quinta-feira, janeiro 29, 2009

Sinfonia de uma noite inquieta

Dormia tudo como se o universo fosse um erro; e o vento, flutuando incerto, era uma bandeira sem forma desfraldada sobre um quartel sem ser. Esfarrapava-se coisa nenhuma no ar alto e forte, e os caixilhos das janelas sacudiam os vidros para que a extremidade se ouvisse. No fundo de tudo, calada, a noite era o túmulo de Deus (a alma sofria com pena de Deus).
E, de repente - nova ordem das coisas universais agia sobre a cidade - , o vento assobiava no intervalo do vento, e havia uma noção dormida de muitas agitações na altura. Depois a noite fechava-se como um alçapão, e um grande sossego fazia vontade de ter estado a dormir.
Bernardo Soares, Livro deo Desassossego

terça-feira, janeiro 27, 2009

A bruxa sou eu

Há muito tempo que não vos propunha um enigma para decifrarem.
Pois aqui está um...
Uma pista , para vos facilitar a tarefa - a bruxa sou eu!

sábado, janeiro 24, 2009

A Viagem do Elefante


Foi mais um livro que acabei de ler no âmbito do clube de leitura que frequento.
Gosto muito do estilo narrativo de José Saramago, da sua fina ironia, da intertextualidade com que deparamos a cada passo e da maneira como vai modelando as personagens, neste caso o cornaca (condutor e tratador do elefante) sofreu um tratamento muito especial.
Desta vez, sobretudo a partir da passagem por Itália, reforcei a leitura com a consulta de um atlas, para seguir o elefante Salomão, rebaptizado Solimão pelo arquiduque Maximiliano (genro de Carlos V) a quem fora oferecido pelo nosso D. JoãoIII, aquando da estadia do dito arquiduque em Valladolid.
O último Jornal de Letras, Artes e Ideias traz uns artigos muito interessantes sobre Gilda Lopes Enarnação, a leitora de Português na Universidade de Salzburgo, que colocou o nosso Prémio Nobel na pista do elefante.
Nota: e não é que na página 235 surge uma referência à frase introdutória ao romance Ana Karenina e que postei aqui há pouco tempo?

quarta-feira, janeiro 21, 2009

Há vizinhos assim...


As camélias da minha vizinha são bem melhores que as minhas!
Pena é só poder vê-las aos quadradinhos...
Há vizinhos assim!

segunda-feira, janeiro 19, 2009

À espera de melhores dias


Eles hão-de chegar e então voltaremos a ler o jornal ao sol, no quintal, voltaremos a jogar conversa fora, voltaremos a rir, voltaremos à normalidade conquistada a muito custo!

sábado, janeiro 17, 2009

Claridade

Porque amanheceu um dia claro, porque gosto de Miguel Torga e faz anos que morreu, aqui vos deixo um poema que nos pode deixar mais iluminados, mais leves, mais limpos.


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Clareou
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Vieram pombas e sol,
E de mistura com o sonho
Pousou tudo num telhado...
Eu destas grades a ver
Desconfiado.
Depois
Uma rapariga loura
( era loura )
num mirante
estendeu roupa num cordel:
roupa branca remendada
que se via
que era de gente lavada,
e só por isso aquecia...
E não foi preciso mais:
Logo a alma
Clareou por sua vez.
Logo o coração parado
Bateu a grande pancada
Da vida com sol e pombas
E roupa branca, lavada..
Miguel Torga

quinta-feira, janeiro 15, 2009

Perfeito?

Perfeito, perfeito só este amor!

segunda-feira, janeiro 12, 2009

O desabrochar...

O desabrochar da orquídea, apesar do frio!

sábado, janeiro 10, 2009

O Tempo...

Porque nunca é demais lembrar os grandes e excelentes escritores da nossa Língua, aqui fica mais uma frase do Padre António Vieira retirada da revista Única do Expresso de hoje:

"Não há poder maior no mundo que o do Tempo. Tudo sujeita, tudo muda, tudo acaba."

terça-feira, janeiro 06, 2009

É a guerra...

"É a guerra aquele monstro que quanto mais come e consome tanto menos se farta." - Padre António Vieira

O conflito do Médio-Oriente, que nos entra todos os dias olhos dentro a partir da televisão, tem-nos dado a oportunidade de ver as diferenças abismais existentes nos dois lados.
Tirando a dor e as lágrimas perante a morte de seres queridos que são iguais nos palestinianos e nos israelitas, constatamos no cenário apresentado pelos reporteres que, apesar dos rockets do Hamas, tudo se encontra a funcionar dentro da normalidade possível, em Israel. Os carros circulam, as árvores estão verdejantes, os edifícios de pé e com a monitorização por computadores os alertas são dados atempadamente para as pessoas poderem aceder aos abrigos; assim o número de mortos é bastante reduzido e os feridos têm acesso a bons hospitais onde nada falta.
Do outro lado vemos destruição, miséria, lama, frio, crianças na rua sem qualquer protecção, sabemos que nos hospitais os profissionais da Saúde se defrontam com gravíssimos problemas para realizarem o mais simples tratamento, não há comida, medicamentos, não há aquecimento, enfim não se vive.
Os palestinianos estão encurralados numa nesga de território, sujeitos a um sofrimento incomensurável, enfrentando uma crise humanitária sem fim à vista.
Numa semana, os ataques do Hamas provocaram a morte a 4 israelitas e os de Israel provocaram a morte a 424 palestinianos.
É por esta desigualdade que eu estou do lado dos que mais sofrem - os palestinianos.

sábado, janeiro 03, 2009

Ao terceiro dia...

Ao terceiro dia deste recém-chegado ano, apareceram no céu réstias de azul e um sol envergonhado veio espreitar por detrás das nuvens acasteladas.
Depois de dias e dias a adormecer e a acordar ouvindo a chuva a cair e vendo o real transformado em fantasmagórico pelo abraço do nevoeiro, eis que pude respirar de alívio.
Diz o povo:
"Como vires o um, dois e três verás o resto do mês."
Felizmente ao terceiro dia quebrou-se o enguiço e amanhã haverá sol, de novo...ou talvez não!

quinta-feira, janeiro 01, 2009

Ano Novo

No Natal, de há uns anos para cá, tenho recebido de uma amiga o Poemário editado pela Assírio e Alvim.
O deste ano só traz poemas de Fernando Pessoa e dos seus heterónimos, o que muito me agradou.
Deixo-vos com o que faz a abertura do ano.
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Ficção de que começa alguma cousa!
Nada começa: tudo continua.
Na fluida e incerta essência misteriosa
Da vida, flui em sombra a água nua.
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Curvas do rio escondem só movimento.
O mesmo rio flui onde se vê.
Começar só começa em pensamento.

Fernando Pessoa