área e noutras relacionadas com a saúde e o bem-estar dos mais velhos e não só.

Ele está consciente das dificuldades em ter casa própria entre outras dificuldades, mas continua a sorrir e a dizer que o dinheiro não é tudo.

domingo, julho 27, 2025

Poesia ao domingo

 Onda que, enrolada, tornas

Pequena, ao mar que te trouxe

e ao recuar te transtornas

Como se o mar nada fosse.


Porque é que levas contigo

Só a tua cessação,

E, ao voltar ao mar antigo,

Não levas o meu coração?


Há tanto tempo que o tenho

Que me pesa de o sentir.

Leva-o no som sem tamanho

Com que te oiço fugir!


Fernando Pessoa

sexta-feira, julho 25, 2025

Música à sexta

Estive para colocar uma música dos Coldplay que tanto incendiaram as redes sociais, devido ao par que se colocou a jeito.
Confesso que conhecia as suas músicas, mas desconhecia o nome do grupo.
Como o Pedro Coimbra parodiou hoje o tal par apanhado em flagrante delito no telão como dizem os nossos irmãos brasileiros, decidi-me pelo Sérgio Godinho.
Talvez já o tenha colocado por aqui, mas adoro esta versão do poema de Pedro Homem de Mello.





quarta-feira, julho 23, 2025

Citação

 Não é bem uma citação, é mais uma transcrição.


" E foi a notar as mãos cheias de vermelhidão que deu pela aliança. Durante este transe todo, nem se lembrara de que tinha ali aquela argola absurda no anelar, só porque os gregos acreditavam que por aquele dedo passava uma veia que ia direita ao coração e o catolicismo tinha este hábito milenário de vampirizar tudo o que era costume pagão."


In, Que Importa a Fúria do Mar


PS - Por acaso já tinham ouvido falar desta crença dos gregos?

Que há algumas festividades no catolicismo que imbricam em costumes pagãos , é do conhecimento de todos, mas disto nunca tinha ouvido falar.


PS. 

terça-feira, julho 22, 2025

Leituras


 

Há dias declarei que estava com dificuldades em ler mais do que um livro ao mesmo tempo.

Afinal essa dificuldade ou falta de vontade durou pouco, porque retomei a leitura deste romance que repousava na minha mesa de cabeceira.

É um romance de estreia desta autora.

A ação começa com uma viagem de comboio dos revoltosos da Marinha Grande, a 18 de janeiro de 1934, a caminho do degredo em Cabo Verde onde irão "inaugurar" o campo do Tarrafal.

Desenrola-se nesse longínquo passado e chega ao presente pelas mãos de uma jornalista que vai entrevistar o único sobrevivente dessa infernal prisão.

E mais não digo!


domingo, julho 20, 2025

Poesia ao domingo


Escrito no Muro

 

Procura a maravilha.


Onde a luz coalha

e cessa o exílio.


Nos ombros, no dorso,

nos flancos suados.


Onde a boca sabe

a barcos e bruma.


Ou a sombra espessa.


Na laranja aberta

à língua do vento.


No brilho redondo

e jovem dos joelhos.


Na noite inclinada 

de melancolia.


Procura.


Procura a maravilha.



Eugénio de Andrade


Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontinhas, nasceu na Póvoa da Atalaia, Fundão a 19 de janeiro de 1923 e morreu no Porto a 13 de junho de 2005.


A escolha do poema tem a ver com o tema "Procura a maravilha".

Onde é que eu procuro a maravilha?

Na música no sossego das tardes, na rosa que floresce no canteiro que vejo logo de manhã, nos dois pêssegos que pendem quase maduros, nos comentários dos meus amigos!

sexta-feira, julho 18, 2025

Música à sexta

Os The Doors eram a banda preferida dos meus filhos, embora ainda não fossem nascidos no auge desta banda rock.
Jim Morrison, vocalista e autor da maior parte das suas letras, morreu aos 27 anos em Paris, em 1971 e foi sepultado no cemitério do Père Lachaise.
Nunca se chegou a saber bem a causa da sua morte por não ter havido autópsia, mas constava que tinha sido provocada por overdose de álcool e drogas.
Quando fui a Paris com o meu filho mais novo, que tinha terminado o 12º ano com excelente média, ele convenceu-me a visitar a sua sepultura. Eu apanhei uma estafa porque me fartei de andar a pé e ele apanhou uma enorme desilusão ao ver o estado de abandono em que se encontrava o túmulo do seu cantor preferido.
Esta escolha é uma espécie de memória familiar! 





quinta-feira, julho 17, 2025

Leituras



Estou a perder a capacidade ou talvez a vontade de ler mais do que um livro de cada vez.
Assim, e embora tenha outros na mesa de cabeceira, embrenhei-me na leitura deste que será a obra a analisar no Clube de Leitura de Setembro.
A autora criou a história a partir de um cartão de visita, com mais de cem anos, que encontrou numa gaveta na casa de família. No cartão estava escrito o nome de Anna Allavena - Carteira que era a sua bisavó.
Por vir do norte de Itália para o sul, Anna era considerada forasteira e vista com bastantes preconceitos pelos habitantes da aldeia, devido ao seu comportamento desassombrado.
A narrativa é fluida, lê-se bem, contudo ainda não lhe encontrei qualidade literária ou então estou a ser demasiado exigente.
Para tempo de verão até não está mal!



