O gato e a raposa andavam em parelha a correr o mundo. Eram amigos apesar de a raposa estar sempre a depreciar o compadre.
- Afinal de contas, amigo gato, porque não aprende mais truques para fugir dos cães que nos perseguem? Sempre ouvi dizer que é muito inteligente. Será verdade?
- Sei subir rapidamente às árvores. É o que me basta. Vivo muito bem assim. Os cães nunca me apanharão.
A raposa esboçou um sorriso matreiro:
- Só sabe isso? Eu sei noventa e nove truques diferentes. Conheço mil manhas, uma melhor que a outra. Finjo-me de morta, escondo-me nas folhas secas, nas moitas, corro em ziguezague, disfarço as minhas pegadas...
Ela continuou a enumerar todos os seus truques e não ouviu uma matilha que se aproximava. O gato, muito rápido, subiu à árvore mais próxima. A raposa, perseguida de perto, começou a pôr em prática todos os seus truques. Mas em vão. Os cães acabaram por alcançá-la. De cima da árvore, bem seguro, o gato pensou consigo mesmo: " Pobre comadre raposa. É sempre preferível saber bem só uma coisa a saber mal noventa e nove coisas diferentes."
Fábula de Esopo adaptada por Monteiro Lobato
Nota:
Ao ler esta fábula que desconhecia, apesar de ter estudado muitas dezenas delas com os meus alunos, interroguei-me seriamente sobre a coisa que eu saberia fazer muito bem...e não encontrei.
Pelos vistos sou mais do tipo raposa...
E o/a cara visitante, como se classifica?