Ando a ler "O Ano da Morte de Ricardo Reis", de José Saramago.
Aliás, uma das minhas grandes penas é já não ter tempo para ler as muitas dezenas ou talvez centenas de livros que estão arrumados na minha livraria, que não é de pedra como "A Livraria do Mondego".
A páginas tantas surge um extracto que me trouxe à memória uma forma, um sabor, um cheiro, uma textura que sempre identifiquei com as férias de Verão, na Nazaré, quando era miúda.
"Ricardo Reis dissera ao gerente, Mande-me o pequeno-almoço ao quarto, às nove e meia, não que pensasse dormir até tão tarde, era para não ter de saltar da cama estremunhado, a procurar enfiar os braços nas mangas do roupão, a tentear os chinelos, com a impressão pânica de não ser capaz de mexer-se tão depressa quanto merecedora a paciência de quem lá fora sustentasse nos braços ajoujados a grande bandeja com o café com leite, as torradas, o açucareiro, talvez uma compota de cereja ou laranja, ou uma fatia de marmelada granulosa, ou pão-de-ló, ou vianinhas de côdea fina..."
E as vianinhas que eu só comia na Nazaré, não as havia na minha aldeia, ganharam forma ali, naquele tabuleiro carregado por Lídia, a criada do Hotel Bragança.
Lembrei também os papo-secos, termo que ainda uso, teimosamente, renitente a pedir:
- Dê-me meia dúzia de bolinhas, por favor!
Já não há papo-secos, já não há vianinhas, só há bolinhas.
E são uma lástima!
Sabem a plástico...
Eram assim as vianinhas e a foto é da net.
Também comi vianinhas mas compradas numa padaria da Av.de Roma. Será que ainda há? Qualquer dia passo para ver.
ResponderEliminarAbraço ( também ando cheia de tentações em relação a livros lidos há muito tempo ... mas os outros, Senhor?)
Tão boas as vianinhas! Lá em Algés havia e a minha avó, aquela que tu conheceste, comprava-as só para mim. (Por isso é que eu sou, ainda, uma mimalha...) O "Ano da morte de Ricardo Reis" também é muito bom. Para mim é o melhor dos livros de Saramago.
ResponderEliminarObrigada pelas vianinhas...
Eu descia as escadas interiores e chegava à saída da fornada das vianinhas, que eram comidas ainda quentes, com a manteiga caseira a derreter...
ResponderEliminarAi saudade do cheiro do pão cozido em forno de lenha...
Um abraço.
Pelas minhas bandas ainda há papo-secos, alguns feitos em forno de lenha. Ao pequeno-almoço, estaladiços, são uma delícia!
ResponderEliminarBeijo :)
um texto ternurento de alguém que saboreia a vida. Grande beijinho
ResponderEliminarHá quanto tepo não como uma Vianinha!
ResponderEliminarHummm! Estaladiças e apetitosas, há muito tempo que não como estas delícias! É a globalização no seu pior, «o mundo pula e avança» esquecendo coisas tão boas como as vianinhas.
ResponderEliminarAbraço
O que a literatura nos pode oferecer, quando sabemos ler com todos os sentidos! Saboreia bem a tua vianinha, Rosa e continua a pedir papo-secos, que a isso chama-se resistência!
ResponderEliminarNem me fales em vianinhas, viriatos, e outros afins engordiets que desde que os Reis chegaram as calças já custam a passar (sabem bem aonde) hehe.
ResponderEliminarOlha deixei recado nesta rapariga que está aqui acima de mim. Vai lá ver e organizem-se se puderem.
beijos daqui da serra.
Devem ser maravilhosas, paz.
ResponderEliminarBeijo Lisette
Ontem não consegui deixar comentário.
ResponderEliminarDeixo hoje um beijinho!
Quando peço papo-secos por cá ficam sempre a olhar para mim como quem diz: "Mas de que planeta é que este vem?"
ResponderEliminarSérgio (o teu!):-)
Vem do planeta materno! :-))
ResponderEliminarBisous
As "vianinhas" cá (norte) eram de pão de regueifa e mais alongadas, tipo barco.
