terça-feira, abril 29, 2025

O Apagão

 Quando a luz falhou, esperei uns minutos, depois telefonei ao meu filho que me disse que estava na mesma situação e que constava que o apagão era nacional e estendia-se a Espanha.

A partir daí, não consegui estabelecer qualquer comunicação com mais ninguém.

O dia foi passado com a normalidade possível, com um almoço bem frugal, seguido de leitura e de uma boa sesta.

Quando os miúdos chegaram a casa disseram que as aulas decorreram sem problemas e o meu filho chegou sem qualquer incidente no trânsito, salientou mesmo a calma e o civismo nos cruzamentos com os semáforos desligados. Acrescentou que muita gente já tinha ido para casa, daí não haver caos.

Mas o caos estendeu-se aos aeroportos, aos terminais rodoviários,  à CP em greve, nos centros comerciais, no metro.

Onde havia geradores tudo se recompôs com a rapidez possível.

Fomos apanhados com poucos enlatados e duas ou três velas. Depois de casa roubada, trancas na porta e assim se concluiu que o tal kit de sobrevivência  tem que ser organizado e até com mais alguns acessórios.

Pelas 21h,  fez-se luz, houve gente às janelas a bater palmas e a dar vivas, claro que também aderimos a estas manifestações de alegria e de alívio. Parecia que estávamos a sair de um confinamento.

No meio deste acontecimento grave e inédito, pasmei com a minha ingenuidade - pensava que éramos independentes no que diz respeito à REN, com tantas eólicas, painéis solares e barragens.

Agora é hora dos governantes repensarem esta dependência.

domingo, abril 27, 2025

I Encontro da Canção Portuguesa



Caí por acaso em cima desta preciosidade!

Estávamos a 29 de Março de 1974 e realizava-se o I Encontro da Canção Portuguesa, no Coliseu dos Recreios que encheu com cinco mil pessoas e preço dos bilhetes a 20 escudos. Consta que se venderam alguns, no mercado negro, a 50 escudos.

Todos os cantores de vanguarda e que não se encontravam no exílio estiveram presentes:

José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Fernando Tordo, José Barata Moura, Manuel Freire, o guitarrista  Carlos Paredes, o poeta Ary dos Santos, entre muitos outros.

No que se cantou, no que se disse e na efervescência do público adivinhava-se uma raiva a subir de tom contra o regime.

Até se cantou Grândola, Vila Morena com autorização da Censura.

O Encontro terminou com o público a cantar o Hino Nacional.

Fiquei absolutamente espantada com este espetáculo, não soube de nada, não dei por nada, embora o 16 de Março já tivesse acontecido e o tivesse seguido com preocupação, por nele estar envolvido um tenente nosso amigo, que acabou por ser preso assim como todos os que saíram das Caldas.

Daí a menos de um mês a Liberdade chegou pela mão dos Rapazes dos Tanques!


sábado, abril 26, 2025

Os Vizinhos do Lado

 Já tinha perguntado ao meu filho se conhecia os vizinhos do lado e ele, com aquele ar citadino, respondeu que já os tinha visto, eram um casal na casa dos trinta e tinham um cão.

Um cão já eu sabia que tinham, porque o ouço ladrar de vez em quando, sempre a horas decentes.

Ontem, quando saímos do elevador, ia um casal a entrar no outro e com eles um cão.

Saudei-os com o meu melhor sorriso, recebi dele uma espécie de grunhido e dela, nada.

O cão ainda deu umas voltas, a fazer-se rogado para entrar no elevador.

Virei-me para ele e disse:

- Com que então tu és o meu vizinho do lado!

O cão continuava a resistir e o dono a puxá-lo com toda a força, até que entrou.

Era um cão preto, tão grande que mais parecia um pónei pequeno!

Realmente o som do seu ladrar é imponente.

Dos vizinhos humanos só ouço a porta a abrir e a fechar.

Os meus rapazes mantiveram-se em silêncio atrás de mim e ninguém abriu a boca até ao restaurante onde almoçámos e onde recebi um lindo cravo vermelho.

Claro que não me atrevi a perguntar o nome do vizinho cão, perante um encontro tão cordial!

sexta-feira, abril 25, 2025

quinta-feira, abril 24, 2025

Primeira senha, ainda a 24 de Abril de 1974







Estávamos em Março de 1974 e Paulo de Carvalho ganhou o Festival da Canção com E Depois do Adeus.  Foi esta a primeira senha para o avanço da Revolução.
Não levantou qualquer suspeita.
Sempre que a ouço, lembro-me da emoção desses primeiros tempos!

quarta-feira, abril 23, 2025

Dia Mundial do Livro


Penso que Trump e os seus seguidores nunca leram As Vinhas da Ira.
Se conhecessem as consequências dramáticas da Grande Depressão iniciada em 1929 e concluída em 1939, durando uma década, talvez agissem de forma diferente.
É este o livro que tenho entre mãos há uns tempos, porque leio sempre dois ou três ao mesmo tempo.



 

terça-feira, abril 22, 2025

Enigma

Onde se encontra esta varanda?





