Soube ontem que a menina bonita da música francesa, dos meus tempos também de menina de franja, apaixonada pelas suas canções, está gravemente doente e pretende ser eutanasiada, ato que não é consentido pela lei do seu país.
A propósito trago aqui o último livro analisado no meu Clube de Leitura.
Uma velha prostituta judia, sobrevivente da guerra, é a "mãe" de vários miúdos, filhos de mulheres ainda no ativo e que lhos confiam, mediante um pagamento determinado que nem sempre acontece.
Com o tempo, a saúde de Madame Rosa vai-se deteriorando e o seu apartamento num 6º andar sem elevador também não lhe facilita a vida..
Para o fim resta-lhe um rapazinho, Maomedh (Momo), que é tudo para ela e ela tudo para ele ao ponto de permanecer junto da velha senhora para além da sua morte.
É uma história de solidariedade, de amizade entre pessoas de etnias, religiões, culturas, comportamentos sexuais diferentes mas unidos pela mesma condição de estarem à margem da sociedade, às portas de Paris.
Quando a saúde de Madame Rosa se agrava e Momo quer levá-la para o hospital, ela diz:
"- Vão obrigar-me a viver, Momo. É o que fazem sempre no hospital, têm leis para isso. Não quero viver mais do que o necessário e já não é necessário. Há um limite, até para os judeus. Vão-me submeter a sevícias para me impedir de morrer, têm uma coisa a Ordem dos Médicos que serve para isso. Fazem a vida negra até ao fim e não vos dão o direito de morrer, porque faria privilegiados."
É uma obra publicada em 1975 e com ela o seu autor recebeu o 2º Prémio Goncourt, com o pseudónimo de Émile Ajar.
Temos ou não o direito de escolher a hora da partida?
Peço desculpa pelo alongamento pouco habitual em mim.