domingo, junho 07, 2020

Caixa Negra

Quando trabalhava li bastantes artigos pedagógicos sobre o conceito fechado da sala de aula, uma espécie de caixa negra que só era aberta quando algo corria mal.
No actual contexto todos os professores, quer do Estudo em Casa quer das sessões síncronas da responsabilidade dos agrupamentos escolares, estão expostos aos olhares e ouvidos de milhares de assistentes e não apenas dos seus alunos.
Pais, avós e outros acompanhantes sentam-se ao lado das crianças mais novas, sobretudo do 1º ciclo, por falta de autonomia e desembaraço para certos registos.
Assim vamos formando uma opinião sobre os professores que os acompanham desde o início do ciclo. Com uma linguagem  de uma enorme afectividade, notam-se as regras que foram implementadas na sala. Ninguém interrompe ninguém, cada um espera pela sua vez, dirigem-se ao professor com à vontade mas com respeito.
Já no Estudo em Casa a linguagem não tem marcas carinhosas mas usam bastantes expressões de incentivo à aprendizagem.Uns mais sorridentes, outros mais sérios, uns mais seguros, outros mais agarrados aos apontamentos, cada um faz o possível para atingir os objectivos propostos - transmitir conhecimentos e diminuir as desigualdades em relação à falta de rede, de computadores, de tablets, de telemóveis, partindo do princípio que toda a gente tem televisão.
Mas as desigualdades persistem porque nem todos têm o mesmo tipo de acompanhamento.
Nada pode substituir as aulas presenciais na escola com as crianças em interacção entre si e com os seus professores.
Mesmo que a sala de aula continue a ser uma caixa negra!

11 comentários:

  1. RV, esta “nova escola” poderá ter os miúdos ocupados mas jamais será Escola! Só esta possibilita o criar de empatia do professor com os seus alunos e vice-versa... isso será IMPOSSÍVEL através e um ecrã! Depois não põe os alunos nas mesmas circunstâncias como querem fazer crer... os seus netos, os meus netos e outros nas mesmas circunstâncias estão num patamar que lhes permite uma aprendizagem a anos luz, dos meninos e adolescentes de famílias desfavorecidas, mesmo que lhe tenham sido oferecidos, computadores/tablets, wi-fi, telemóveis... como vi noticiado!
    A ESCOLA voltará e nessa altura espero que pais e alunos apreciem mais o trabalho que lá se faz!

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  2. Muito bem explicado, RV! Nada substitui a presença, nenhuma tecla. É apenas uma forma nesta terrível situação. Espero que passe e apenas seja usada em emergências.
    Falta o cheiro, falta o trejeito, falta interagir com todos, tocar o lápis ou o caderno. Falta o sorriso que brota: falta o mundo real.
    Bjinhos

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  3. Não são fáceis estes novos métodos de ensino/aprendizagem.
    Para quem ensina e, em certos casos, ainda piores para quem aprende.


    Gostei muito da forma precisa e concisa como defines o actual tele-ensino.
    Nada substitui a interação olhos nos olhos. Afinal, esta nova 'caixa negra' é anda mais negra e escura do que a antiga sala de aula.

    Um forte abraço!

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  4. «Mas as desigualdades persistem porque nem todos têm o mesmo tipo de acompanhamento.»

    No fundo é isso
    e mais o que por ti é dito

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  5. AQUI também «as desigualdades persistem porque nem todos têm o mesmo tipo de acompanhamento» principalmente nas famílias estrangeiras.

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  6. O tele-ensino, ou “ensino à distância” (que é a mesma coisa, apenas por outras palavras) como aqui chamamos, é um desafio tanto para os alunos como para os professores. Não havia outra opção para substituir o ensino presencial. No Ontário as escolas não reabriram. O ano letivo termina a 25 de junho.
    De certo que a maioria dos pais e/ou encarregados de educação vão, daqui para a frente, ter um maior apreço pelos docentes. : ))

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  7. Totalmente de acordo, pois nada substitui a interacção entre quem ensina e quem aprende.

    Beijinho, boa semana

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  8. O E@D foi a resposta possível às contingências do Covid, mas acentua ainda mais as desigualdades que caracterizam a nossa sociedade. Já ouvi uns espertalhões a dizer, ufanos, que este é o modelo do futuro. Seria desastroso.

    Um abraço

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  9. Uma das minhas irmãs é professora e esteve a dar aulas assim (e emprestou um computador que não estava a utilizar a um aluno que não tinha)

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