segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Dificuldades de leitura...

Em toda a minha vida de leitora, já bem longa, abandonei apenas um livro.
O marcador que repousa na página 119 de "Samarcanda" de Amin Maalouf lembra-me esse insucesso - não consegui desenvolver qualquer tipo de empatia por esta obra.
Nos finais de Novembro, no Clube do Livro que frequento há uns anos, foi seleccionado "Conversa n´A Catedral" de Mario Vargas Llosa, para ser debatido nos finais de Janeiro.
Durante parte do mês de Dezembro deixei repousar as 630 páginas deste romance. Quando finalmente iniciei a sua leitura deparei-me com algo de muito complexo.


Neste romance coexistem quatro narrativas que vão surgindo, com avanços e recuos no tempo e no espaço, com novas personagens que se cruzam com dois homens, digamos amigos, um de raça negra, antigo motorista do pai do outro, filho de uma família abastada, homens estes que conversam sentados a uma mesa de uma taberna chamada "A Catedral", na cidade de Lima, capital do Peru, na época conturbada da ditadura do general Manuel A. Odría. Ambos, cada um à sua maneira "em fim de linha".
São histórias de amor, amizade, cumplicidade, solidariedade, de resistência mas também de corrupção de toda a ordem, de preconceito racial e social, de violência, de crime, de miséria, de medo, de desencanto, de prostituição, de homossexualidade....
Uma visão "caleidoscópica" de uma época, de um povo.
Comecei por iniciar a leitura normalmente, mas perante tanta complexidade, optei por colocar setas para assinalar a saída de uma narrativa e entrada noutra, seguidamente, para melhor me situar, desenhei chavetas, delimitando assim os vários contextos que se iam sucedendo, voltando várias vezes atrás para ler de seguida cada núcleo, até que voltei à fórmula normal, inicial e lá entrei no ritmo aparentemente desconexo de todo o enunciado. Isto só lá para meio da obra...
O livro vai ser analisado dia 24 de Fevereiro, depois de um adiamento e eu terminei-o ontem.
Sinto-me satisfeita por ter conseguido ultrapassar as dificuldades surgidas e concordo com o que está registado na contracapa.
"Um romance que, mais do que um marco na carreira literária do autor, é uma referência inevitável na história da literatura universal".

Nota: Gostaria de saber a vossa opinião sobre este livro, se por acaso já o leram, se já sentiram dificuldades de leitura deste tipo ou se já abandonaram alguns livros...

22 comentários:

  1. Ai, ai! Já abandonei dois romances do António Lobo Antunes. Daqueles em que ele deixa as frases e as próprias palavras a meio. Não consegui entrar e tentei mais do que uma vez. Mas tenho tantos livros para ler, que passei para outros e não me ralei nada!
    Este ainda não li.

    ResponderEliminar
  2. Não li.
    Logo, não posso emitir opinião.

    ResponderEliminar
  3. Rosa, eu li este livro há mais de 20 anos, e não me lembro de ter feito uma leitura tão organizada: antes me recordo de ter mergulhado nele como se mergulhasse numa queda de água, e deixei-me ir. E fiquei para sempre admiradora de Llosa como escritor (porque como homem é outra coisa...).
    Abandonar livros? No tempo da livraria fazia-o quase todas as semana, quando, perante um escritor novo e desconhecido, me deparava com páginas "desgrenhadas" e sem fÔlego!
    Dos grandes, não consegui ler "Ulisses" até ao fim - mas sei que não fui a única:)))
    Beijo e boas leituras!

    ResponderEliminar
  4. Um dos poucos livros que li de Vargas Llosa foi “A festa da cabra”. Esse ainda não li.
    O primeiro livro que não consegui ler até ao fim (nem metade o li) foi “Um Delicado Equilíbrio” de Rohinton Mistry, um escritor nascido na Índia e residente no Canadá.
    O autor conseguiu retratar tão bem as vivências tão pungentes e dolorosas dos personagens que chegou a uma certa altura em que as imagens não me saíam do pensamento e me deprimiam. Gosto de ler mas não gosto que a leitura me entristeça.

    ResponderEliminar
  5. Rosa minha amiga
    Tal como a Catarina também o único que li de Vargas Llosa foi "A feasta da cabra", que por sinal foi uma amiga que me emprestou. Este não conheço. Valeu a dica. Obrigado.
    Beijinho

    ResponderEliminar
  6. Querida Rosa, nuca li esta obra, mas pelo que dizes deve ser um pouco denso. Tenho a meio há cerca de dois anos o Evangelho do Saramago. Não anda, não sei porquê, visto ter adorado o Memorial do Convento :O
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  7. Já abandonei alguns ... que me lembre quase todos de António Lobo Antunes ( que teimo em começar! ) e um do António Damásio. Do Vargas Llosa gosto muito, pese embora o seu pendor político ... Li quase todos e também as Conversas n'A Catedral.Nesses livros com histórias entrelaçadas tenho uma "metodologia" - só os leio quando tenho tempo de o fazer de seguida ( numa semana ou menos).
    Mas gostei muito. Tenho agora para ler dele " O sonho do Celta".
    Obrigada pela partilha e por essa ideia de "organização" da leitura.

