Abro a janela e uma cortina de chuva molha-me o olhar, saio à rua e um tecto pesado, cinzento abate-se sobre a minha cabeça, ligo a televisão, a internet, leio os cabeçalhos dos jornais de referência , de todo o lado escorre lama e o ruído do chocalhar da sucata é insuportável.
Não há nos ares sinais de bonança!
Por que razão cada caso escabroso, duvidoso que surge, vem "tapar" os anteriores que continuam por resolver e até arquivados?
O cinzento destes dias de Novembro leva-me a reler o poema "Lamento" de Miguel Torga, esse grande poeta portugês, e a transcrever o seu final.
Ah, meu povo traído,
Mansa colmeia
A quem ninguém colhe o mel!...
Ah, meu pobre corcel
Impaciente,
Alado
E condenado
A choutar nesta praia do Ocidente...
porque é mesmo isso que o "sistema" quer, descredibilizar tudo e todos, Rosa...
ResponderEliminarpagam todos com a mesma moeda...
abraço
Os sinais de bonança hão-de chegar. É fugir dos mansos, Rosa, quando eles acordam.....
ResponderEliminarCom muita mágoa nossa,as palavras de Torga continuam cheias de razão.
ResponderEliminarA lama continua a lambuzar tudo e todos e "choutar nesta praia do Ocidente" é o destino deste pobre corcel alado a quem continuam a cortar as asas.
Abraço Kincas
tristes dias, estes que atravessamos, amiga rosa dos ventos. mas isso não justifica a desistência do voo.
ResponderEliminarabraço
Emprestaram-me esta semana, “Antologia Poética” de Miguel Torga e vi que a 11 de Agosto de 1952, ele tinha escrito outro ‘Lamento” assim:
ResponderEliminarPorque paira tão alto o teu desdém,
Deus das velhas montanhas de granito?
Rasgo a carne a subir aonde o meu grito
Te diga a solidão que me devora,
E quando aí chego a rastejar, contrito,
É mais acima que o mistério mora!
Mas esse que a Rosa transcreveu, não está, na realidade, desactualizado!
RS
Nem tudo é mau quando o tempo se apresenta cinzento, Rosinha.
ResponderEliminarA prova é que a melancolia fez-te sentir vontade de rever o poema de Torga... esse que sentiu a alma do povo, como poucos...
Vamos ver se dessa sucata toda vai ser possível retirar a escória e... recicla-la... vamos ver... com cravos talvez... outra vez...
Não me incomodam nada uns dias assim. Abanam a modorra.
ResponderEliminarParabéns ao Torga,pelo protesto tão bem feito em poucas linhas.
ResponderEliminarEstás cinérea até dizer basta! No escorrer da lama, se olhares com atenção, tb estão incluidos os imensos lodaçais e a podridão que mina quase toda a classe politíca portuguesa. Paulatinamente, transformamo-nos numa Itália berlusconiana ou num Brasil lulista; talvez numa mistura de ambos, quiçá, com travo português.
ResponderEliminarAbraço
Jorge
O pior é que quase já achamos "normal" não sabermos nunca quem é responsável, de facto!
ResponderEliminarObrigada por lembrares Torga!
Um abraço
Exatamente como aqui: um escândalo vem cobrir o outro. O povo esquece de tudo e às sextas-feiras não há um bar vazio.
ResponderEliminarbeijos Rosa e choooove!
Que seja a poesia um porto de abrigo para tamanha desilusão e falta de talento para quotidiano.
ResponderEliminarGosto de chuva, gosto do outono e do inverno. Gosto ainda mais de Torga, com a sua humanidade e lucidez!
ResponderEliminarObrigada!
Abraço.
Tristemente actual, o Miguel Torga!
ResponderEliminar(uma conversinha ajuda a ultrapassar tristezas, mas nós tínhamos ido até Montemor, ao lançamento de um livro...tenta outra vez, mas não esta semana:))
Beijo grande
Por aqui os raios outonais continuam a aquecer-nos o corpo. Perderam debilidade e as sombras alongaram-se mas, mesmo assim, hoje estamos a 25ºC.
ResponderEliminarGostei, "uma cortina de chuva molha-me o olhar"... que bonito!
