segunda-feira, junho 30, 2025

A minha rua

 Estive quase um ano sem viver na minha casa e encontrei algumas mudanças na rua.

Na vivenda, em frente, que é uma espécie de AL, a que eu chamo "albergue espanhol", desculpai uma pontinha de preconceito, mas realmente aparecem lá muitas e "desvairadas gentes", como diria Fernão Lopes, vive agora uma casal com um cão que ladra de noite e de dia. Provavelmente sente-se pouco confortável num quarto, apenas com uma varanda que ele não consegue saltar, se fosse gato sei bem onde ele iria pedir asilo.

Com este ladrar contínuo até o Kiss, o cão residente na vivenda logo a seguir, que ladrava alto e bom som a toda a gente que passava, apenas durante o dia,  fechou-se em copas e mal se ouve.

Deve pensar que, para incomodar, basta um!

domingo, junho 29, 2025

Poesia ao domingo

 Noite de Verão


Quando é no Verão das noites claras

e faz calor dentro da gente,

... aquela menina casadoira, que mora junto ao largo, 

vem à varanda ver a Lua.


Roçando o corpo, devagar,

descem por ela as mãos da noite:

sente-se nua.

Sente-se nua, na varanda,

já tão senhora do seu destino,

sem medo às estrelas nem às mãos da noite

- mas baixa os olhos se algum homem passa...


Manuel da Fonseca, in Obra Poética

sábado, junho 28, 2025

Reflexão

 Como só duas pessoas gostaram das minhas andorinhas, amanhã mudo de cabeçalho!

sexta-feira, junho 27, 2025

Música à sexta



Abençoados anos 80!

quinta-feira, junho 26, 2025

Leituras


 

Às vezes tenho vontade de ler em francês e ao encontrar este livro no caos que é a minha biblioteca pus mãos à obra.

Tentei saber se tinha tradução para português, mas fiquei sem resposta.

Dois turistas franceses, uma mulher e um homem encontram-se num hotel em Lisboa.

Da curiosidade do homem, em relação à imobilidade da mulher no jardim do hotel, acaba por surgir uma aproximação que os leva a contar a razão da sua estadia ali.

Ela procura, em vão, esquecer o marido tragicamente desaparecido num terramoto em S. Francisco e ele procura esquecer o amante português que o abandonou, deixando apenas uma carta de despedida.

Ainda não cheguei ao fim, mas dá para perceber que ele continua na procura do outro, nos seus passeios noturnos onde encontra sempre alguém para umas fugazes horas de prazer, enquanto ela continua quase inerte sem conseguir desligar-se da vontade de morrer.

Acabam por deambular juntos pelas ruelas da cidade, pintada como melancólica, e assim vão amortecendo a sua dor.

É uma narrativa simples, apesar de abordar a terrível dor da ausência do ser amado.

Será que voltarão a interessar-se pelo mundo dos vivos?

On verra!


segunda-feira, junho 23, 2025

S. João Batista

 O meu bairro está em festa desde sábado e hoje o arraial terminará com um belo fogo de artifício que não me agrada muito pelo barulho, mas os foguetes luminosos arrancam um AH de admiração a todos, embasbacados que ficamos com a beleza das cores e a chuva de estrelas.

São mesmo as melhores festas desta santa terra cheia de santos, anjos e arcanjos.

Há almoços, jantares, bebidas para todos os gostos e hoje haverá sardinhas, quermesse, pipocas algodão doce e música, até às tantas, que leva a grandes rodopios na pista de dança.

Estou na cama e ouço a música!

Deixo-vos com três quadras que encontrei nos vasos de manjericos que comprei ontem.


Ó meu rico S. João

És um santo popular

Na tua festa não falta

Sardinha para assar.


Manjericos nas janelas

Alegria pois então!

Sardinha broa com elas

É festa de S. João.


A fogueira eu saltei

Na noite de S. João

E toda a noite marchei

Com meu arquinho e balão.


domingo, junho 22, 2025

Poesia ao domingo

         

Mal nos conhecemos

Inaugurámos a palavra amigo!

Amigo é um sorriso

De boca em boca.

Um olhar bem limpo

Uma casa, mesmo modesta, que se oferece.

Um coração pronto a pulsar

Na nossa mão!

Amigo (recordam-se, vocês aí, 

escrupulosos detritos?)

Amigo é o contrário de inimigo!

Amigo é o erro corrigido,

Não o erro perseguido, explorado.

É a verdade partilhada, praticada.

Amigo é a solidão derrotada!

