domingo, novembro 15, 2009

Lamento

Abro a janela e uma cortina de chuva molha-me o olhar, saio à rua e um tecto pesado, cinzento abate-se sobre a minha cabeça, ligo a televisão, a internet, leio os cabeçalhos dos jornais de referência , de todo o lado escorre lama e o ruído do chocalhar da sucata é insuportável.
Não há nos ares sinais de bonança!
Por que razão cada caso escabroso, duvidoso que surge, vem "tapar" os anteriores que continuam por resolver e até arquivados?
O cinzento destes dias de Novembro leva-me a reler o poema "Lamento" de Miguel Torga, esse grande poeta portugês, e a transcrever o seu final.
Ah, meu povo traído,
Mansa colmeia
A quem ninguém colhe o mel!...
Ah, meu pobre corcel
Impaciente,
Alado
E condenado
A choutar nesta praia do Ocidente...

31 comentários:

  1. porque é mesmo isso que o "sistema" quer, descredibilizar tudo e todos, Rosa...

    pagam todos com a mesma moeda...

    abraço

    ResponderEliminar
  2. Os sinais de bonança hão-de chegar. É fugir dos mansos, Rosa, quando eles acordam.....

    ResponderEliminar
  3. Com muita mágoa nossa,as palavras de Torga continuam cheias de razão.
    A lama continua a lambuzar tudo e todos e "choutar nesta praia do Ocidente" é o destino deste pobre corcel alado a quem continuam a cortar as asas.
    Abraço Kincas

    ResponderEliminar
  4. tristes dias, estes que atravessamos, amiga rosa dos ventos. mas isso não justifica a desistência do voo.

    abraço

    ResponderEliminar
  5. Emprestaram-me esta semana, “Antologia Poética” de Miguel Torga e vi que a 11 de Agosto de 1952, ele tinha escrito outro ‘Lamento” assim:

    Porque paira tão alto o teu desdém,
    Deus das velhas montanhas de granito?
    Rasgo a carne a subir aonde o meu grito
    Te diga a solidão que me devora,
    E quando aí chego a rastejar, contrito,
    É mais acima que o mistério mora!

    Mas esse que a Rosa transcreveu, não está, na realidade, desactualizado!
    RS

    ResponderEliminar
  6. Nem tudo é mau quando o tempo se apresenta cinzento, Rosinha.
    A prova é que a melancolia fez-te sentir vontade de rever o poema de Torga... esse que sentiu a alma do povo, como poucos...
    Vamos ver se dessa sucata toda vai ser possível retirar a escória e... recicla-la... vamos ver... com cravos talvez... outra vez...

    ResponderEliminar
  7. Não me incomodam nada uns dias assim. Abanam a modorra.

    ResponderEliminar
  8. Parabéns ao Torga,pelo protesto tão bem feito em poucas linhas.

    ResponderEliminar
  9. Estás cinérea até dizer basta! No escorrer da lama, se olhares com atenção, tb estão incluidos os imensos lodaçais e a podridão que mina quase toda a classe politíca portuguesa. Paulatinamente, transformamo-nos numa Itália berlusconiana ou num Brasil lulista; talvez numa mistura de ambos, quiçá, com travo português.

    Abraço

    Jorge

    ResponderEliminar
  10. O pior é que quase já achamos "normal" não sabermos nunca quem é responsável, de facto!
    Obrigada por lembrares Torga!
    Um abraço

    ResponderEliminar
  11. Exatamente como aqui: um escândalo vem cobrir o outro. O povo esquece de tudo e às sextas-feiras não há um bar vazio.

    beijos Rosa e choooove!

    ResponderEliminar
  12. Que seja a poesia um porto de abrigo para tamanha desilusão e falta de talento para quotidiano.

    ResponderEliminar
  13. Gosto de chuva, gosto do outono e do inverno. Gosto ainda mais de Torga, com a sua humanidade e lucidez!
    Obrigada!

    Abraço.

    ResponderEliminar
  14. Tristemente actual, o Miguel Torga!
    (uma conversinha ajuda a ultrapassar tristezas, mas nós tínhamos ido até Montemor, ao lançamento de um livro...tenta outra vez, mas não esta semana:))
    Beijo grande

    ResponderEliminar
  15. Por aqui os raios outonais continuam a aquecer-nos o corpo. Perderam debilidade e as sombras alongaram-se mas, mesmo assim, hoje estamos a 25ºC.

