Um post lido ontem em "O Casario do Ginjal" do Luís Milheiro lembrou-me um episódio que tinha vontade de aqui contar e que só a preguiça o tem impedido porque o texto vai ficar longo.
Descia com a minha cunhada mais velha, que além de cunhada é sobretudo uma grande amiga desde o tempo do liceu, do Príncipe Real para S. Bento, quando deparámos com imensa tralha a atafulhar o estreito passeio por onde caminhávamos, à saída de um prédio antigo onde se realizavam obras num dos apartamentos.
No meio do lixo destacavam-se dois enormes sacos de plástico muito sujos e cheios de livros.
Com a cumplicidade e a curiosidade que nos une, começámos logo a vasculhar para descobrirmos que tipo de livros seriam aqueles.
Entretanto desce um operário que olha com espanto aquelas senhoras armadas em "trapeiras".
Perguntámos-lhe, com alguma insegurança, se tudo aquilo seria para deitar fora, ao que ele respondeu que se ali estava era porque nada prestava e seria esse o seu destino. Afastou-se e nós continuámos a nossa "investigação".
Perante o nosso espanto, encontrámos:
17 volumes da obra de Eça de Queirós, da Livraria Chadron, de Lello & Irmãos Lda. , cujas datas de emissão iam de 1920 a 1928, encadernados em percalina vermelha;
5 volumes em francês das Obras Completas de Lamartine, de Pagnerre - L. Hachette et Cie. - Furne et Cie., de 1855 a 1858 (em numeração romana );
2 volumes da obra de Júlio Verne, em português, de 1887 e 1888, de David Corazzi, Editor e um volume de 1890 já da Companhia Nacional Editora, devido ao encerramento ou venda da editora anterior.
Os três volumes em percalina verde.
Ainda havia outros livros que não vale a pena referir para não alongar excessivamente a narrativa.
De forma alguma iríamos deixá-los ali, sujeitos ao despejo num ecoponto ou numa lixeira juntamente com tudo o que se acumulava ao fundo da escada e no passeio.
Embora cansadas, lá carregámos com os sacos ainda umas centenas de metros até ao apartamento da minha cunhada e limpámos-lhes o pó e as teias de aranha.
Agora já se encontram em minha casa, à espera do Verão, para, com vagar, decidirmos o que fazer a este espólio.
Diante de um crime como este, porque deitar livros para o lixo deveria ser considerado crime, interrogámo-nos:
- Quem teria sido capaz de cometer tamanha barbaridade?
Como é óbvio os operários apenas executam ordens e, pelos vitsos, nenhum deles tinha gosto pela leitura...
Eu bem avisei que isto ia ficar longo, mesmo com muitos cortes na narrativa e nas considerações tecidas à volta do rocambolesco episódio.
As imagens ilustram os factos e o título procura lembrar o dia que se comemora hoje.