segunda-feira, novembro 09, 2020

Ainda há quem escreva cartas

 Ontem tive como convidados para o almoço a minha irmã e o único tio que me resta do lado paterno e que vivem a 15 kms de mim.

De uma irmandade de nove, este é o mais novo nos seus 92 anos muito lúcidos, muito comunicativo mas bastante surdo e a perder sempre os aparelhos.

Casado e sem filhos teve o azar de ver a sua companheira de 65 anos em comum a ter que ir para uma residência sénior por falta de logística espacial numa casa que tem todo o conforto mas onde uma cadeira de rodas não se movimenta.

Perante a situação atual só a pode ver à distância e através de um vidro. Como ela não consegue articular bem as palavras e ele não a ouve bem disse-me ontem que começou a escrever-lhe cartas.

Achei de uma enorme ternura tanto mais que a tia, nos seus 89 anos, perdeu a coordenação dos movimentos das mãos e não lhe pode responder.

Neste contexto de pandemia e com os lares com imensos focos, a vida dos que lá se encontram está a ser ainda mais dolorosa.

Espero que estas missivas conjugais sejam um lenitivo para a solidão da minha tia.

9 comentários:

  1. Nestes tempos conturbados, acontecem episódios tão emocionantes, que em anos não muito distantes pensariamos ser ficção.
    Tenho a certeza que essas cartas, não retribuidas, farão toda a diferença na qualidade de vida emocional e psíquica da esposa internada.
    Até me arrepiei de emoção. Que atitude tão linda!

    Um beijinho grande e uma boa semana.

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  2. Ainda há quem escreva cartas?!
    Eu só escrevo cartas de caráter profissional.
    Tenho amigos que me escrevem pelo meu aniversário, Natal e Páscoa, que eu agradeço pelo telefone.

    Abraço

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  3. Eu confesso que deixei de escrever cartas. Só escrevo emails....mas alguns são verdadeiras cartas LOL.

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  4. há sempre plano B para o que queremos. Muito ternurento! :)

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  5. Não tenho palavras para a situação.
    Recentemente também escrevi uma carta.

    Abraço

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  6. Espero que o sejam, sim e que logo possam voltar a encontrar-se e a estar perto, sem máscaras
    um abraço

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  7. Tão bonito, ler
    estar isso a acontecer

    O amor é, também
    a permanente luta de chegar ao outro
    no fundo, resta a certeza
    dele e dela
    de se quererem amar...

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  8. Realmente é uma tristeza os nossos velhos verem-se separado-se de quem lhes dava amor!

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  9. Lindo, esse teu casal de tios, na cumplicidade da sua longa idade vivida em comum. Que triste deve ser terem de estar separados...
    Tempo cruel, este que vivemos.

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