segunda-feira, setembro 21, 2009

Chagrin d´école

É este o título do último livro de Daniel Pennac.
Deste autor apenas conhecia "Comme un roman" na versão portuguesa.
Emprestado por um amigo, iniciei a leitura de "Chagrin d´école" em francês e, neste início do ano lectivo, gostaria de deixar aqui um pequeno extracto que me atrevi a traduzir para os professores no activo, para os que, mesmo aposentados, continuam a preocupar-se com o insucesso escolar, enfim para todos os que têm preocupações no domínio pedagógico e que têm a gentileza de me visitar.
"A todos aqueles que julgam a constituição de "gangues" como sendo um fenómeno dos subúrbios dos grandes centros urbanos, digo: tendes razão, sim, o desemprego, sim, a concentração de excluídos, sim, os reagrupamentos étnicos, sim, a tirania das marcas, a família monoparental, sim, o desenvolvimento de uma economia paralela e os tráficos de toda a ordem, sim, sim, sim... mas livremo-nos de subestimar a única coisa sobre a qual nós podemos agir, pessoalmente, e que data dos primórdios dos tempos pedagógicos: a solidão e a vergonha do aluno que não aprende, perdido num mundo onde todos os outros aprendem.
Só nós podemos tirá-lo dessa prisão, quer estejamos ou não formados para isso."
Daniel Pennac, ele mesmo professor, oriundo de uma família sem qualquer tipo de problema, sabe do que fala neste livro. Foi, inexplicavelmente segundo os conceitos vigentes, um péssimo aluno (un cancre, em francês), e relata-nos com mestria mas também com uma simplicidade desarmante, o seu percurso escolar cheio de insucesso, o encontro de professores-salvadores e a sua actividade profissional marcada pela compreensão deste flagelo.

10 comentários:

  1. Sem dúvida um livro a ler e não só para professores.

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  2. Mais uma vez,"merci" por trazeres a público o que te agradou, neste caso,a nível pedagógico.Pousaste de lado as escapadinhas kilométricas e brindas-nos com um convite para um novo percurso.Se a "malta" estivesse mais atenta ao discurso de Pénac,talvez conseguisse perceber outros mundos,digo eu,que já não tenho nada a ver directamente com assuntos do género...estou numa de "descanso e sopas".Obrigado Amiga!Kincas

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  3. Passaste então o fim-de-semana toooodo a ler Pennac!E estás a partilhar a leitura, que bom:))

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  4. Como nos encontramos na 5ª feira, espero que tragas o livro, mas não te livras, pelo menos, de falar dele. Não há tradução portuguesa? É que o meu francês, tal como outras coisas, já não é o que era!...

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  5. Era óptimo que os Profissionais do ensino, hoje em dia, tivessem esse tipo de preocupações.

    Salvavam-se os alunos do insucesso escolar.
    Salvavam-se os pais de ter filhos sem saída profissional futura.
    Dignificava-se a classe mais criticada nos dias de hoje, aliada à dos profissionais da Justiça.

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  6. Apontamento muito oportuno. Vivi a alegria de alunos que ganharam autoestima e "mudaram de vida" quando pequenos sucessos escolares foram acontecendo e aprender passou a ser "normal". Mas são precisas condições especiais para que esses alunos possam ter uma aprendizagem "igual". E isso nem sempre foi possível. Mas há tantos, tantos exemplos de sucesso que não valia a pena haver tantos, tantos exemplos de insucesso!

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  7. Quanto amor pelo assunto "educação" eu percebo aqui.
    Quanta coragem , a desse amor.
    Quanta vivacidade na alma.
    Estou impressionada, pois, tais problemas são muito mais intensos cá no Brasil assim como tão mais intensas as consequências.
    Se permite, vou copiar o trecho que colocastes entre as aspas, e enviar por e mail a quem trabalha com educação por aqui.
    Obrigada e quero dizer que estou comovida com tal coragem,esta tua, a de manteres-te de mãos dadas com a vida.

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  8. Olá.

    Li Daniel Pennac há umas semanas. Dele li o Mágoas da Escola.

    Tanto gostei, que logo o pus a circular e, na primeira reunião geral de docentes, aconselhei-o vivamente.

    Fica um extracto :
    "A ideia de que é possível ensinar sem dificuldade deve-se a uma representação etérea do aluno. A sabedoria pedagógica deveria representar-nos o cábula como um aluno tão normal quanto possível: o que justifica plenamente a função de professor uma vez que temos «tudo» a ensinar-lhe, a começar pela própria necessidade de aprender!"

    Parabéns pela lembrança.
    ;)*

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  9. ... hoje não ironizo que o tema é demasiado sério para tal. Concordo com Pennac, exceptuando o final da citação: "... estejamos ou não formados para isso." Melhor será, que sim. Digo eu que não sou nem nunca fui docente mas que me interesso pelo sucesso escolar de todos os jovens deste país... e dos outros.

    abraço e sorrisos.

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  10. Quando se é ou foi professor tem-se sempre a sensação que em algum ponto do nosso percurso profissional não desenvolvemos todas as estratégias para salvarmos alguma criança ou adolescente do naufrágio de insucesso!
    Falo por mim... :-(

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