 

quarta-feira, julho 16, 2025

Reflexão

 Não sou pessoa de me queixar por aqui, mas faz hoje um ano que fui parar ao hospital com uma grave hemorragia gástrica.

Depois de estabilizada e de algumas doses de sangue, regressei a casa passados oito dias, só que daí a três dias caí e parti uma perna.

Não houve férias na praia e tudo se complicou para o meu filho e a minha irmã que me visitava,  diariamente, na residência sénior onde estive seis meses em recuperação que não foi total.

Até hoje ainda não me livrei da canadiana na rua, embora esteja a fazer fisioterapia com exercícios bem duros. 

Interrogo-me como teria evoluído a minha vida se estes percalços não tivessem acontecido.

domingo, julho 13, 2025

Poesia ao domingo

 Ser Poeta



Ser poeta é ser mais alto, é ser maior

Do que os homens! Morder como quem beija!

É ser mendigo e dar como quem seja

Rei do Reino de Aquém e de Além-Dor!


É ter de mil desejos o esplendor

E não saber sequer que se deseja!

É ter cá dentro um astro que flameja,

É ter garras e asas de condor!


É ter fome, é ter sede de Infinito!

Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...

É condensar o mundo num só grito!


E é amar-te,  assim, perdidamente...

É seres alma, e sangue, e vida em mim

E dizê-lo cantando a toda a gente!


Florbela Espanca


Nasceu mulher num tempo e num espaço pequenos de mais para a conter

É uma mulher para além do seu tempo.


P. S. Podem aproveitar para ouvir Luís Represas e os Trovante na magnífica interpretação deste soneto.

quarta-feira, julho 09, 2025

Romaria


 

Penso que quem me comenta sabe que vivo em Fátima, terra de igrejas, capelas e capelinhas.

No 1º domingo de julho iniciam-se as festas de Nossa Senhora da Ortiga que duram três dias, culminando na terça feira.

Se a Senhora de Fátima é de culto internacional, a Senhora da Ortiga é de culto local. Para esta capela, localizada num monte, convergem todas as dores e alegrias dos fatimenses, durante todo o ano.

Na terça feira, depois da missa, as pessoas dirigem-se para locais previamente estabelecidos há décadas em redor da capela, onde estão instaladas as tendas familiares, ao abrigo das azinheiras.

E aí cumpre-se o ritual que vem de geração em geração, há comes e bebes para os familiares e para os amigos que aparecem.

Como não sou autóctone, não tenho tenda, mas não deixo de ser convidada a associar-me.

E foi o que aconteceu ontem e é muito bonita esta tradição onde a amizade supera os laços familiares.

Antigamente namorava-se à volta da capela, agora já não é preciso fazê-lo, namora-se em qualquer lado.

A terça feira da Ortiga é a grande festa desta comunidade!

É uma autentica romaria!

segunda-feira, julho 07, 2025

Citação

 " Afoguei as minhas mágoas, mas elas aprenderam a nadar. "


Frida Kahlo


Frida Kahlo foi uma pintora mexicana conhecida pelos seus muitos retratos , autorretratos e obras inspiradas na natureza e artefactos do México.

Nasceu a 6 de julho de 1907 e morreu a 13 de julho de 1954.

domingo, julho 06, 2025

Poesia ao domingo

 Os piqueniques da Catarina lembraram-me este, que faz jus ao "Déjeuner sur l´herbe" de Manet, porque bem mais colorido e a sensualidade menos explícita, se fosse transformado em pintura, pois dava uma aguarela.



De Tarde


Naquele "pic-nic" de burguesas

Houve uma coisa simplesmente bela, 

E que, sem ter história nem grandezas,

Em todo o caso dava uma aguarela.


Foi quando tu, descendo do burrico,

Foste colher sem imposturas tolas,

A um granzoal azul de grão de bico

Um ramalhete rubro de papoulas.


Pouco depois, em cima duns penhascos,

Nós acampámos, inda o sol se via,

E houve talhadas de melão, damascos

E pão de ló molhado em malvasia.


Mas todo púrpuro, a sair da renda

Dos teus dois seios como duas rolas,

Era o supremo encanto da merenda

O ramalhete rubro de papoulas.


 In Livro de Cesário Verde

sexta-feira, julho 04, 2025

quarta-feira, julho 02, 2025

Um pouco de humor


 Agora que as aulas acabaram, os miúdos que detestam a escola, podem finalmente divertir-se!
Tenho dezenas de recortes destas tiras, retiradas do Público, nos anos 90.
Devem clicar na imagem para lerem melhor, por favor!

terça-feira, julho 01, 2025

Verão

 " O sol é grande, caem co´a calma as aves"


Com o calor que está, lembrei-me deste primeiro verso de  um soneto de Sá de Miranda, porque vejo os pardalitos a esvoaçarem, num enorme desassossego, cheios de sede.

