domingo, agosto 03, 2025

Poesia ao domingo

 Renúncia


Como nunca vieste, já não venhas.

O mais rico tesouro é o que se nega.

Ágil veleiro doutros mares, navega 

Com as asas que tenhas!


Foge de ti, porque de mim fugiste.

Alarga a solidão que me consome.

E apaga na memória a praia triste

Onde eu pergunto às ondas o teu nome


Miguel Torga

15 comentários:

  1. Miguel Torga fala sobre a renúncia, a ausência e o desejo de libertar-se de algo que não veio ou que se foi. A ideia de que „o mais rico tesouro é o que se nega“ sugere que às vezes o que mais valorizamos é aquilo que deixamos ir, talvez por amor ou por dor. A imagem do veleiro que navega “com as asas que tenhas" é muito poética, transmitindo a ideia de liberdade e de seguir em frente, mesmo sem a presença de quem se deseja. A referência à praia triste e às ondas perguntando pelo nome reforça a sensação de saudade e de uma busca por respostas na memória.
    As minhas raízes transmontanas aplaudem a tua escolha.

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    1. Este poema, como tantos outros reflete o tema da busca de algo que lhe dê conforto.
      Pode ser o amor, o divino, ou mesmo algo que nem ele consegue definir.
      É maravilhoso como o poeta, em duas quadras, consegue dizer tanto.

      Abraço

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  2. Muito verdadeiro e gostei da tua escolha!
    Beijos e um bom domingo!

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    1. Gosto de escolher poemas que digam muito em poucas palavras.

      Abraço

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  3. Uma vez mais, Torga!
    Muito bom.
    Abraço

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    1. Torga nunca desilude, seja em poesia, seja em prosa.

      Abraço

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  4. Este poema pode ser interpretado de tantas maneiras. É como interpretar uma determinada pintura. E o que eu quero realmente saber é o que o autor ou pintor queria transmitir e nem sempre isso acontece. Não quero ficar apenas com o meu parecer, por isso, gosto de ouvir, simultaneamente, a interpretação do objeto da minha admiração – relativamente a quadros, por exemplo, quando estou numa exibição.
    Sabendo que Miguel Torga (tenho apenas um livro dele embora tivesse lido mais que um! 😉) se debruçava sobre o tema solidão, natureza, relacionamento entre humanidade-terra, talvez a renúncia seja uma forma de se libertar das expetativas para o futuro.
    Curiosamente, quando penso em Miguel Torga, penso numa pessoa de espírito forte, sólida, confiante. No entanto, foi um homem que também procurava a sua identidade, o seu objetivo na vida. Vulnerabilidade e Miguel Torga nunca “combinaram” na minha mente. Desde sempre.
    Como interpretas este poema?

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    1. Dizes bem, um poema tem as interpretações de cada leitor.
      Miguel Torga é um ser angustiado na procura do divino.
      Aqui neste poema parece-me que desistiu de encontrar ou ser encontrado por uma revelação que lhe dê serenidade.
      Mas nem sabe bem como chamar a esse sentimento.
      Também é um poeta telúrico, aqui é o mar que o liga à terra.

      .Abraço

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    2. Só dei a minha interpretação porque pediste.
      Deixo às e aos leitores a sua interpretação. 😀

      Abraço

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  5. Um magnífico poema de um grande poeta português.
    Um poema de renúncia, quando já não há nada que se possa fazer...
    Obrigado pela partilha.
    Boa semana.
    Um abraço.

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    1. Miguel Torga é um dos meus poetas favoritos.
      Boa semana também para o Jaime!

      Abraço

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  6. Torga, um dos nossos maiores em todos os aspectos.

    Abraço, boa semana.

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