Foi numa conferência de imprensa da campanha eleitoral para as Presidenciais de 1958 que Humberto Delgado proferiu a célebre frase referente à postura que tomaria em relação a Salazar se ganhasse esta eleição.
- Obviamente, demito-o!
E foi esta frase (entre outras coisas) que ditou a sua sentença de morte.
Depois da derrota eleitoral decorrente da enorme fraude montada pelo regime do Estado Novo, vítima de represálias e alvo de ameaças por parte da PIDE, pede asilo político na Embaixada do Brasil e continua a tentar por todos os processos colocar fim à Ditadura.
Ainda se envolveu na preparação do gorado assalto ao Quartel de Beja em 1962 mas, a 13 de Fevereiro de 1965, é atraído a uma armadilha em Vilanueva del Fresno, na raia espanhola, a poucos kms de Mourão, onde acaba por ser assassinado por agentes da Polícia Política, liderados por Rosa Casaco.
Com ele também é abatida a sua secretária, a brasileira Arajary Campos.
E assim aconteceu!
O seu corpo e o da sua secretária foram descobertos por um pastor num eucaliptal, à beira de um caminho de terra batida.
As duas fotos foram captadas por mim em Junho de 2009 e mostram dois aspectos do Memorial erguido no local onde os corpos apareceram, precisamente na pequena depressão de um riacho bem visível aqui.
Há teses segundo as quais o General Sem Medo teria sido morto noutro local mas não se têm certezas, uma vez que este crime nunca ficou totalmente esclarecido.
De referir que este espaço se encontra quase ao abandono.
Nota:
Se hoje falo aqui de Humberto Delgado, o General Sem Medo, é porque, além da data de 13 de Fevereiro de 1965, quero recordar que, antes do 25 de Abril, quem se opunha ao regime podia ser assassinado, preso, exilado ou exilar-se voluntariamente.
Hoje vivemos em Democracia graças ao sacrifício deste Homem e de muitos outros.
Não o devemos esquecer!
Creio que anda por aí muita gente esquecida!
Anda muita gente esquecida mas o pior é se nesta Democracia se começa a ganhar medo de falar e de lembrar certas coisas.
ResponderEliminarNão estou a gostar de ouvir certos zun-zuns, prevejo ventos de tempestade.
Bjos
Não há que ter receios, Isa!
ResponderEliminarNão voltaremos atrás!
Por muito má que esteja a situação, Democracia é Democracia e eu acredito nela!
Abraço
É bem verdade, Rosa.
ResponderEliminarE então nas escolas, com o fim dos conselhos executivos, esse medo já é bem visível por parte dos mais fracos.
A arrastar-se, entramos em ditadura nas escolas.:(
bji
Há muita gente esquecida e outra que quer fazer esquecer aos outros, homens como Humberto Delgado, a sua honestidade política e a sua coragem! Apesar de tudo, sou da opinião da Rosa dos Ventos: não voltaremos atrás! Com coisas más, a democracia é o melhor sistema que se inventou até hoje.
ResponderEliminarObrigada por nos recordar HD!
Apesar de estarmos em democracia o número de demissões hoje seria bem maior...
ResponderEliminarQuerida Rosa, obrigada por avivares as "nossas" memórias e por este post.
ResponderEliminarBeijinhos.
Obrigada por nos lembrares tão intensa verdade.
ResponderEliminarObrigada, Rosa. É salutar ver que há quem lembre aos distraídos estas coisas.Não nos iludamos, há por aí muitos lobos disfarçados de cordeiros, a meter medo aos incautos. Saibamos analisar correctamente os factos e avaliar criteriosamente a situação económica mundial e as implicações que daí advêm para Portugal, infelizmente, e que arrastam tão alta taxa de desemprego. Não alinhemos em demagogias baratas nem em jogos de Facebook e SMS manobrados por mãos mal-intencionadas. Lucidez, precisa-se. Mais uma vez,obrigada pela oportunidade da lembrança/aviso,GRANDE MULHER!
ResponderEliminarUrze dos Montes
Ainda bem que o recordas ! Sinceramente não me lembrava a data. Não posso esquecer aquela campanha eleitoral, em que, após discursar de uma varanda na Praça Carlos Alberto e se dirigia triunfalmente para a Estação de S.Bento, seguido por mais de 100 mil pessoas, ao chegar à Praça da Liberdade, a polícia a cavalo tentou dispersar a multidão.