Vêm bebericar nos pratos dos vasos que conservam alguma água, depois da rega, por isso decidi encher um pote de água e colocá-lo bem à vista, para beberem à vontade.


Os restantes versos nada têm a ver com o calor, mas com as alterações na natureza e no próprio sujeito poético.

segunda-feira, junho 30, 2025

A minha rua

 Estive quase um ano sem viver na minha casa e encontrei algumas mudanças na rua.

Na vivenda, em frente, que é uma espécie de AL, a que eu chamo "albergue espanhol", desculpai uma pontinha de preconceito, mas realmente aparecem lá muitas e "desvairadas gentes", como diria Fernão Lopes, vive agora uma casal com um cão que ladra de noite e de dia. Provavelmente sente-se pouco confortável num quarto, apenas com uma varanda que ele não consegue saltar, se fosse gato sei bem onde ele iria pedir asilo.

Com este ladrar contínuo até o Kiss, o cão residente na vivenda logo a seguir, que ladrava alto e bom som a toda a gente que passava, apenas durante o dia,  fechou-se em copas e mal se ouve.

Deve pensar que, para incomodar, basta um!

domingo, junho 29, 2025

Poesia ao domingo

 Noite de Verão


Quando é no Verão das noites claras

e faz calor dentro da gente,

... aquela menina casadoira, que mora junto ao largo, 

vem à varanda ver a Lua.


Roçando o corpo, devagar,

descem por ela as mãos da noite:

sente-se nua.

Sente-se nua, na varanda,

já tão senhora do seu destino,

sem medo às estrelas nem às mãos da noite

- mas baixa os olhos se algum homem passa...


Manuel da Fonseca, in Obra Poética

sábado, junho 28, 2025

Reflexão

 Como só duas pessoas gostaram das minhas andorinhas, amanhã mudo de cabeçalho!

sexta-feira, junho 27, 2025

Música à sexta



Abençoados anos 80!

quinta-feira, junho 26, 2025

Leituras


 

Às vezes tenho vontade de ler em francês e ao encontrar este livro no caos que é a minha biblioteca pus mãos à obra.

Tentei saber se tinha tradução para português, mas fiquei sem resposta.

Dois turistas franceses, uma mulher e um homem encontram-se num hotel em Lisboa.

Da curiosidade do homem, em relação à imobilidade da mulher no jardim do hotel, acaba por surgir uma aproximação que os leva a contar a razão da sua estadia ali.

Ela procura, em vão, esquecer o marido tragicamente desaparecido num terramoto em S. Francisco e ele procura esquecer o amante português que o abandonou, deixando apenas uma carta de despedida.

Ainda não cheguei ao fim, mas dá para perceber que ele continua na procura do outro, nos seus passeios noturnos onde encontra sempre alguém para umas fugazes horas de prazer, enquanto ela continua quase inerte sem conseguir desligar-se da vontade de morrer.

Acabam por deambular juntos pelas ruelas da cidade, pintada como melancólica, e assim vão amortecendo a sua dor.

É uma narrativa simples, apesar de abordar a terrível dor da ausência do ser amado.

Será que voltarão a interessar-se pelo mundo dos vivos?

On verra!


segunda-feira, junho 23, 2025

S. João Batista

 O meu bairro está em festa desde sábado e hoje o arraial terminará com um belo fogo de artifício que não me agrada muito pelo barulho, mas os foguetes luminosos arrancam um AH de admiração a todos, embasbacados que ficamos com a beleza das cores e a chuva de estrelas.

São mesmo as melhores festas desta santa terra cheia de santos, anjos e arcanjos.

Há almoços, jantares, bebidas para todos os gostos e hoje haverá sardinhas, quermesse, pipocas algodão doce e música, até às tantas, que leva a grandes rodopios na pista de dança.

Estou na cama e ouço a música!

Deixo-vos com três quadras que encontrei nos vasos de manjericos que comprei ontem.


Ó meu rico S. João

És um santo popular

Na tua festa não falta

Sardinha para assar.


Manjericos nas janelas

Alegria pois então!

Sardinha broa com elas

É festa de S. João.


A fogueira eu saltei

Na noite de S. João

E toda a noite marchei

Com meu arquinho e balão.


domingo, junho 22, 2025

Poesia ao domingo

         

Mal nos conhecemos

Inaugurámos a palavra amigo!

Amigo é um sorriso

De boca em boca.

Um olhar bem limpo

Uma casa, mesmo modesta, que se oferece.

Um coração pronto a pulsar

Na nossa mão!

Amigo (recordam-se, vocês aí, 

escrupulosos detritos?)

Amigo é o contrário de inimigo!

Amigo é o erro corrigido,

Não o erro perseguido, explorado.

É a verdade partilhada, praticada.

Amigo é a solidão derrotada!

Amigo é uma grande tarefa,

Um trabalho sem fim,

Um espaço útil, um tempo fértil, 

Amigo vai ser, é já uma grande festa!


Alexandre O´Neill



 Para os amigos e amigas que me têm ajudado a sorrir, a saber mais e a derrotar a solidão.