domingo, julho 20, 2025

Poesia ao domingo


Escrito no Muro

 

Procura a maravilha.


Onde a luz coalha

e cessa o exílio.


Nos ombros, no dorso,

nos flancos suados.


Onde a boca sabe

a barcos e bruma.


Ou a sombra espessa.


Na laranja aberta

à língua do vento.


No brilho redondo

e jovem dos joelhos.


Na noite inclinada 

de melancolia.


Procura.


Procura a maravilha.



Eugénio de Andrade


Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontinhas, nasceu na Póvoa da Atalaia, Fundão a 19 de janeiro de 1923 e morreu no Porto a 13 de junho de 2005.


A escolha do poema tem a ver com o tema "Procura a maravilha".

Onde é que eu procuro a maravilha?

Na música no sossego das tardes, na rosa que floresce no canteiro que vejo logo de manhã, nos dois pêssegos que pendem quase maduros, nos comentários dos meus amigos!

sexta-feira, julho 18, 2025

Música à sexta

Os The Doors eram a banda preferida dos meus filhos, embora ainda não fossem nascidos no auge desta banda rock.
Jim Morrison, vocalista e autor da maior parte das suas letras, morreu aos 27 anos em Paris, em 1971 e foi sepultado no cemitério do Père Lachaise.
Nunca se chegou a saber bem a causa da sua morte por não ter havido autópsia, mas constava que tinha sido provocada por overdose de álcool e drogas.
Quando fui a Paris com o meu filho mais novo, que tinha terminado o 12º ano com excelente média, ele convenceu-me a visitar a sua sepultura. Eu apanhei uma estafa porque me fartei de andar a pé e ele apanhou uma enorme desilusão ao ver o estado de abandono em que se encontrava o túmulo do seu cantor preferido.
Esta escolha é uma espécie de memória familiar! 





quinta-feira, julho 17, 2025

Leituras



Estou a perder a capacidade ou talvez a vontade de ler mais do que um livro de cada vez.
Assim, e embora tenha outros na mesa de cabeceira, embrenhei-me na leitura deste que será a obra a analisar no Clube de Leitura de Setembro.
A autora criou a história a partir de um cartão de visita, com mais de cem anos, que encontrou numa gaveta na casa de família. No cartão estava escrito o nome de Anna Allavena - Carteira que era a sua bisavó.
Por vir do norte de Itália para o sul, Anna era considerada forasteira e vista com bastantes preconceitos pelos habitantes da aldeia, devido ao seu comportamento desassombrado.
A narrativa é fluida, lê-se bem, contudo ainda não lhe encontrei qualidade literária ou então estou a ser demasiado exigente.
Para tempo de verão até não está mal!



 

quarta-feira, julho 16, 2025

Reflexão

 Não sou pessoa de me queixar por aqui, mas faz hoje um ano que fui parar ao hospital com uma grave hemorragia gástrica.

Depois de estabilizada e de algumas doses de sangue, regressei a casa passados oito dias, só que daí a três dias caí e parti uma perna.

Não houve férias na praia e tudo se complicou para o meu filho e a minha irmã que me visitava,  diariamente, na residência sénior onde estive seis meses em recuperação que não foi total.

Até hoje ainda não me livrei da canadiana na rua, embora esteja a fazer fisioterapia com exercícios bem duros. 

Interrogo-me como teria evoluído a minha vida se estes percalços não tivessem acontecido.

domingo, julho 13, 2025

Poesia ao domingo

 Ser Poeta



Ser poeta é ser mais alto, é ser maior

Do que os homens! Morder como quem beija!

É ser mendigo e dar como quem seja

Rei do Reino de Aquém e de Além-Dor!


É ter de mil desejos o esplendor

E não saber sequer que se deseja!

É ter cá dentro um astro que flameja,

É ter garras e asas de condor!


É ter fome, é ter sede de Infinito!

Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...

É condensar o mundo num só grito!