ResponderEliminarO pânico gerado foi de tal ordem que milhares e milhares de pessoas procuraram refúgio no sítio mais seguro possível.
Tocou-me a mim (era um miúdo) a igreja dos Congregados onde entrei a muito custo com todos lá dentro a tentar fechar a porta para que a polícia lá não entrasse. O mesmo não conseguiram outros que foram perseguidos nas ruas e no interior de locais públicos.
Este foi o ponto mais alto da contestação ao regime de Salazar e que valeu a Humberto Delgado a burla eleitoral, a fuga para o estrangeiro e o assassinato.
Estes tempos não voltarão. Hoje estamos em Democracia, que pode ser boa ou má, mas é Democracia. Não devemos de modo algum lutar contra ela, mas sim pela sua defesa !
A Democracia foi criada para que o povo pudesse ter a palavra em eleições livres. Essa vontade tem que ser respeitada, sem o qual não estaremos a falar em Democracia.
Findos os actos eleitorais é altura de todos darem as mãos porque deverá prevalecer a vontade da maioria ! Isso é a Democracia !
(Desculpa alongar-me tanto)
Uma vez alcançada, a Democracia nunca mais deverá ser perdida; há muitos que ainda não compreenderam exactamente o que significa viver-se num país democrático.
ResponderEliminarQuerida Rosa
ResponderEliminarParabéns por este post. Grandes Homens andam por aí esquecidos, essa é uma realidade que eu conheço muito bem e de muito perto. Atrevo-me a dizer que conheço quem nunca teve vida própria porque a dedicou á luta pela liberdade durante o fascismo onde passou muitos anos preso, hoje vive poderia mesmo dizer quase miseravelmente, sem ter ninguém que lhe dê a mão.
Beijinho
se anda, Rosa.
ResponderEliminare alguns até estiveram presos, o que torna a coisa mais grave.
abraço
Que bom que recordas aqui este Homem com forte personalidade e grande determinação.
ResponderEliminarQuem dera que os políticos de hoje fossem tão nobres e honestos como entendo que Este foi.
Isso é que está esquecido.
Apesar de vivermos numa Democracia mutilada, a liberdade de dizer o que pensamos não é assim tão real. Não há dúvida que é preciso e urgente recordar as pessoas que deram o seu contributo, para que hoje possamos viver num país melhor.
ResponderEliminarTambém tenho umas fotografias desse local mas, segundo parece, o crime ocorreu na estrada, mas o Casaca e o agente que o acompanhava, terã arrastado o corpo para ali.
Muita gente esquecida?
ResponderEliminarAnda e não é pouca.
Resta saber se inconscientemente ou por opção.
Obrigada pelo registo e pela "nota". Nunca é demais lembrar.
ResponderEliminarE eu devia lembrar esta data porque estava com a filha do Humberto Delgado quando lhe deram, em segredo, a notícia da morte do pai - na explanada da messe de oficiais em Lourenço Marques.
Abraço
A democracia é uma luta constante.
ResponderEliminarEstá sempre em perigo.
Quando a julgarmos como certa estamos a perdê-la.
O terreno das tais crises é fertil para nazis e quejandos.
Por aqui até já se atrevem a aprovar moções de repúdio (na Assembleia municipal)a quem critica livre,responsável e frontalmemnte tais caciques.
Um abraço,
mário
Antes a democracia por uma hora que a ditadura por um segundo.
ResponderEliminarAndava eu na E.I. C.Funchal.
Estáva-mos todosà espera da saída das miúdas quando um polícia levou-nos todos para a esquadra. Éramos uns 10 ou 12 e, qual não foi nosso espanto quando o comissário começou aos berros com o polícia:-Ponham esssa canalha daqui para fora. Nessa altura, também havia quem dentro do regime não estivesse lá pelos ajustes.
RECORDAR É VIVER.
Rosamiga
ResponderEliminarÉ assim mesmo! Cem por cento de acordo. Subscrevo. Miúdo ainda, tinha 17 anos, muito idealismo e muita vontade de mudar, não sabendo muito bem como, mas... Mas tinha.
Andei metido na candidatura do Arlindo Vicente e, quando ele desistiu em favor do Delgado sem-medo, também por lá fui. Verduras da juventude, onde vão elas? Mas, é muito bom recordá-las. Repeti-las-ia.
E tu, minha ventania, trouxeste-me ao presente coisas e loisas que vivi no passado. Num presente como é este, bastante complicadote... Muito obrigado.
