quarta-feira, agosto 21, 2013

Tolerância

Já sabem que tenho por hábito andar a ler vários livros ao mesmo tempo daí que, às vezes, demore a terminá-los!
Há alguns dias conclui a leitura de "Mazagran" de J. Rentes de Carvalho do qual já tinha aqui falado.
É um livro de crónicas e escolhi um extracto da última para reflectir convosco sobre a tolerância. No fundo para saber até que ponto se sentem próximos ou afastados do que aqui é escrito.

O autor escreve uma carta aberta a Deus e às tantas diz o seguinte:

"Aliás o que vos quero pedir não é caso de vida ou de morte e nem sequer tem urgência, pois de há muito conheço afeições sólidas, de saúde vou bem e o que ganho cobre o que gasto. Sonhos de poder ou de glória não tenho e o mundo ainda me maravilha, a ponto que com sincero encanto continuo a olhar por vezes uma flor, uma criança, ou paro a admirar a beleza duma paisagem. O meu medo é notar que com os anos me vou tornando razoável em excesso, quase doentiamente tolerante.
É disso que quero que me guardeis, Senhor. Dai-me raiva. Mantende viva em mim a capacidade de me enfurecer. Deixai que continue a chamar às coisas pelo nome, a criticar sem medo, a rir de mim próprio, e livrai-me até ao último momento das aceitações que crescem com a idade."

J. Rentes de Carvalho






28 comentários:

  1. Mas pra que foste me chamar? Logo eu que ando de paciência reduzida e as vezes até penso que é bom. O que me irrita ouvir citações do gênero "Deus sabe o que faz" até quando a operadora do celular manda uma conta cobrando por um serviço que a criatura nem contratou! Reclamar e estrebuchar, com razão (e às até sem ela) é salutar para nossas células. A extrema passividade gera uma inércia galopante. Então peço mesmo a Deus que me faça "rodar a baiana" em momentos oportunos. A oxigenação do cérebro agradece. hehehe

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  2. Eu ambicionava o contrário, conseguir ter menos raiva quando ficasse mais velha.

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  3. E fiquei a meditar sobre as palavras escritas!
    -----
    Felicidades

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  4. Rosa, muito bom esse texto, é realmente isso que acontece, mas não
    sei se será mau, a idade traz mais
    paz, beijinho

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  5. Ler e interpretar um pensamento por uma frase sem ler mais nada pode ser enviezador de julgamentos mas... acho que não podemos fazer confusão entre tolerância e acomodação/passividade!

    Eu por norma sou tolerante (ou pelo menos tento ser), mais com os outros do que até comigo própria, mas não sou tolerante com a injustiça nem com a própria intolerância quando se transforma em fanatismo.


    Beijinhos em reflexão
    (^^)

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  6. Esse ponto de vista do autor é curioso. E, como ele, acho que todos devemos ter a capacidade de nos indignarmos.

    Mas também acontece muitas vezes o contrário: à medida que se envelhece, a intolerância torna-se cada vez maior e a frontalidade em mostrá-la idem. Mas quer dizer, será que essas são as pessoas que não estão bem com a vida? ;)

    Abraço

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  7. Tenho praticamente tudo... não me posso queixar se a paciência me falta, pois não?
    :)

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  8. Subscrevo a carta. Obrigada pela partilha.

    O Rentes de Carvalho que também é blogger envolveu-se nos últimos dias num duelo com o autor do blog 'o pipoco mais salgado' de onde resultaram textos interessantes...vale a pena espreitar! :)

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  9. Também eu tenho os meus momentos de revolta, onde procuro respostas e não as encontro.
    Obrigada pelo texto, obrigada pela força que me tens transmitido desse lado nesta fase difícil.
    Mil beijinhos amiga e um abraço apertadinho

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  10. Neste momento ainda estou na fase da raiva...não sei se chego à tolerância...meditarei sobre o assunto.

