terça-feira, dezembro 04, 2018

A casa do lado

Tem cortinas, tem móveis, tem quadros, tem tapetes, tem sofás mas não tem vida a casa do lado.
Partiu há uns meses o seu último morador, muito tempo depois da sua companheira.
Durante mais de 45 anos conversámos debruçados sobre o muro, trocámos figos por ameixas, pêssegos por nozes, entre outras coisas e pelo muro treparam durante a infância cinco crianças, duas de cá, três de lá numa contínua partilha de brincadeiras, lanches, idas e vindas do colégio, passeios e mais tarde férias, um de cá, outro de lá.
O jardim teima em mostrar-se como era, a laranjeira está coberta de frutos luminosos, o quintalinho está revestido de um verdejante manto.
Só o festão que ornamenta o portãozinho do jardim esbraceja as suas guias de rosas de Santa Teresinha, num protesto solitário de quem não tem onde se agarrar.  

23 comentários:

  1. Antes de mais, feliz por ver um novo post, o que significará que já estão ultrapassados aqueles tais problemas.

    Depois, expressar a minha tristeza pelo que contas ! Sei bem o que representa passarmos tantos anos de paredes meias, ver os filhos de ambos os lados crescerem, a amizade mútua, quase familiar e por vezes até mais que isso, que se foi consolidando ao longo dos tempos, até que chega esta altura em que tudo se esfuma e pior que tudo, ficam as recordações (que tanto nos magoam), de tantos momentos inesquecíveis . :((

    Um grande abraço, Leo .

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  2. Belo retrato do vazio, do abandono, da solidão...

    abraço Rosa

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  3. E assim se vão esvaziando casas e vidas...
    É tão triste que a passagem do tempo traga tanto vazio, solidão
    e a tristeza de quem viveu de perto com quem partiu.
    Como esta que se sente neste teu bonito texto.

    Um forte abraço, Leo!

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  4. Triste que seja assim e muito bonita a forma como está escrito
    um beijinho

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  5. Bom dia- A solidão e o abandono são sempre tristes.
    .
    * Sou folha escrita em poesia apagada *
    .
    Abraço de amizade.

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  6. Terás outros vizinhos mais tarde ou mais cedo. Mas as boas recordações dos anteriores ficarão...

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  7. A casa do lado
    é (ainda assim) um belo quadro
    porque
    "somos a memória que temos"
    (apesar das partidas
    que vão doendo)

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  8. RV, infelizmente é o que acontece muitas vezes! Quando ando pelo meu jardim, cortando aqui e ali, arrancando uma folha mais amarela, sobressalto-me ao pensar o que acontecerá ao meu pequeno “paraíso”... de repente vejo-o cheio de ervas, os arbustos a perderem a sua forma redonda, a cameleira a esbracejar tal como fala das rosa de Stª Teresinha do portão da sua vizinha!
    Dalma

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  9. Um texto melancólico que me trouxe á memória o nosso querido amigo Carlos, e especialmente a nossa querida amiga 🌻 Teté.

    Beijinho 😘 desejando-te uma boa noite.

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    1. Com o meu abandono da blogosfera não consegui saber quem era a Teté, ontem cliquei no Quiproquo e fiquei extremamente chocada.
      Como eu gostava das suas postagens!

      Abraço

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  10. Bonito texto.
    É sempre penosa a partida, de alguém. Por isso temos que viver plenamente. E guardar boas memórias:))

    Bom fim-de-semana:))

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  11. Sempre triste isso. Me fez lembrar de uma senhora solitária, bem idosa, um dia foi achada morta na cama, rodeadas de seus inúmeros gatos. No mais, um abração.

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  12. Um retrato belíssimo e comovente do que pode, deve ser a vizinhança, como meio de entretecer vidas e amizades. E como se sofre quando essa vizinhança se vai para sempre...

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  13. Também nós somos vizinhos dos outros
    memórias partilhadas

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  14. Minha querida Rosinhamiga🌹

    Retratar uma solidão é sempre triste quiçá mais para a fotógrafa📸 do que para a pessoa só ou a casa vazia. Porque é ela que tem de calibrar a objectiva ou seja ser ela própria objectiva abdicar de emoção para que a imagem fique tão perfeita quanto seja possível, mas emocionar-se q.b. perante a sensação dessa solidão.