ResponderEliminarEstas eram "pão dos 4 cantinhos"... Luxos que a avó dava, a avó que se levantava cedo e fazia a sopa com horas de fervura...
Nunca pedirei papo-secos na vida: à necessidade de parecer normal em outras paragens, pedirei "aquele pão".
Quanto a Ricardo Reis e "todo o programa", ando a reler "cadernos"dos anos 90 e que actualidade!!!
Também não "darei a volta à biblioteca": resta-nos o sedimento de tanto!
Bjinho da bettips
Já agora, que falei bastante, acrescento: o pastor era de Monchique, sorria há 20 anos... Eu pasmei os meus sonhos a conversar com ele.
ResponderEliminarA pastora era do Alto Minho, há mais de 10 anos: também com ela soletrei o amor dos bichos e a ligação da terra (era emigrante e voltou).
Coisas que enriquecem almas.
As nossas.
Bettips
... aqui por estas bandas ainda há vianinhas mas... os fornos de lenha eram uma vez, salvo uma ou outra excepção.
ResponderEliminarÉ uma desgraça a terminologia que invadiu as padarias. Um dia destes (que me calhou comprar o pão) distraido pedi alto e bom som "seis bolas e uma raquete". Do outro lado da rede, a padeira retorquiu perguntando "mas vem jogar ténis de mãos vazias?!"
Abraço e sorrisos.
Só tu, Legível!
ResponderEliminarO teu humor é uma prenda matinal!:-))
Abraço
Anda por aqui o Pavlov|Não é que à conta das vianinhas, que também só conheci na Nazaré, me lembrei da batata doce assada pelo padeiro (também na Nazaré) no seu forno gigante e a punha loirinha por dentro e a pingar um melzinho de sabor único ? Ainda dou cabo do computador com esta torrente de saliva.Ai os meus sabores de infância, esquecendo os amargos anos em que andei no Liceu porque almoçava papo-secos da véspera com compotas caseiras e outras coisas que punham a cabeça em água a minha Mãe para inventar recheios para os almoços de cada um dos três filhos.O MORES! Abraço Kinkas
ResponderEliminarNa Nazaré comia as vianinhas com manteiga, como a Maria, com marmelada, como a do Hotel Bragança e com doce de tomate que a minha mãe fazia "às toneladas", provavelmente por ser o que ficava mais em conta! :-))
ResponderEliminarNão me lembro da batata doce,amiga Kinkas...
Prometo não voltar a falar tão depressa dos sabores da infância, não vá o teu computador avariar!:-))
Abraço
Já calculava que os olhos iam fugir e fugiam para as mesmas belezas... Bjinho
ResponderEliminarO livro que refere, para mim,
ResponderEliminaré o mais interessante.
Beijoca
Gostei particularmente do trecho que escolheu. Identifico-me bem com o desconforto de começar o dia em sobressalto, atarantada pela pressa que é incompatível com a letargia matutina. Também nisso os livros são 'saborosos': tantas vezes espelham o nosso próprio sentir.
ResponderEliminarContinuação de boas leituras e de redescobertas gastronómicas :)
Só conheço uma padaria que ainda as faz.
ResponderEliminarVou lá quando tenho mais tempo. Trazem-me lembranças boas da infância.
Um beijo
Hummmm...apetitosas essas vianinhas...um dia desses gostaria de amanhecer como Ricardo Reis :o)
ResponderEliminarAgora que foste para a praia é que me deu para bater de novo à tua porta.
ResponderEliminarE não é que me fizeste crescer água na boca com esta foto?
Pois é, hoje é tudo de plástico. Se falarmos na fruta vendida nos supermercados temos a triste sina de a comprar já cozida pelos muitos frigoríficos por onde passam até chegar às nossas mãos.
Pronto... eu não voltei para chorar sobre o leite derramado.
Qualquer dia a gente volta a falar-se.
Beijosssss
Vianinhas é a baguette viennoise?
ResponderEliminarUm pão de tamanho médio com massa parecida ao brioche, só que alongado e cheio de depressões ao longo da baguetinha?
Ainda é encontrado em muitas padarias francesas. Pelo menos era, até há alguns anos. Será que ainda se encontra deste tipo?
Na França viennoiseries é um termo genérico de vários tipos de pães com a mesma massa