Amigo é uma grande tarefa,

Um trabalho sem fim,

Um espaço útil, um tempo fértil, 

Amigo vai ser, é já uma grande festa!


Alexandre O´Neill



 Para os amigos e amigas que me têm ajudado a sorrir, a saber mais e a derrotar a solidão.


sexta-feira, junho 20, 2025

Música à sexta


Ontem "seu" Chico Buarque fez 81 anos, mas para mim continua um jovem da minha geração.


quinta-feira, junho 19, 2025

Paisagens


 Foto da Net

A Ponte  Sardão-Meirinhos faz a ligação entre os concelhos de Mogadouro e Alfândega da Fé, distrito de Bragança, região de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Foi construída numa das zonas mais acidentadas do rio Sabor e desempenha um papel importante na movimentação das gentes do interior nordestino.

É de uma enorme espetacularidade, beleza e elegância.

terça-feira, junho 17, 2025

Reflexões

 Na Biblioteca Palácio Galveias, António Araújo fez a apresentação da biografia de Herberto Helder "Se Eu Quisesse Enlouquecia", da autoria de João Pedro George.

É uma longa, interessante e inusitada apresentação onde se refere que o autor pesquisou, durante 8 anos, tudo e mais alguma coisa sobre o homem e o poeta, para publicar esta obra que atinge quase 900 páginas.

Mas a minha reflexão só tem a ver com o título, aliás enlouquecer é um verbo recorrente em Herberto Helder.

Penso eu que querer enlouquecer não é assim tão difícil, difícil será poder enlouquecer.

Se eu pudesse enlouquecia não tem nada de poético, prende-se apenas e só com a nossa capacidade de resistência a esta vertigem que é a vida.

domingo, junho 15, 2025

Poesia ao domingo

 Vidro Côncavo


Tenho sofrido poesia

como quem anda no mar.

Um enjoo.

Uma agonia.

Sabor a sal.

Maresia.

Vidro côncavo a boiar.


Dói esta corda vibrante.

A corda que o barco prende 

à fria argola do cais.

Se vem onda que a levante

vem logo outra que a distende.

Não tem descanso jamais.


António Gedeão, in Poesias Completas

sexta-feira, junho 13, 2025

quinta-feira, junho 12, 2025

Leituras

 A leitura da biografia de Maria Teresa Horta levou-me a reler algumas das Novas Cartas Portuguesas.

Deixo-vos com um extrato que reflete bem a violência doméstica, cada vez mais visível na comunicação social, sobretudo com assassinatos de mulheres e também violações.

" Maria corre por entre as pessoas que àquela hora se aglomeram nos passeios, corre sem ver para onde, sem saber se ele a persegue a fim de a tentar levar para casa. A fim de lhe pedir que regresse como em outras alturas. Desta vez Maria sente que não cederá mais.

Nunca mais lhe cederá:

Quer às súplicas, quer às ameaças; quer à ternura ou tortura física. Está disposta a lutar e corre: foge levando o vazio que tem sido a sua vida, como bagagem de regresso."


Em 1971 era impensável uma mulher fugir de casa por mais queixas que tivesse.

Claro que este extrato, apesar de tudo, não é o mais realista do quotidiano opressivo em que viviam muitas mulheres.

Por tudo isso as três Marias foram perseguidas pela Pide e julgadas num processo que só terminou já depois do 25 de Abril, com a sua absolvição.

quarta-feira, junho 11, 2025

Sem título


 


À procura de uma legenda!

terça-feira, junho 10, 2025

Dia de Camões


Adaptação de um poema de Luís de Camões na voz de José Mário Branco.
Este poema é uma reflexão profunda sobre a natureza transitória do mundo e o impacto que a mudança tem na vida e nos sentimentos humanos.



segunda-feira, junho 09, 2025

Regresso a casa


 

Finalmente, regressei a casa e,  pela 1ª vez em 11 meses,  dormi de novo sozinha, quer dizer sem filho e sem netos.

Apesar da ausência, o jardinzito lá se foi aguentando e até me presenteou com algumas flores.

Não é fácil este recomeço, mas espero conseguir adaptar-me a este espaço um pouco complicado para mim por causa das escadas.

Quanto a encontros com amigas, ainda não foi possível , porque havia assuntos a tratar.

A primeira coisa foi mergulhar nalguns livros que já trazia agendados.

domingo, junho 08, 2025

Poesia ao domingo

 Não assinalei os 500 anos do seu nascimento, mas ainda vou a tempo.

Deixo-vos com três das oitavas que Luís de Camões dedicou a D. António de Noronha sobre o desconcerto do mundo.