    E tu, querida Amiga consegues o milagre (se é que eles existem e por vezes dou por mim a pensar que pode ser que talvez existam...) de fotografar a solidão e revelar-nos a foto belíssima que obtiveste. E que bem focaste. Sobretudo as rosas🌹🌹🌹 da casa do lado. Por isso muito obrigado.

    Já to disse e tenho muito prazer em repeti-lo: estou muito feliz por teres voltado.

    Muitos qjs 😙😙😙deste teu velho amigo de sempre
    Henrique, o Leãozão🦁

    PS - CONVITE: Volta a dar uma volta pelo meu barraco que agora é o http://anossatravessa.blogspot.pt. E não te esqueças de fazer como antes fazias: comenta! É uma ordem!!!!!!

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  15. Que bela e triste descrição do poder do tempo e da memória...
    Palavras que apertam o coração, mas que só existem onde antes existiu amor, zelo e alegria.

    Beijos,

    Daniela

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  16. Amigos que partem, palavras que ficam, imagens confrangedoras. Estou... farta, de ausências, de partidas, de silêncios (in)cómodos, de casas fechadas, de mentes sem memória. Ficam... as rosas, dos ventos e dos pensamentos.
    Esta memória é linda e tão amigável, se há estrelas com almas, ou almas com estrelas, sorrirão às flores do portão para lado nenhum!
    Obg RV!

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  17. Boa tarde:- Visitando e gostando muito de ler. A melancolia como companheira da alma.
    .
    Cumprimentos
    .
    ……………Poema de hoje ………………….
    *** Labaredas que aquecem o nosso coração ***

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  18. Estou a um tempinho aqui lendo suas postagens procurando sentir cada detalhe dos seus dias anteriores _ percebo que estivestes ausente e cada um de nós vez ou outra se ausenta uns muito tempo outros voltando devagar,(assim como eu).E,alguns por tempo infinito como o nosso amigo Carlos_excelente jornalista que gostava de opinar sobre politica e sobre a vida. E, partiu para sempre, mas amigos que nem conheceu mas amava compartilhar conversas com ele.Um gentleman ele era!
    Tao lindos seus textos, parece que tem alma neles _ muito lindos!
    Obrigada por oportunizar essa vinda minha aqui na sua página. Vemo-nos sempre por aí, mas ja faz um tempinho que estávamos caladas :))
    Um grande abraço Rosa e apesar do grande oceano que nos separa ,nao temos muros ok? que tal trocarmos palavras e figurinhas já que nao teremos figos nem pessêgos ... rs
    Fica bem, bons dias !

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  19. A rua aqui descrita é real, mas também aqui na rua virtual deste blogobairro, algumas casas vão ficando vazias. Fico um pouco como a Teresa (Ematejoca) a lembrar-me de alguns vizinhos que se foram...

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  20. É bom ler.te.


    As recordações quando são boas minoram um pouco as saudades...

    Beijinho, sonhos bons

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  21. Resta aos "três de lá" voltar a soprar vida para essa casa que tem móveis, cortinas, etc, mas está sem vida.

    Como sei o que é depararmos-nos com isso.
    Dá-se valor e percebe-se o que sempre teve valor. Afinal, não era a casa, não eram as paredes nem os bens materiais. Era a VIDA e as pessoas que faziam a casa, não o contrário.

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  22. É impossível não sentir nostalgia depois de ler este teu texto. Também a casa de meus pais está como essa que tu descreves e, apesar de saber que é impossível mudar alguma coisa, custa-me sabê-la assim.
    Se calhar o sentimento dos filhos desse casal teu vizinho sinta a mesma dor que eu sinto ao ver a casa dos pais abandonada... mas há voltas da vida (e da morte) que não podemos modificar.

    Sabe tão bem ler-te de novo... :)
    Mil beijinhos enfeitados com 🌹
    (^^)

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