E é amar-te,  assim, perdidamente...

É seres alma, e sangue, e vida em mim

E dizê-lo cantando a toda a gente!


Florbela Espanca


Nasceu mulher num tempo e num espaço pequenos de mais para a conter

É uma mulher para além do seu tempo.


P. S. Podem aproveitar para ouvir Luís Represas e os Trovante na magnífica interpretação deste soneto.

quarta-feira, julho 09, 2025

Romaria


 

Penso que quem me comenta sabe que vivo em Fátima, terra de igrejas, capelas e capelinhas.

No 1º domingo de julho iniciam-se as festas de Nossa Senhora da Ortiga que duram três dias, culminando na terça feira.

Se a Senhora de Fátima é de culto internacional, a Senhora da Ortiga é de culto local. Para esta capela, localizada num monte, convergem todas as dores e alegrias dos fatimenses, durante todo o ano.

Na terça feira, depois da missa, as pessoas dirigem-se para locais previamente estabelecidos há décadas em redor da capela, onde estão instaladas as tendas familiares, ao abrigo das azinheiras.

E aí cumpre-se o ritual que vem de geração em geração, há comes e bebes para os familiares e para os amigos que aparecem.

Como não sou autóctone, não tenho tenda, mas não deixo de ser convidada a associar-me.

E foi o que aconteceu ontem e é muito bonita esta tradição onde a amizade supera os laços familiares.

Antigamente namorava-se à volta da capela, agora já não é preciso fazê-lo, namora-se em qualquer lado.

A terça feira da Ortiga é a grande festa desta comunidade!

É uma autentica romaria!

segunda-feira, julho 07, 2025

Citação

 " Afoguei as minhas mágoas, mas elas aprenderam a nadar. "


Frida Kahlo


Frida Kahlo foi uma pintora mexicana conhecida pelos seus muitos retratos , autorretratos e obras inspiradas na natureza e artefactos do México.

Nasceu a 6 de julho de 1907 e morreu a 13 de julho de 1954.

domingo, julho 06, 2025

Poesia ao domingo

 Os piqueniques da Catarina lembraram-me este, que faz jus ao "Déjeuner sur l´herbe" de Manet, porque bem mais colorido e a sensualidade menos explícita, se fosse transformado em pintura, pois dava uma aguarela.



De Tarde


Naquele "pic-nic" de burguesas

Houve uma coisa simplesmente bela, 

E que, sem ter história nem grandezas,

Em todo o caso dava uma aguarela.


Foi quando tu, descendo do burrico,

Foste colher sem imposturas tolas,

A um granzoal azul de grão de bico

Um ramalhete rubro de papoulas.


Pouco depois, em cima duns penhascos,

Nós acampámos, inda o sol se via,

E houve talhadas de melão, damascos

E pão de ló molhado em malvasia.


Mas todo púrpuro, a sair da renda

Dos teus dois seios como duas rolas,

Era o supremo encanto da merenda

O ramalhete rubro de papoulas.


 In Livro de Cesário Verde

sexta-feira, julho 04, 2025

quarta-feira, julho 02, 2025

Um pouco de humor


 Agora que as aulas acabaram, os miúdos que detestam a escola, podem finalmente divertir-se!
Tenho dezenas de recortes destas tiras, retiradas do Público, nos anos 90.
Devem clicar na imagem para lerem melhor, por favor!

terça-feira, julho 01, 2025

Verão

 " O sol é grande, caem co´a calma as aves"


Com o calor que está, lembrei-me deste primeiro verso de  um soneto de Sá de Miranda, porque vejo os pardalitos a esvoaçarem, num enorme desassossego, cheios de sede.

Vêm bebericar nos pratos dos vasos que conservam alguma água, depois da rega, por isso decidi encher um pote de água e colocá-lo bem à vista, para beberem à vontade.


Os restantes versos nada têm a ver com o calor, mas com as alterações na natureza e no próprio sujeito poético.