domingo, setembro 21, 2025

Poesia ao domingo

 Canção de Outono


No entardecer da terra

O sopro do longo outono

Amareleceu o chão.

Um vago vento erra

Como um sonho mau num sono

Na lívida solidão.


Soergue as folhas e pousa

As folhas volve e revolve

Esvai-se ainda outra vez.

Mas a folha não repousa

E o vento lívido volve

E expira na lividez.


Eu já não sou quem era;

O que eu sonhei, morri-o;

E mesmo o que hoje sou

Amanhã direi: quem dera

Volver a sê-lo! mais frio

O vento vago voltou.



Fernando Pessoa

sábado, setembro 20, 2025

Autárquicas

 Vamos ter eleições Autárquicas no próximo dia 12 de outubro e a campanha eleitoral já mexe.

De novo, depois de alguns anos de interregno, eis-me envolvida na campanha no meu concelho e, sobretudo, na minha freguesia.

Numa terra onde o Chega conseguiu uma percentagem de votos superior ao nível nacional, torna-se premente uma campanha esclarecedora, criativa e com gente que já deu provas em várias áreas profissionais e sem telhados de vidro.

O Chega é uma séria ameaça à nossa democracia, há que combatê-lo com o exemplo da dignificação da política, sem o nomear. Quanto mais se falar dele, pior.

sexta-feira, setembro 19, 2025

Música à sexta

E vem aí o outono!


quarta-feira, setembro 17, 2025

Doce Setembro

 Setembro vai anunciando a chegada do outono, mas, por enquanto, os dias ainda estão luminosos e apetece acrescentar-lhes doçura.

Um dos meus pessegueiros deu fruta para dar e vender, fiz doce de pêssego, deram-me figos e transformei-os em doce.

Hoje, uma boa alma veio trazer-me um poceiro de maçãs de uma das minhas propriedades, já que estou impossibilitada de ir apanhá-las. Claro que serão transformadas em doce, mas talvez também faça umas tartes.

Adoro o cheiro adocicado que se espalha pela casa, durante estas minhas tão pouco habituais aventuras culinárias.

segunda-feira, setembro 15, 2025

Leituras

 O romance "Lillias Fraser" de Hélia Correia despertou-me um enorme interesse.

Começa com  a batalha de Culloden, na Escócia onde os escoceses católicos se opõem aos ingleses protestantes, numa tentativa de colocarem no trono o católico Charles Stuart.

A batalha resultou numa carnificina que matou vários clãs e levou "à deportação em massa dos escoceses para o novo mundo."

Tive que fazer consultas para entender esta luta.

Do massacre salvou-se uma menina loira, de olhos cor de mel que tinha o condão de adivinhar a morte dos que a rodeavam.

Depois de várias mudanças, vamos encontrar a protagonista em Lisboa, num convento de religiosas inglesas nas vésperas do terramoto de 1755. Adivinhando esse cataclismo, sai da cidade e chega a Mafra, cujo convento permanece de pé.

Regressa a Lisboa e visualizamos o horror da morte, da destruição e a ação do  Ministro, como construtor da cidade e perseguidor dos Távoras, entre outras vítimas.

Para abreviar Lillias Fraser, pela mão de Blimunda Sete-Luas, atravessa o Alentejo para ir dar à luz na terra de ninguém, entre Portugal e Espanha. 

E foi assim o seu encontro.

" A criança está bem. De hoje em diante, eu tomo conta de vocês as duas.

- Que criança, senhora? - disse Lillias.

- A que tu Lillias Fraser, vais parir.

- Como pode sabê-lo?

- Vejo dentro do corpo das pessoas quando estou em jejum - explicou Blimunda.

- Eu vejo a morte - disse Lillias.


Peço desculpa pelo atabalhoado do resumo, mas de facto a obra é interessantíssima do ponto de vista histórico.

domingo, setembro 14, 2025

Poesia ao domingo

Natália Correia nasceu, nos Açores,  a 13 de setembro de 1923 e é um vulto assinalável e desassombrado da nossa literatura.

Hoje recordo-a.


Há noites...


Há noites que são feitas dos meus braços

e um silêncio comum às violetas

e há sete luas que são sete traços

de sete noites que nunca foram feitas.


Há noites que levamos à cintura

como um cinto de grandes borboletas.

E um risco de sangue na nossa carne escura

de uma espada à bainha de um cometa.


Há noites que nos deixam para trás

enrolados no nosso desencanto

e cisnes brancos que só são iguais

à mais longínqua onda de seu canto.


