quarta-feira, abril 02, 2008

O da Avó era bem melhor!...

A minha sogra foi sempre uma cozinheira exímia.
Quando nos juntávamos todos em dia de festa, e chegámos a ser vinte à mesa, havia uma enorme variedade de pratos e respectivos acompanhamentos, consoante o gosto de cada um, mas a sobremesa era sempre a mesma, arroz-doce.
Era assim qualquer coisa que andava entre o sólido e o líquido, com os grãos de arroz a salientarem-se num creme amarelo clarinho. Por cima a inevitável canela.
Às vezes dizia à minha mãe que não havia arroz-doce como o da minha sogra, ela não gostava nada e resmungava:
- Arroz-doce amarelo e mole, onde é que já se viu?!
O dela era branco, mais para o seco e também tinha canela...mas era a única semelhança.
As minhas cunhadas e até um cunhado francês dão-lhe um jeito, mas, desde que a minha sogra se refugiou num mundo de silêncio e de imobilidade, confinada a uma cama, sem saber quem morreu e ainda bem para ela, nem quem nasceu ou vai nascer, nunca mais naquela mesa pousou uma bela travessa de arroz-doce coberto por quadradinhos desenhados a canela, com uma precisão geométrica, como só ela sabia fazer.
Neste Natal, com vinte e um sentados à mesa, alguns dos quais sem nunca terem provado tal delícia, lamentei a ausência da dita sobremesa.
Nenhum dos "aprendizes de feiticeiro" se atreveu a ouvir os lamentos do costume:
- O da Avó era bem melhor!...

13 comentários:

  1. Quantas memórias ficam "agarradas" a esses sabores...

    Beijinho*

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  2. Rosa, a história está tão bem contada, que até fiquei a salivar :))

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  3. Quando passo o Natal aí, minha perdição não é o arroz doce mas sim a sua prima: a aletria, e que tem o mesmo desenho geométrico com muuuita canela. Tenho uma cunhada que é fixe nos dois, mas não acredito que seja igual ao da tua sogra. É coisa de mão!Você tem, ou não!

    Quanto ao teu comentário lá em casa...só me lembro do que foi bom. Muuito bom mesmo.

    beijos

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  4. Eu não sei se te diga se tive vontade de provar o arroz doce da "Avó" se tive vontade de a abraçar...tal a intensidade com que "sorvi" este belo texto...


    Deixo um abraço doce a ambas...

    (*)

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  5. Não ha duvida, o arroz doce da avó é efectivamente o melhor que o nosso paladar alguma vez provou.
    Aquele arroz doce era tudo, como descreves, nem sólido nem líquido, com o creme amarelo o arroz bem definido, a inefável e afrodisíaca canela. Uma oração tão equilibrada quanto a vida que elas construíram para nos dar a provar, para nos demonstrar que o paraíso existe, mesmo!
    Quem sabe Rosinha, se um dia vais conseguir produzir uma obra de arte que consiga paralelizar com a da tua sogra?

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  6. Destas descrições tão apelativas de sentidos e sentimentos é que me alimento,quanto ao resto,mastigo.
    Os Cinzinhas pesam:282gr,246gr,221gr,à custa da permanência da Mãe Mimi que nunca nega o seu arroz-doce das tetinhas em momento algum!
    Beijinhos

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  7. Para mim o arroz doce tem que ser como o da tua mãe mas qualquer coisa que ande entre o sólido e o líquido, quentinho ... e acabadinho de fazer . Desde que morreu a minha mãe e já vão lá mais de 30 anos , nunca comi nenhum igual.

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  8. Bem...eu não queria...acho que é muito feio estar-me aqui a gabar....
    :))
    Mas o meu arroz-doce é o melhor do mundo!!!!!
    Hummmm....é mesmo uma delícia.
    Fica como o da tua sogra, mas cá em casa gostam dele branco...e enfeitado com quadradinhos de canela.

    Beijitos

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  9. Oris . adorava prová-lo , como tu o descreves deve ser como o da minha mãe , convida-me ok?

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  10. que vontade...
    engraçado, lá em casa fazemos de duas formas (conforme a pressa), ambas muito saborosas. amarelo ou branco, sempre muito cremoso e com desenhos a pó de canela.
    e, se experimentares com leite condensado substituíndo o açucar (ou parte) tens uma terceira delícia.

    beijinho
    luísa

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  11. gostei de ler.te.....recordações....



    aqui não se faz arroz doce

    jocas maradas

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  12. a minha Humana também sentiu saudades, ao ler este texto, do arroz doce cozinhado pela avó materna, e do tempo em que ajudava essa avó a decorar com canela as travessas. momentos de ternura e cumplicidade que deixam marcas profundas.

    marradinhas amistosas

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  13. Sabores na nossa memória que para sempre permanecerão junto de nós...


    *

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