    Beijoca

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  11. Já estou na fase da raiva e, de tanto a querer sublimar, corro o risco de cair na indiferença. Venha a raiva, então.
    Também li Mazagran a espaços, em viagens de metro. Por vezes também me irritei com algumas coisas que ele escreve como, por exemplo, quando critica quem gosta de viajar.

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  12. Indignação é algo que me acompanha no dia a dia com um conjunto de perguntas às quais não encontro resposta, talvez seja esse o meu lado negativo que contribui para não encontrar paz.

    beijinho e uma flor

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  13. Como comentar este texto sem deixar vir à superfície a experiência pessoal ou observada?Por mim, acho que me vai tomando a indiferença e a vontade de não me deter sequer para avaliar as situações.Ó Kinkas,deixa lá,não vale a pena perder o teu tempo para te incomodares...Tenho saudade da raiva,da intolerância ao que passava ,em minha opinião,das marcas.Era viver,era até intervir.Agora vou achando bom não fazer ondas.Isto é muito mau.É,é,É o principio da aceitação da anulação de mim e,o pior é, que o mais das vezes,desculpo-me com o "ser educada".Obrigada,Amiga por me teres obrigado a pensar,pensando.Kinkas

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  14. O trecho do texto me fala do medo do comodismo, da acomodação exagerada e da tolerância, principalmente para as coisas erradas, a falta de ética, e a falta de sensibilidade. Muito para refletirmos.

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  15. Pode haver quem se torne mais tolerante com idade mas conheço gente a quem acontece precisamente o contrário. Eu sou tendencialmente tolerante. Se calhar deveria escrever a Deus com as palavras do Rentes de Carvalho. :)

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  16. sinceramente, acho mal envelhecer-se de uma forma azeda, como é o caso do autor em causa.

    e não precisamos de fazer fretes, basta viver e deixar viver.

    abraço Rosa

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  17. Já fui espreitar Tétisq, aliás também o leio de vez em quando mas tinha perdido esse despique!

    Abraço

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  18. Penso que Deus leu a carta e aceitou o pedido do autor!
    Em várias crónicas, mesmo neste livro como refere o Carlos Barbosa de Oliveira, ele manifesta certa raivazinha!
    Aliás o Luís Eme também frisa esse seu azedume!

    Abraço

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  19. O grau de tolerância, acomodação, raiva, paciência... pode modificar-se consoante a idade, o meio onde as pessoas vivem e as tribulações que lhe são destinadas ao longo da vida.

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  20. Basicamente o inconformismo. Belíssima citação e grato por a ter trazido.

    beijo amigo

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  21. Existem coisas com as quais nunca deixarei de me indignar , existem outras com que me indigno cada vez mais e ainda a que deixei de dar importância de maior.

    Cada qual terá que responder pela sua própria responsabilidade!

    Bom final de semana

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  22. ERRATA:

    Ainda aquelas a que deixei de dar importância.

    Um abraço

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  23. Muito bom! Que belo excerto! Por mim, parece-me que, felizmente, ainda estou longe desse estádio...

    Obrigada por dares a conhecer este texto. Beijinhos.

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  24. RV, comigo tudo depende um pouco da situação, porém raiva, raiva nunca sinto. O que sinto às vezes é indignação!

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  25. É só para dizer que subscrevo esta carta de J. Rentes de Carvalho.


    Deus me livre de deixar de achar graça a pequenos pormenores que o próprio quotidiano nos está constantemente a mostrar.

    E de ter medo de emitir publicamente a minha opinião!

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  26. Rosinhamiga

    O Rentes de Carvalho diz uma coisa interessantíssima, quando se dirige a Deus (se é que ele existe, Deus, o Rente sim): Dai-me raiva. Será que se refere implicitamente aos gajos que nos (des)governam?

    Qjs

    Henrique

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  27. Como ele tem razão!
    RC é um grande escritor e um homem recto!

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  28. Bela reflexão...quero ler o livro!!!
    abraços carinhosos a ti

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