Há noites que nos levam para onde

o fantasma de nós fica mais perto:

e é sempre a nossa voz que nos responde

e só o nosso nome estava certo. 

sábado, setembro 13, 2025

Setembro

 Nos setembros da minha infância e adolescência ainda se fazia praia, porque as aulas começavam em outubro e eram belas tardes em jogos de grupos de amigos que passavam de um ano para o outro e dos banhos de sol a comer pastéis de nata ou bolas de Berlim.

Era também tempo de vindimas e, como o meu avô paterno tinha pelo menos três vinhas, pude participar nessa atividade muitas vezes. Eram umas uvas deliciosas e, tanto eu como os meus primos, comíamos mais do que apanhávamos.

A avó guardava as mais especiais para pendurar no celeiro, onde lentamente, se iam transformando em passas, enquanto em cima de uma enorme arca repousavam figos, maçãs e peras. Cheirava a outono quando lá entrávamos.

Agora, os meus netos já tiveram ontem a abertura do ano letivo e não demonstram grande entusiasmo em regressar à escola.

Lembro-me de estar ansiosa pelo começo das aulas, depois de três meses de férias, sobretudo no colégio que frequentei em regime de internato. Tínhamos tantas novidades para contar às amigas, os primeiros namoricos, os novos amigos que fizemos na praia, a arrumação da nossa cama no dormitório, vermos quem iria dormir ao nosso lado, vermos a nossa posição na sala de aula e arrumarmos os novos livros dentro da carteira.

Atualmente, não chegam a sentir saudades dos amigos, graças ou "desgraças" aos telemóveis, porque estão sempre em contacto com conversas e jogos.

Outros tempos, outros passatempos, tudo muda e nós também.

sexta-feira, setembro 12, 2025

Música à sexta











Rick Davies foi vocalista, teclista e cofundador da banda Supertramp.
Faleceu no sábado, dia 6 de setembro.

quinta-feira, setembro 11, 2025

Cretinices

 André Ventura vociferou contra a ida do PR à Alemanha ao Bürgerfest, em Berlim,  confundindo este festival com um festival de hambúrgueres.

Está cada vez mais demagogo e há quem vá nas suas patranhas!

Consegui introduzir o trema!

quarta-feira, setembro 10, 2025

Singularidades

 O tratamento por você está generalizado, mas sempre me incomodou, porque em miúda me ensinaram que essa prática era deselegante.

O you tão funcional da língua inglesa e o vous dos francófonos não se aplicam à nossa língua, porque entre o tu e o vós ficamos meio "desasados".

O você refere-se a uma segunda pessoa, com quem não temos intimidade, que depois é seguida de um verbo na 3ª pessoa do singular, 

Exemplos. Você prefere peixe ou carne?; Você é primo do meu vizinho?; Você pode sentar-se onde quiser.

No norte ainda se usa o vós na segunda pessoa do plural, exemplo: Vós sois de onde? e nós usamos o vocês também nada elegante.

À vezes lá me escapa um vocês e peço logo desculpa, substituindo por senhores, senhoras, caros ouvintes, etc. .

Quando me dirijo a alguém com quem não tenho intimidade uso normalmente o nome da pessoa, ou o senhor ou senhora seguidos também do verbo na 2ª pessoa do singular.

Singularidades da nossa língua.

O você do português do Brasil ainda veio complicar mais estas formas de tratamento.

Tudo isto a propósito de duas frases encontradas no livro de Mário de Carvalho que estou a ler.

"O licenciado Joel Strosse Neves dificilmente suportava que, fora de uma leve intimidade, um desconhecido o tratasse por você. Você é estrebaria, sete fardos por dia..."


E ainda me lembrei de uma colega do norte que, perante o você, retorquia sempre: -Você é estrebaria! Mas não acrescentava o resto. 

terça-feira, setembro 09, 2025

Leituras

 Lisboa, por más razões, está na berra.

Mas não vou por aí.

Concluído o livro de Ana Margarida Carvalho "Que Importa a Fúria do Mar" que me levou até aos horrores do Tarrafal, peguei ao acaso no "Era Bom Que Trocássemos Umas Ideias Sobre o Assunto" de Mário e Carvalho, pai de referida escritora.

Logo nas primeiras páginas surge uma descrição de Lisboa que  achei absolutamente pictórica.


"Quanto à cor de Lisboa, de tons sempre variáveis com o fluir das estações e os caprichos dos sóis de das atmosferas, disponho-me a jurar e a declarar notarialmente que branca não é. Basta subir-se ao miradouro da Senhora do Monte, ali a S. Gens, ou ao terraço do Hotel Sheranton, ou àquele enorme edifício azul que fecha a Alameda D. Afonso Henriques nos altos da Barão de Sabrosa, ou mesmo ao humilde convés dum cacilheiro, para poder verificar que a cidade, descontando o grená rugoso dos telhados, varia entre os rosas-suaves, os verdes-esbatidos, os amarelos doces, em milhentas tonalidades que não fazem mal à vista. Lá terá as suas brancuras aqui e além, mas estão precisamente colocadas, para compor o todo."


