No regresso de Serpa passei pela Vidigueira onde visitei o Museu Municipal que é de não perder.
O edifício é uma antiga Escola Primária (como se dizia antigamente) e a sua criação tem uma história muito curiosa que não vou contar.
A 1ª sala recria uma sala de aulas, com todos os objectos da época, mapas, caixa métrica, livros, etc.
Numa das paredes estava um texto que fotografei mas que não sairia nítido aqui, por isso resolvi transcrevê-lo.
"(...) sabendo ler e escrever, nascem-lhes ambições: querem ir para marçanos, caixeiros, senhores; querem ir para o Brasil. Aprenderam a ler! Que lêem? Relações de crimes; noções erradas de política; livros maus; folhetos de propaganda subversiva. Largam a enxada, desinteressam-se da terra e só têm uma ambição: serem empregados públicos. Que vantagens foram buscar à escola? Nenhuma. Nada ganharam. Perderam tudo. Felizes os que esquecem as letras e voltam à enxada. A parte mais linda, mais forte, e mais saudável da alma portuguesa reside nesses 75% de analfabetos."
Virgínia Castro e Almeida "O Século" 5 de Fevereiro de 1927
Dos cadernos que têm vindo com o DN intitulados "As Estórias Nunca Contadas Pela História", faço a transcrição de um extracto do JN de 11/07/1926 intitulado:
A Educação das Mulheres
Na sua admirável conferência sobre a educação da mulher o sr. dr. Serras e Silva fez simultaneamente obra de doutrinário, de sociólogo e, sobretudo, de educador.O eminente professor da Universidade de Coimbra falou largamente sobre a vida interior da mulher.(...) A mulher, que tem o sentimento do modernismo, não faz o menor esforço para aperfeiçoar em si as grandes qualidades que exaltam sempre o que nela há de mais nobre e mais puro. Inferioriza-se lamentavelmente, sempre que pretende aproximar-se do homem, lançando-se numa reivindicação de direitos, que não é própria nem da sua sensibilidade, nem do seu sexo.
Salazar já tinha feito uma breve incursão a Lisboa em 1926, voltou para Coimbra e só regressaria de vez em 1928 mas o ambiente que se iria degradar ainda mais na área da Educação já tinha destas iluminadas elites a opinar sobre a educação do povo em geral e daquela "espécie de sub-género" chamada mulher!
Quando é que o nosso país se livra deste ferrete?
É que ainda há por aí muita "gente" a pensar desta maneira, sobretudo no que diz respeito às mulheres.