 

segunda-feira, abril 21, 2025

Canção com Lágrimas

Esta canção evoca a morte na guerra colonial!
A guerra terminou graças ao 25 de Abril.
Pelo fim das guerras muito intercedeu e orou Francisco, em vão!
A letra é de Manuel Alegre.



sexta-feira, abril 18, 2025

Música à Sexta



Não era esta a música que tinha selecionado para hoje, mas a morte repentina e prematura de Nuno Guerreiro, vocalista da Ala dos Namorados, levou-me a colocar esta .

quarta-feira, abril 16, 2025

In memoriam

 A partida do meu último tio paterno, o mais novo de nove irmãos, levou-me a partilhar um poema de um outro tio, o penúltimo.


Raízes


Uma família é como um rizoma...

Sob camadas de tempo e gerações

Mal se sabe onde seu tronco início toma

Ou, quando extinta mesmo nos pareça,

Onde aflora de novo e recomeça.


Impossível era que estivessem

Aqui agora quantos estiveram

Antes connosco e mesmo até sem nós...

Naturalmente que vem sempre o dia

Em que os filhos ficam sem os pais

E, nesse passo, os netos sem avós;


Mas dias há em que, pelo sortilégio

Do sangue que eles nos deram, 

Num aflorar de saudade, a nós juntamos aqueles que morreram.

E, nesses dias, é que a gente sabe,

Por confidência do nosso coração

Que só as pessoas morrem;

As famílias , não.


Francisco Madeira Martins

sexta-feira, abril 11, 2025

quinta-feira, abril 10, 2025

Lembranças

 "Imagens que passais pela retina

Dos meus olhos, porque não vos fixais? "


Camilo Pessanha nasceu em Coimbra em 1867,  faleceu em Macau em 1926 e é o principal representante do Simbolismo português, é marcadamente pessimista.


Vezes sem conta lembro-me destes dois versos, porque sou assaltada constantemente por imagens que relembro como se visse um filme com cores e sons.

Felizmente predominam as boas lembranças.

terça-feira, abril 08, 2025

Imigração

 Hoje recebi um telefonema de uma amiga brasileira.

Talvez já tenha falado dela por aqui. "Aterrou" na casa ao lado com os cinco filhos, vinda do Japão onde viveu 16 anos.

Muito recentemente chegou o marido que, entretanto, viu perder a validade da sua carta de condução, não podendo continuar como motorista de uma IPSS.

A matrícula das crianças foi uma odisseia, devido aos documentos japoneses, passados para inglês, mas depois de muita complicação lá se resolveu o problema.

Sendo ela filha de pai português não foi muito difícil adquirir a nacionalidade portuguesa,  mas à custa de muita papelada de cá para o Brasil e volta.

Voltando ao início, telefonou-me para me dar a boa nova. Os dois filhos mais velhos já podem pedir o cartão de cidadão português, rimos ao lembrar toda a trabalheira que passámos para que isto acontecesse.

Agora ainda falta a legalização dos três mais novos e, entretanto, o marido tem um agendamento na AIMA para a semana, para ver se, finalmente, consegue os documentos necessários para poder trabalhar como motorista.

A minha amiga acabou por ocupar o posto de trabalho do marido e ele tem outras funções na instituição.

E tudo isto com uma brasileira, filha de pai português, e a falar português.

Imagino o martírio daqueles que não dominam a língua e fazem fila à porta da AIMA.

domingo, abril 06, 2025

Lembranças

 " As coisas vulgares que há na vida não deixam saudades

Só as lembranças que doem ou fazem sorrir..."


Canta a Mariza em "Chuva", mas hoje, especialmente, só as lembranças que fazem sorrir. porque doer, doem sempre!

sexta-feira, abril 04, 2025

quarta-feira, abril 02, 2025

Conselho de Ministros no Bolhão

Finalmente o ainda PM descobriu que Portugal não é só Lisboa, mas também o Porto e decidiu dirigir-se de autocarro, com toda a sua equipa até à Cidade Invicta, para aí realizar um conselho de ministros.

No Bolhão, porque não se encontrou outro local e também pelas boas condições acústicas.

Com a faca e o queijo na mão, faz o que muito lhe apraz.

A convocatória por SMS dos militantes, juntou o útil ao agradável.

terça-feira, abril 01, 2025

Leituras

Com tantas obras lidas de José Saramago "Levantado do Chão" foi-me ficando para trás.

Até que neste aniversário o recebi como presente, comprado num alfarrabista e, por isso, com direito a uma 3a edição .

O romance, publicado em 1980,  percorre uma zona do Alentejo bem demarcada, caracterizada pelo latifúndio, desde o final do séc. XIX, ainda na monarquia, até ao período pós-Revolução do 25 de Abril, com a ocupação de herdades, numa marcha onde até os mortos estão presentes, metaforicamente.

É o retrato de um povo e da sua luta contra séculos de opressão e de desigualdade social, assentes numa espécie de trilogia - a Igreja, representada pelo padre Agamedes, o latifúndio nas mãos dos donos da terra e o Estado representado pela guarda, ao serviço do latifúndio.

Mas do que mais gostei foi do seu narrador omnisciente e omnipresente, que opina sobra os factos, os pensamentos das personagens, dando-se até ao luxo de dialogar com as mesmas e com o narratário (leitor), revelando , por vezes, de forma humorística o evoluir dos acontecimentos.

Fiquei fascinada com esta narrativa e ao mesmo tempo emocionada com esta luta tão justa por parte dos homens e mulheres do latifúndio, como o narrador os nomeia.