Os piqueniques da Catarina lembraram-me este, que faz jus ao "Déjeuner sur l´herbe" de Manet, porque bem mais colorido e a sensualidade menos explícita, se fosse transformado em pintura, pois dava uma aguarela.
De Tarde
Naquele "pic-nic" de burguesas
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão de bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o sol se via,
E houve talhadas de melão, damascos
E pão de ló molhado em malvasia.
Mas todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro de papoulas.
In Livro de Cesário Verde
Aprecio Cesário Verde.
ResponderEliminarBom dia de domingo, Leo.
Abraço
Também eu, António!
EliminarAbraço
Uma bela ligação entre o poema e o quadro que referes! São assim, as intermitências do pensamento. Abç Bettips
ResponderEliminarSão mesmo assim !
EliminarAbraço
Cesário Verde é, sem dúvida, um poeta português de grande relevo, que ocupa um lugar de destaque na minha memória. A sua obra, embora pequena, revela uma profundidade e uma riqueza de detalhes que conheço de cor, demonstrando a sua importância na literatura lusitana. Assim, concluo que é o meu poeta favorito, logo após Luís de Camões, cuja grandiosidade e influência também admiro profundamente.
ResponderEliminarCesário Verde viu a Lisboa da segunda metade do século XIX de acordo com a estética baudelairiana.
Cesário Verde partiu muito jovem, mas deixou-nos um rico espólio poético.
EliminarEntre a subjetividade de Baudelaire e a objetividade, pureza formal do parnasianismo as suas composições retratam o quotidiano citadino burguês e popular e os cenários onde se desenrolam as cenas poetizadas .
Nunca esqueci as " Ave Marias", composição que me calhou para análise no exame do 7° ano e cujas primeiras estrofes sabia de cor.
Abraço
Cesário Verde não foi o único poeta a morrer jovem.
EliminarA tuberculose levou muitos poetas para a cova.
Ave-Marias
Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.
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É o meu poema preferido que também o sei de cor.
Familiares e amigos dos meus pais elogiaram sempre a maneira como eu recitava esse poema.
Já o publiquei varias vezes no ematejoca azul.
Também é um dos meus preferidos!
EliminarAbraço
Uma das mais belas jóias de Cesário Verde, este poema que fecha com um "ramalhete rubro de papoulas"
ResponderEliminarUm abraço, Leo!
Muito bela esta poesia pela riqueza melódica e pictórica.
EliminarAbraço
:)
ResponderEliminarNāo me recordo deste poema.
Gostei de ler.
Quase que sei de cor todos os poemas deste belíssimo e único 'Livro de Cesário Verde". Este "Pic-Nic" de burguesas tb já o publiquei, bem como vários outros do mesmo livro.
ResponderEliminarDa contracapa, retiro isto:
"Os dramas do quotidiano pequeno-burguês tratados por um poeta autêntico, em cuja curta vida houve lugar para uma grande obra".
O longo e maravilhoso Prefácio escrito por Silva Pinto em 20 de Julho de 1886 é de uma riqueza inominável.
Excelente comparação com todos os piqueniques da Catarina, um pouco menos com a tela de Manet... : ))
Abraço.
Silva Pinto amigo pessoal dos tempos de faculdade deixou-nos, realmente, um prefácio admirável neste Livro publicado postumamente.
EliminarNão sabia todas de cor, mas pelo menos algumas estrofes das mais belas.
Abraço
Estive a ler alguns poemas no Google. Não sei poemas de cor como a Janita, que tem uma memória incrível. Nem tão pouco me lembrava de que tinha falecido tão novo com tuberculose. Tinha apenas 31 anos. Se alguma vez soube (e é muito possível que sim) não me recordo, portanto, considero como se nunca tivesse sabido.
ResponderEliminarO que me atraíu (e vou ler todos os poemas que encontrar) foi que pude imaginar vivamente, digamos assim, as situações, as imagens de que fala. Concretas, palpáveis, diretas.
Quando li que era conhecido pelo “poeta da cidade”, recordei-me de António Aleixo, “o poeta do povo”. Deste, sim, conheço tudo o que escreveu.
Como eu gosto de aprender/recordar "coisas" e/ou épocas a que estive exposta, nomeadamente, ao que eu chamo de “época intelectual”, quando a intelectualidade emanava de todos os poros daquele grupo que se juntava no café da esquina – literalmente da esquina – onde bebia (sempre) um carioca de limão. Belos tempos, como se costuma dizer, sem preocupações e felizes.
Um poeta marcante na minha adolescência e juventude.
EliminarReferes a objetividade visual das suas composições, mas que ele misturava com uma subjetividade muito especial.
Abraço