Quanto à desgraça que vai acontecer amanhã na Sociedade da Língua Portuguesa, isso são outros quinhentos mil réis. Espero por ti lá, convenientemente equipada. Depois, bom, depois éke serão elas...
Qjs
... e pela Minha Travessa quando éke passas? Já desepero...
ADENDA
ResponderEliminarRosinhamiga: peço-te que me desculpes, mas aqui deixo uma pequena adenda para o Barbosamigo.
Sob a chefia do Rosa Casaco, o inspector Ernesto Lopes Ramos e os agentes Agostinho Tienza e Casimiro Monteiro foram os autores da armadilha e do assassinato de Humberto Delgado e da sua secretária Arajary. A PIDE, aliás, de acordo com o Oliveira Baltazar ou algo assim..., cometeu «um gravísimo erro»...
Foi o Casimiro Monteiro, goês, que matou com vários tiros, o General sem medo. Os outros deram cabo da brasileira, com agressões várias e muito violentas.
Quando estava no DN tive a oportunidade de chefiar um grupo de trabalho que se debruçou sobre o assassínio. Soube muitas coisas sobre o tema e tenho comigo fotocópias de documentos encontrados.
Um destes dias poderei adiantar mais - se estiverem, tu e a Rosa - interessados.
Até amanhã
Abç
ADENDA 2
ResponderEliminarNão vamos deixar cair a Democracia. Nem pó! Ela não cairá!
Qjs & abçs
Também não me lembrei da data , mas nunca me esquecerei da sua viagem a Bragança na campanha eleitoral. Tinha eu 13 anos , a Praça da Sé e arredores estava á pinha quando ele assomou á varanda da Pensão Moderna .
ResponderEliminarFaltámos á aula de Português , mas nada nos aconteceu além da falta. No entanto uma aluna entregou-lhe um ramo de flores e foi expulsa imediatamente do Liceu.
O Salazarismo praticava uma modalidade "Suave" de fazer política e, nem em campanha, perdoava a liberdade de expressão dos seus opositores.
ResponderEliminarSonso, aquele saloio de Santa Comba Dão.
Bjs
Obrigada por lembrares Rosa. Anda efectivamente por aí muita gente a brincar com a Democracia e com o esforço de muitos para a conquistarem, principalmente porque se andam a servir dela em vez de a servirem.
ResponderEliminarBj
Impressionou-me este feito, sempre.
ResponderEliminarQue homem mais valente!!!
O meu pai admirava-o, o mesmo que eu. Diria, sem equivocar-me, que no Porto e Norte arrasou.
Então, pela juventude e poucas possibilidades de manifestação, depois pela acomodação, ninguém voltou a falar dele.
E Espanha aceitou isso! Claro, se aceitou que fosse à forca o possível Rei Sebastião, ou o pasteleiro de Madrigal!...
Não conheço nenhuma biografia dele. Sabes de alguma que mereça a pena?
Um grande abraço e o meu agradecimento pela iniciativa.
Parabéns,Rosa.Sabes sempre postar assuntos que merecem milhentos comentários que leio com o maior interesse,me ensinam e levam a não me deixar encinzentar pela poeira que me circunda.Sejam os temas as violetas selvagens que vão desaparecendo,as paisagens, os trilhos das tuas passeatas,ou esta efeméride que me deu um murro no estômago porque, para além de tudo, e sobretudo,me lembrou o dia em que eu e minha Mãe votámos "obrigatóriamente" pela primeira vez
ResponderEliminar(éramos profs)numa freguesia onde se contavam pelos dedos os eleitores e não conseguimos vencer o medo de perder o pão.Dói tanto...Abraço Kinkas
Aplaudo de pé o teu post, pois começo a preocupar-me com o que vejo e a enfurecer-me com determinados desplantes!
ResponderEliminarBem hajas.
O neto com o mesmo nome, foi meu aluno, e em Espanha já visitei o local, causou-me arrepios...
ResponderEliminarBjs
O teu comentário ao 1º de nós diz tudo: estive na Prç. Carlos Alberto, tão pequena que não percebia a alegria. Era um sopro dos humildes.
ResponderEliminarHoje entendo e NUNCA voltaremos, estou segura.
Do menor dos males, da Democracia onde o parlamento se diverte a discutir floretes, ainda é um BEM estarmos aqui, a falar. E a ver. E a contestar.
Grata por estas imagens: assim nos enriquecemos.
Bjinho
É preciso não esquecer, Rosa, e ir dizendo aos mais novos!
ResponderEliminarUma lição de História, o teu post!