Prefiro pensar em Lisboa assim!

segunda-feira, setembro 08, 2025

Citação

 "Um ser humano verdadeiramente vivo não pode permanecer neutral."


Nadine Gordimer

(1923 - 2019)


Escritora sul-africana, Prémio Nobel da Literatura em 1991

domingo, setembro 07, 2025

Poesia ao domingo

 Vento no Rosto


À hora em que as tardes descem, 

noite aspergindo nos ares,

as coisas familiares

noutras formas acontecem.


As arestas emudecem.

Abrem-se flores nos olhares.

Em perspetivas lunares

lixo e pedras resplandecem.


Silêncios, perfis de lagos,

escorrem cortinas de afagos,

malhas tecidas de engodos.


Apetece acreditar,

ter esperanças, confiar,

amar a tudo e a todos.


António Gedeão, in Poesias Completas

sábado, setembro 06, 2025

Solidariedade


 

Tenho o lenço palestiniano há muito tempo e nem sei dizer como é que veio parar às minhas mãos.

Sei que tem significados diferentes para as cores de cada um.

Se começou por ser um lenço usado só por homens, essa prática alterou-se.

O meu kufiya é branco, preto e cinzento, como podem ver.

Estou a usá-lo como forma de mostrar a minha solidariedade com o povo mártir da Palestina e não por exibicionismo.

Cada um se manifesta de acordo com os meios e a sensibilidade que tem.

sexta-feira, setembro 05, 2025

Música à sexta



Neste tempo de tristeza e de dor os "Deolinda", num cenário de uma Lisboa serena, convidam-nos a brincar, a aproveitar o que de bom há na vida!

quinta-feira, setembro 04, 2025

Elevador da Glória



O elevador da Glória é um dos icónicos ascensores de Lisboa, cidade de sete colinas.

Este elevador liga a Praça dos Restauradores ao Miradouro de S. Pedro de Alcântara, um dos mais espetaculares da cidade, ao popular Bairro Alto e ainda ao Chiado, daí ser muito usado por turistas , mas também por portugueses residentes ou de visita.

É um elevador que conheço bem e que já utilizei várias vezes, nunca me passando pela cabeça que pudesse  ocorrer um acidente.

Inaugurado em 1885, tragicamente teve ontem um descarrilamento que fez 16 vítimas mortais e muitos feridos.

A cidade e o país estão de luto.

 

quarta-feira, setembro 03, 2025

RTP2

 Hotel  Europa


Sou fã das séries da RTP2, daí ter seguido com muito interesse "Hotel Europa" que teve apenas dois episódios. Começou na segunda e terminou ontem.

A história começa em 1918, com o final da guerra e o regresso do jovem Emil à casa de família, um belo castelo transformado em hotel.

A narrativa é passada no período  entre as duas guerras e acompanha os sonhos, as fragilidades e os destinos da família Dreesen e baseia-se em factos reais.

Embora se situe nesse período da história da Alemanha, concretamente à beira do Reno, na Renânia ocupada pelos vencedores franceses, aborda questões que continuam atuais: racismo, antissemitismo, emancipação feminina, violência contra as mulheres, amor entre pessoas do mesmo sexo e a busca por novos modos de vida, numa luta entre o conservadorismo/nacionalismo do chefe da família e a abertura a novos conceitos de lazer, de entretenimento por parte de Emil, da irmã e da avó.

Perseguido por uma morte que cometeu durante a guerra na frente de batalha, o jovem Emil acaba por se juntar aos que fogem do início do nazismo.


terça-feira, setembro 02, 2025

Citação

 Ainda com Fernando Luís Veríssimo bem presente.


"Conhece-te a ti mesmo, mas não fique íntimo."


Como interpretam esta citação?

segunda-feira, setembro 01, 2025

Leituras

O meu filho mais velho, que habita no meu coração e na minha memória, tinha um humor muito especial e marcava o seu falar por palavras que eu desconhecia. Limitava-me a deduzir o seu significado pelo contexto.

Uma dessas palavras era "Beleléu" .

Com a morte do escritor brasileiro Luís Fernando Veríssimo fiquei a saber pelo Facebook o que significava para ele:

BELELÉU - Lugar de localização indefinida. Em alguns mapas fica além das Cucuias; em outros faz fronteira com Cafundó do Judas e Raio Que os Parta do Norte. Beleléu  tem algumas características estranhas. Nenhum dos seus matos tem cachorro, todas as suas vacas estão no brejo - e todos os seus economistas são brasileiros.


P.S. Achei uma delícia a definição desta palavra tão usual no léxico do meu filho.