    Gostei, "uma cortina de chuva molha-me o olhar"... que bonito!

    Beijinhos

    ResponderEliminar
  16. Anima-te, companheira, há dois dias que não chove!

    Abraço. Teresa

    ResponderEliminar
  17. Caríssima amiga. Gostámos da visita e do comentário. Aguardamos a oportunidade de nos voltarmos a encontrar para de novo cantar em conjunto.
    Cumprimentos.
    GCP

    ResponderEliminar
  18. ...
    mesmo há pouco passei num blog e "comentei" um assunto...era sobre o casamento entre homossexuais e um programa da TV ...e agora estou a ver a tua cara e perguntas tu...
    "fj, que raio tem isso a ver com este Post?.."

    abraço Rosinha

    ResponderEliminar
  19. Caro FJ
    Tudo tem a ver com tudo...
    E dou-te a minha opinião.
    Sou a favor, as pessoas têm o direito às suas escolhas e que essas escolhas as não penalizem!
    Seria bom que este assunto se resolvesse depressa para começarem a resolver outros problemas que atingem muitos mais portugueses!

    Abraço

    ResponderEliminar
  20. Dos dias de chuva até gosto, gosto de chuva e vento, gostos!:)

    Agora o resto das sucatas...na:(

    Beijinho:)

    ResponderEliminar
  21. Um belo trabalho concluído de maneira superior com este excerto do "Lamento" do "nosso" querido Miguel Torga.

    L.B.

    ResponderEliminar
  22. Tão actual, o nosso Miguel Torga...
    (e os escândalos continuam, Rosa :) )

    Um abraço

    ResponderEliminar
  23. ... até parece que estas coisas estão intimamente ligadas à incontornável fatalidade lusa, não é? Mas é claro que sabemos (infelizmente nem todos) que a sede do poder - a protecção do qual o mesmo se rodeia, a ganância e o desajustado conceito de corrupção no nosso país (a cunha, a troca de favores que ainda são vistas socialmente como as coisas "mais naturais deste mundo", quantas vezes o tirocínio para voos mais altos) e a labiríntica teia judicial que "favorece" quem mais poder tem e "condena sem apelo nem agravo" os outros, estão na origem destes cenários carregados de nuvens negras e com poucas abertas em próximos horizontes. Independentemente do tempo que faz e dos "fadistas" que o cantam...

    Abraço.

    ResponderEliminar
  24. Lamento de Luís de Camões na morte de António, seu escravo

    viveu em tanta pobreza, que se não tivera
    um jau, chamado António, que da Índia
    trouxe, que de noite pedia esmola para o
    ajudar a sustentar, não pudera aturar a
    vida. Como se viu, tanto que o jau morreu,
    não durará ele muitos meses.
    Pedro de Mariz

    Devias estar aqui rente aos meus lábios
    para dividir comigo esta amargura
    dos meus dias partidos um a um

    — eu vi a terra limpa no teu rosto,
    só no teu rosto e nunca em mais nenhum.
    Um abraço amigo

    ResponderEliminar
  25. Noticia sobre noticia, chuva sobre chuva. Às vezes apetece rasgar a realidade como páginal inútil de jornal da manhã. E pedir uma nova edição.

    Bom fim de semana, Rosinha.
    Beijos

    ResponderEliminar
  26. A bonança vem com a capacidade de dar apenas importância ás pequenas coisas, aquelas que na verdade importam.

    Não se pode mudar o mundo com o olhar mas podemos viver de acordo com os valores que acreditamos como os correctos e tentar recordar que por maior que a nuvem seja, o sol está lá.

    Obrigado Rosa

    ResponderEliminar
  27. Rosa, como ficaste sabendo do caso da moça do vestido mini-mini-mini?
    Chegou até aí pela Tv?

    ResponderEliminar
  28. Então ela conseguiu mais do que previa!

    ResponderEliminar
  29. "Vivemos tempos difíceis" parece ser uma frase que se repete por gerações - de uma maneira ou outra sempre houve "casos", intrigas, lama , injustiça, ... Dos humanos ouvimos mais falar do que fazem de mal do que o que fazem de bem. Por isso eu gostava que houvesse um canal de TV, um jornal diário ( semanário, vá lá ...) só com BOAS NOTÌCIAS.
    Abraço

    ResponderEliminar
  30. Subscrevo essa ideia, Goiaba!
    Estou tão cansada de más notícias... :-))

    Abraço

    ResponderEliminar