Dantes o largo era o centro da aldeia. Eu, pelo menos, tinha essa impressão, mas para mim era ainda mais do que isso, era o centro do meu mundo.
Ficava frente ao edifício da escola constituído pela casa do professor e da professora ao meio e de cada lado, respectivamente, a sala de aulas e o recreio dos rapazes e das raparigas - pois então - cada macaco no seu galho, nada de misturas. Este edifício desapareceu, muito recentemente, como que por magia negra, numa noite, e o espaço serve agora de parque de estacionamento mal amanhado.
Um pouco mais abaixo da escola, do lado oposto ao largo ficava o quarteirão de casas da minha família: a de um tio que continua habitada, a dos avós quase ao abandono, a de uma tia também desabitada, mas de vez em quando arejada, a de outra tia agora morada de uma bisneta e finalmente a de uma prima.
Do outro lado da rua, que era afinal a estrada que atravessava a aldeia, um pouco mais à frente, ficava a casa dos meus pais onde vive agora a minha irmã.
Peço desculpa por vos ter feito andar de uma lado para o outro, para cima e para baixo, mas isto foi só para se siturem no espaço e perceberem por que razão o Largo do Coreto era o centro do meu mundo.
Era ainda ali que se realizavam as festas da aldeia com a banda a tocar no coreto e toda a gente à volta a apreciar a maestria dos músicos. Era e é uma terra onde a Música tem uma grande importância.
Com os tempos deixou de ser aldeia, promoveram-na a vila, mudaram-lhe a centralidade e o Largo do Coreto passou a estar praticamente deserto.
Na noite de sexta-feira, dia 13 de Junho, a Comissão de Festas dos nascidos em 1958, em boa hora, decidiu organizar ali uma sardinhada.
O largo encheu-se de novo, além das sardinhas com as respectivas batatas e salada, regadas a tinto ou cerveja, houve arroz doce, daquele arroz doce branquinho, em creme, morno, enfeitado com canela. Uma delícia...quase tão bom como o da minha sogra!
Eram dezenas e dezenas de pessoas, todas conhecidas, a saudarem-se de longe ou a chegarem-se umas às outras, com a alegria estampada nos rostos, enquanto os dos "50" se afadigavam para nada faltar nas mesas, no meio das quais cirandava a garotada.
Às tantas, passa a fanfarra dos bombeiros em exercício de treino e ali ficámos a ouvi-los até quase recolherem ao quartel.
E no coreto, afinal o que é que havia?- perguntarão os pacientes visitantes/leitores.
Um grupo de acordeonistas a tocar música bem popular.
Quando o serão terminou para nós que não vivemos lá, passámos junto da sede da banda e ainda pudemos ouvir alguns acordes...era dia de ensaio.
Gostei tanto de ver o Largo do Coreto transformado de novo no centro da...vila que não pude deixar de o registar desta forma um pouco alongada, para o meu habitual.