  Quem pode ser no mundo tão quieto,

ou quem terá tão livre o pensamento,

quem tão exprimentado e tão discreto,

tão fora, enfim, de humano entendimento

que, ou com público efeito, ou com secreto,

não lhe revolva o espanto e sentimento,

deixando-lhe o juízo quási incerto,

ver e notar do mundo o desconcerto?


  Quem há que veja aquele que vivia

de latrocínios, mortes e adultérios,

que aos juízos das gentes merecia

perpétua pena, imensos vitupérios,

se a Fortuna em contrário o leva e guia,

mostrando, enfim, que tudo são mistérios,

em alteza d´estados triunfante,

que, por livre que seja, não se espante?


  Quem há que veja aquele que tão clara 

 teve a vida que em tudo por perfeito

o próprio Momo às gentes o julgara,

ainda que lhe vira aberto o peito,

se a má Fortuna, ao bem sòmente avara,

o reprime e lhe nega seu direito,

que lhe não fique o peito congelado, 

por mais e mais que seja exprimentado?




Retirei estas oitavas de "Luís de Camões, Rimas" com texto estabelecido e prefaciado por Álvaro Júlio da Costa Pimpão.

Foi por esta obra que estudei Camões na faculdade e daí encontrar-se cheia de anotações.


Se  o Poeta já sentia o mundo em desacordo com a justiça, 500 anos depois estamos de mal a pior.

É um desconcerto total!

sexta-feira, junho 06, 2025

Música à sexta

Jorge Palma fez esta semana 75 anos.
Esta canção está para lá do amor, é sobretudo um hino à amizade, à partilha!












quarta-feira, junho 04, 2025

Enigma decifrado

 Na minha ingenuidade, pensava que uma foto minha não seria fácil de detetar pelo Dr. Google "espertinho". Afinal enganei-me.

Em todo o caso, a valiosa dica do António foi mais do que meio caminho andado para a Janita lá chegar.

Tive a simpática participação de:

António, Janita, Catarina, Joaquim Rosário, Teresa, Sandra Martins e São.

O email do António ainda não chegou, deve haver engarrafamento na ponte, mas pelas dicas ele acertou, assim como o Joaquim Rosário.

A Janita, a Catarina, a Teresa e a Sandra Martins mandaram a resposta por mail.

A São ficou à espera da solução.

Graças à Catarina fui investigar o nome de Celorico e fiquei a saber que é um nome considerado como sendo derivado de um topónimo pré-romano, possivelmente ligado ao étimo céltico "cel" que significa oculto ou escondido.

Temos assim Celorico da Beira para se diferenciar de Celorico de Basto. Basto significa coberto de vegetação densa.

O Joaquim Rosário referiu esta pista.

Conclusão - não foi um enigma difícil, mas não deixou de ser animado.


terça-feira, junho 03, 2025

Enigma

O que é e onde fica?
Já conhecem as regras do jogo!
É para animar a malta!




 

segunda-feira, junho 02, 2025

Presidenciais

Ontem, comentadores encartados na TV discorreram sobre o perfil dos atuais candidatos na "grelha de partida".

Isso levou-me a recordar as primeiras eleições presidenciais, após o 25 de abril e cujo vencedor foi o General Ramalho Eanes, a 27 de junho de 1976.

As terceiras eleições presidenciais em janeiro de 1986 foram as mais disputadas de sempre, obrigando à realização de uma 2a. volta, caso único na nossa democracia.

Estavam em confronto Mário Soares e Freitas do Amaral, levando alguma esquerda a "engolir sapos vivos" e a dar a vitória a Mário Soares.

Espera-se ainda que se perfilem novos candidatos e, talvez isso, nos leve a uma 2ª volta.

Neste caso, veremos quem tem de "engolir sapos vivos". 

domingo, junho 01, 2025

Poesia ao domingo

 Lida a biografia de Maria Teresa Horta decidi embrenhar-me um pouco na sua poesia, marcadamente feminista.

Escolhi aquela cujo título dá nome ao livro de poemas publicado em 1971, mas depressa proibido pela Censura.


Minha senhora de mim


Comigo me desavim

minha senhora

de mim


sem ser dor ou ser cansaço

nem o corpo que disfarço


Comigo me desavim

minha senhora 

de mim


nunca dizendo comigo

o amigo nos meus braços


Comigo me desavim

minha senhora

de mim


recusando o que é desfeito

no interior do meu peito


Maria Teresa Horta, in Minha Senhora de Mim