    ResponderEliminar
  8. Rosa dos Ventos
    Gosto de Vargas Llosa, mas ainda não li este livro de que falas. No entanto, apesar da complexidade, deixaste-me com "água na boca". Mas já percebi que é o tipo de livro que eu gosto de ler quando tenho disponibilidade tanto de tempo como emocional, talvez nas férias.
    Quanto a deixar livros a meio, enfim, é um direito do leitor!

    ResponderEliminar
  9. Este livro ainda não li.
    Dois que me lembro ter deixado logo no início (pág. 40 ou 50): O nome da rosa (Eco) e Equador (MST).

    Um abraço.

    ResponderEliminar
  10. Já deixei livros a meio e outros nem sequer os abri. Apesar de ter excesso de peso e "mais olhos que barriga", ando a “tratar-me”, i.e., tento substituir o apetite gastronómico pela leitura. Será que vou ter sucesso?

    ResponderEliminar
  11. Fui agora ver! Ainda tenho o marcador na página 72 de "Cem Anos de Solidão" (são 328) ! :)))
    É que não consigo mesmo ! :(((
    Na realidade não sou um bom leitor !
    .

    ResponderEliminar
  12. Não li este livro e, de Vargas Llosa tenho para ler «O Paraíso na outra esquina» e «Travessuras da menina má».
    Já deixei a meio dois de A. Lobo Antunes e suspendi «Ensaio sobre a cegueira» que mais tarde acabei e de que gostei, afinal!
    Esta organização da leitura parece-me excelente mas não tenho tanta paciência! Quando muito, tiro notas na última página em branco, para lá voltar mais tarde.

    Obrigada pelas dicas!

    ResponderEliminar
  13. Claro, não li. Estou, feita parasita, à espera do dia 24 para ouvir a troca de ideias das corajosas e corajosos que enfrentaram tal tarefa.Se o ler algum dia,tens que me emprestar o teu com «leitura orientada»...
    Abandonei o Ulisses,por exemplo,e mais que não me ocorrem.Abraço Kinkas

    ResponderEliminar
  14. Nunca o li.
    Deste grande senhor, aliás, só conheço a obra prima "Travessuras de uma menina má", que o meu Nando me ofereceu antes de ter ganho o prémio Nobel.(se não leste, aconselho.)

    Foram várias as obras que já pus de lado, porque ler tem que ser um prazer...a não ser que seja obrigada a, para ensinar.
    Se te disser que "Memorial Do Convento" me fez não suportar Saramago, acreditas?
    Iniciei a leitura variadíssimas vezes...mas não consegui.
    Recordo-me de me ter acontecido o mesmo com outra obra do autor, cujo nome não me recordo...e desisti de Saramago.
    (se um dia tiver que leccionar 12º-até agora, em Português só cheguei ao 11º ou nocturno, quando havia recorrente, e todos os níveis de Francês)

    Há tempos comprei "Tudo o que eu tenho trago sempre comigo", de Herta Muller, prémio nobel em 2009. Está parado, também.

    Boas leituras e beijinhos

    ResponderEliminar
  15. (Dizia que, se um dia tiver que leccionar o 12º, lá serei obrigada a ler.:))
    bji

    ResponderEliminar
  16. Se me permite um conselho, tente novamente ler Samarcanda. Um dos bons livros de Amin Malouf

    ResponderEliminar
  17. E por falar em dificuldades… coloquei uma adivinha no meu blogue e apesar das pistas que lá deixei até agora ninguém conseguiu descobrir de quem se trata. Aceita(m) o desafio?

    ResponderEliminar
  18. Nunca o li por isso não tenho opinião mas, já abandonei alguns...geralmente nunca leio Saramago de uma vez, faço sempre pausas.
    Bjs

    ResponderEliminar
  19. Caro Carlos Barbosa de Oliveira

    Agradeço o conselho que também foi reforçado por uma cunhada...
    Irei então "lançar-me" a "Samarcanda", brevemente!

    ResponderEliminar
  20. Sou uma incondicional leitora de Saramago!
    De António Lobo Antunes só leio crónicas.
    Ulisses nunca li...
    Gostei de "O Nome da Rosa" e também de "Equador" (o único que li de MST).
    Enfim! Tanto livro que há para ler!
    A dificuldade está na escolha!

    Abraço a todos

    ResponderEliminar
  21. não li, mas pelo que contas é um daqueles livros que nos desafiam, página a página, Rosa.

    abraço

    ResponderEliminar
  22. Rosa dos Ventos,
    este livro foi a minha companhia o Verão passado. É realmente uma narrativa complexa e com um emaranhado de núcleos que não são fáceis de seguir. Como estava de férias, pude lê-lo de forma contínua, o que facilita muito a compreensão de todo o enredo.
    E cheguei ao fim com a impressão de ter acabado de ler uma obra-prima! Ainda bem que Vargas Llosa levou o Nobel para casa.

    ResponderEliminar