Já acabei a leitura deste romance de Valter Hugo Mãe há bastante tempo mas só agora ganhei coragem para ir além de meia dúzia de linhas e cansar-vos um pouco mais do que o habitual.
Chamo-vos a atenção para o facto de o autor escrever sempre com minúsculas independentemente da pontuação usada.
Feliz Idade é o nome da residência sénior para onde vai António Jorge da Silva, após a morte da sua companheira de mais de 40 anos.
Aí encontra outros Silvas "somos todos Silvas neste país" e até o Esteves do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos.
Aquela que à partida poderia parecer-nos uma narrativa deprimente devido à avançada idade da maioria das personagens acaba por se tornar uma interessante e até alegre descoberta de que o final da vida ainda nos pode trazer aprendizagens surpreendentes ...pelo menos é essa a conclusão a que chega o sr. Silva, narrador-personagem quando já na sua fase terminal confessa a um dos técnicos do lar:
"...depois confessei-lhe, precisava deste resto de solidão para aprender sobre o resto de companhia. este resto de vida, américo, que eu julguei já ser um excesso, uma aberração, deu-me estes amigos. e eu que nunca percebi a amizade, nunca esperei nada da solidariedade, apenas da contingência da coabitação, um certo ir obedecendo, ser carneiro. eu precisava deste resto de solidão para aprender sobre este resto de amizade. hoje percebo que tenho pena da minha laura por não ter sido ela a sobreviver-me e a encontrar nas suas dores caminhos quase insondáveis para novas realidades, para os outros. os outros, américo, justificam suficientemente a vida, e eu nunca o diria. esgotei sempre tudo na laura e nos miúdos, esgotei tudo demasiado perto de mim, e poderia ter ido mais longe."
Na nossa vida sempre acontecem surpresas, coisas novas, coisas que nos despertam para uma nova forma de vida.
ResponderEliminarPenso que precisamos todos de estar prontos e abertos a tantos acontecimentos que modificam os nossos hábitos.
Habituamo-nos à nossa casa,à mulher e aos filhos.
Um dia eles partem e nós ficamos.
RV, quem sou eu para criticar alguém que foi várias vezes premiado?! Só sei que não gosto do que li na sua transcrição e por isso sei que certamente nunca lhe comprarei um livro, além de que em algo por ele escrito e transcrito para um outro blog, me pareceu mt obsceno em relação às mulheres.
ResponderEliminarComo lidarão as professoras de português com este tipo de escrita? Uma colega nossa, que nos deixou há anos, dizia-nos que preferia que os seus alunos não lessem Saramago, já que ia contra tudo o que ela tanto se empenhava: escrever corretamente na língua portuguesa!
Cara Dalma
ResponderEliminarA forma é uma coisa e o conteúdo é outra, como sabe tão bem como eu.
Acho que a descoberta dos outros, que não apenas a família nuclear, em final de vida é uma coisa enternecedora para quem, como ele, viveu sempre numa espécie de redoma à prova de bala.
Claro que estou a falar do Silva narrador.
Deste autor conhecia "O Apocalipse dos Trabalhadores" passado em Bragança, por acaso... :)
Quanto ao modernismo da escrita está, apesar de tudo, um pouco longe de Saramago que eu muito aprecio.
Somos todos diferentes, gosto dos clássicos mas também destes "modernaços" como diz um primo meu! :)
Eu, por exemplo, ainda não aderi ao NAO!
Abraço
Claro RV, longe de mim criticar quem gosta, eu só fui uma professora de Geografia que se preocupou muito em ensinar a escrever em bom português, a fazer um bom comentário, uma boa crítica e até um bom resumo, mas não fui além disso! Como se costuma dizer " não vá o sapateiro além da chinela"!
ResponderEliminarQuanto ao NAO, como se compreende não tenho uma opinião consistente formada, mas mais uma vez sito uma outra colega de português ( tinha mas amigas nesta área!) " foi escavacando o latim que se chegou ao português de hoje"! Como se pode depreender ela é a favor do NAO!
ResponderEliminarRosinha, nunca li nada desse autor,
ResponderEliminarapesar de conhecer, os títulos dos
livros não me fascinam, mas vou dar
outra atenção, obrigada pela dica,
bom fim de semana, beijos
Ainda bem que este meu comentário dá origem a contraditório, cara Dalma!
ResponderEliminarComo professora de Português e de Literatura Portuguesa penso ter feito um bom trabalho na medida em que tenho dezenas de ex-alunas, de idades diversas, que me seguiram as pisadas e que são óptimas profissionais...algumas até chegaram a ser minhas colegas...mas nestas coisas como noutras sou partidária do direito à diferença! :)
Tenho um tio já com bastante idade, professor, que fica arrepiado só de ouvir falar de Saramago! Nem quer experimentar ler uma linha...e eu brinco com ele!
Claro que não brinco consigo, uma vez que não tenho à vontade para isso!
Abraço
Gostei dessa conclusão final por ser positiva. Ainda não li este livro, mas tenho-o na minha lista.
ResponderEliminarum beijinho e bom fim-de-semana (com mais pequenos almoços no café :)
Gábi
~
ResponderEliminar~ ~ Não conheço o autor, mas acredito na tua avaliação.
~ ~ Gostei muito desta sugestão e não vou perder esta leitura!
~ ~ Deveria ser lido por todos nós!