Beijinhos
Anima-te, companheira, há dois dias que não chove!
ResponderEliminarAbraço. Teresa
Caríssima amiga. Gostámos da visita e do comentário. Aguardamos a oportunidade de nos voltarmos a encontrar para de novo cantar em conjunto.
ResponderEliminarCumprimentos.
GCP
...
ResponderEliminarmesmo há pouco passei num blog e "comentei" um assunto...era sobre o casamento entre homossexuais e um programa da TV ...e agora estou a ver a tua cara e perguntas tu...
"fj, que raio tem isso a ver com este Post?.."
abraço Rosinha
Caro FJ
ResponderEliminarTudo tem a ver com tudo...
E dou-te a minha opinião.
Sou a favor, as pessoas têm o direito às suas escolhas e que essas escolhas as não penalizem!
Seria bom que este assunto se resolvesse depressa para começarem a resolver outros problemas que atingem muitos mais portugueses!
Abraço
Dos dias de chuva até gosto, gosto de chuva e vento, gostos!:)
ResponderEliminarAgora o resto das sucatas...na:(
Beijinho:)
Um belo trabalho concluído de maneira superior com este excerto do "Lamento" do "nosso" querido Miguel Torga.
ResponderEliminarL.B.
Tão actual, o nosso Miguel Torga...
ResponderEliminar(e os escândalos continuam, Rosa :) )
Um abraço
... até parece que estas coisas estão intimamente ligadas à incontornável fatalidade lusa, não é? Mas é claro que sabemos (infelizmente nem todos) que a sede do poder - a protecção do qual o mesmo se rodeia, a ganância e o desajustado conceito de corrupção no nosso país (a cunha, a troca de favores que ainda são vistas socialmente como as coisas "mais naturais deste mundo", quantas vezes o tirocínio para voos mais altos) e a labiríntica teia judicial que "favorece" quem mais poder tem e "condena sem apelo nem agravo" os outros, estão na origem destes cenários carregados de nuvens negras e com poucas abertas em próximos horizontes. Independentemente do tempo que faz e dos "fadistas" que o cantam...
ResponderEliminarAbraço.
Lamento de Luís de Camões na morte de António, seu escravo
ResponderEliminarviveu em tanta pobreza, que se não tivera
um jau, chamado António, que da Índia
trouxe, que de noite pedia esmola para o
ajudar a sustentar, não pudera aturar a
vida. Como se viu, tanto que o jau morreu,
não durará ele muitos meses.
Pedro de Mariz
Devias estar aqui rente aos meus lábios
para dividir comigo esta amargura
dos meus dias partidos um a um
— eu vi a terra limpa no teu rosto,
só no teu rosto e nunca em mais nenhum.
Um abraço amigo
Noticia sobre noticia, chuva sobre chuva. Às vezes apetece rasgar a realidade como páginal inútil de jornal da manhã. E pedir uma nova edição.
ResponderEliminarBom fim de semana, Rosinha.
Beijos
A bonança vem com a capacidade de dar apenas importância ás pequenas coisas, aquelas que na verdade importam.
ResponderEliminarNão se pode mudar o mundo com o olhar mas podemos viver de acordo com os valores que acreditamos como os correctos e tentar recordar que por maior que a nuvem seja, o sol está lá.
Obrigado Rosa
Rosa, como ficaste sabendo do caso da moça do vestido mini-mini-mini?
ResponderEliminarChegou até aí pela Tv?
Claro!
ResponderEliminarAqui chega tudo! :-))
Abraço
Então ela conseguiu mais do que previa!
ResponderEliminar"Vivemos tempos difíceis" parece ser uma frase que se repete por gerações - de uma maneira ou outra sempre houve "casos", intrigas, lama , injustiça, ... Dos humanos ouvimos mais falar do que fazem de mal do que o que fazem de bem. Por isso eu gostava que houvesse um canal de TV, um jornal diário ( semanário, vá lá ...) só com BOAS NOTÌCIAS.
ResponderEliminarAbraço
Subscrevo essa ideia, Goiaba!
ResponderEliminarEstou tão cansada de más notícias... :-))
Abraço