~ ~ Venham agradáveis dias para este esmorecido Agosto!
~ ~ ~ ~ Abraço amigo. ~ ~ ~ ~
Aviso-te, Majo, que o conteúdo me interessou mais do que a forma embora adira com facilidade a formas de escrita"alternativas" porque me aproximam da oralidade...apesar de tudo continuo renitente ao NAO!
ResponderEliminarIncongruências deste ser humano, que sou eu, cheio de paradoxos! :)
Abraço
Também já o li faz tempo. Tem passagens hilariantes e outras bem mais graves. Dá que pensar... a velhice é "lixada"!
ResponderEliminarGostei do excerto...
ResponderEliminarbeijo amigo
Sim RV, é este tipo de "posts" que suscitam controvérsias que são interessantes! Aqueles a que todos os comentadores dizem "amen" ou se ficam por elogios ao dono do "blos" são muito sensaborões!
ResponderEliminarTem toda a razão, Dalma!
ResponderEliminarNão é a primeira a dizer-me que não gosta destes "modernaços"! :)
Quando dei o 12º Saramago ainda não estava na lista dos autores a estudar!
Li vários livros de Saramago e nenhum deste autor.
ResponderEliminarEspero vir a ler, mas não lhe darei prioridade, pois tenho alguns de autores que muito aprecio e não quero perder.
Bom domingo, Rosinha :)
Ajudaste-me a ultrapassar alguns preconceitos que, confesso, tenho relativamente a WHM (com maiúsculas, pois claro!)...
ResponderEliminarVou ver se me aventuro à leitura de um dos livros dele, que pode perfeitamente ser este!
Ainda não me estreei em Valter Hugo Mãe. Mas hei de fazê-lo. :)
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ResponderEliminarOlá, interessante.
Lendo, aproximar-se melhor das reflexões.
Abraços
"Feliz Idade" parece-me um livro que gostarei muito de ler. Nunca li nada deste autor, mas o tema e o excerto que apresentas despertou o meu interesse.
ResponderEliminarJá a forma da escrita, seguramente, não me agrada. Sobretudo, porque nunca li nem tenho conhecimento que alguém escreva os nomes próprios com letra minúscula. Nem mesmo com o novo AO.
Acho, no mínimo, estranho! Mas, lá está, o importante é o enredo e que a leitura prenda a atenção do leitor.
Um abraço, Rosinha.
Querida Rosinha, este autor não faz as minhas delícias...
ResponderEliminarMas a ti deixo-te um grande beijo. :)
Oi Rosa
ResponderEliminarTenho lido alguns escritos dele aqui na internet e tenho gostado de quase tudo,ficou 'badalado' de uns tempos pra cá,aqui no Brasil principalmente, depois que participou da FLIP(Festa Literária Internacional de Paraty), e foi um sucesso ,lá não estive, mas li nos noticiários e curiosa passei a pesquisá-lo para colher alguns poemas .Eu gosto.
Quanto a forma que ele usa principalmente com as minúsculas pra todo lado rs considero ser uma 'licença poética 'que ele inventou e acabou sendo aceito.Já soube que anda revisando o nome dele pra maiúscula rsrs enfim o importante nesse caso é o que passa naquilo que escreve.
Eu gosto também das minúsculas rs mas não sou poeta ... rs
abraços Rosa Obrigada pelo bom texto.
feliz semana
Tenho esse livro na prateleira dos livros a ler talvez há uns 2 ou 3 anos. Mas confesso que essa história das minúsculas não me cativa lá muito. Mas gostei da tua opinião, portanto talvez me abalance a ele um dia destes... Gracias! (vale sempre a pena ultrapassar preconceitos, nem que sejam linguístico-gramaticais...) :)
ResponderEliminarAbraço
ps - a dita Laura se calhar não teria ido para o lar, porque sabendo lidar da casa, cozinhar, etc., talvez não precisasse...
Está em lista de espera.
ResponderEliminarEmbora embirre com essa mania das minúsculas.
Boa semana!!
É verdade que a Laura talvez não fosse para o lar mas foi bonito este desejo do sr. Silva de desejar que a mulher descobrisse o prazer da solidariedade e de conviver com outros, fora da redoma do lar, Teté!
ResponderEliminarAs minúsculas são apenas um pormenor! :)
Abraço
Boa tarde,
ResponderEliminarcada cabeça uma interpretação sobre a mesma leitura, nem sempre ou quase sempre o final de vida é vivida comodamente e muito menos feliz independentemente da condição económica, muitas pessoas idosas vão parar a um lar que até pode ser luxuoso, que interessa o luxo? se lhes falta o carinho familiar, com o passar dos dias criam uma amizade com solidão sem o carinho diário tão necessário.
Dia feliz
AG
http://momentosagomes-ag.blogspot.pt/
Não sou um grande fã de Hugo Mãe, por isso, este ainda não li, apesar das boas referências que me têm dado.
ResponderEliminarBoa semana
Do Valter Hugo ainda só li crónicas que escreve no JL. Tenho aí dois livros dele, mas ainda não os ataquei. Nem sei porquê. Gostei desse excerto que aqui deixaste.
ResponderEliminarBeijinhos e boas leituras!
Tenho alguns livros dele na minha lista de uma dia ler, vou guardar este talvez para mais tarde, se calhar para a minha reforma...agora ainda não quero pensar...
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