segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Segundos papéis

Há dias, acabei de ler "Jesusalém", de Mia Couto e posso classificá-lo muito globalmente como dolorosamente poético.
Esta obra tem algumas divisões e sub-divisões todas elas iniciadas por poemas ou simples frases.
Os poemas são quase todos de mulheres e maioritariamente de Sophia de Mello...
Apesar de ser uma grande admiradora e consumidora da sua poesia, escolhi um poema de Adélia Prado, brasileira, que me era totalmente desconhecida, para aqui o deixar registado.

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Uma noite de lua pálida e gerânios
ele virá com a boca e mão incríveis
tocar flauta no jardim.
Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.
Eu rejeito e exprobro
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo o dia,
os cabelos entristecidos,
a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier, porque é certo que vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
- só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela, se não for doida?
Como a fecharei se não for santa?
Adélia Prado



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Nota: o título não é meu, é precisamente o título do capítulo iniciado por este poema.

16 comentários:

  1. Tenho-o aqui para o ler, há já algum tempo, talvez lhe pegue agora.

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  2. Este poema é fabuloso.

    As eternas dualidades que a vida nos põe no prato...

    O melhor é ser, à vez, santo e louco.

    :)***

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  3. Sensacional poema de Adélia Prado.Parabéns pelo seubom gosto e obrigado por nos mostrar algo tão lindo.Beijos

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  4. Acho que a minha louca tem o suficiente de santa para se auto-proteger :)

    Gostei muito, Rosa.
    Um abraço, com saudades das tardes mornas de livro na mão.

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  5. Já o li 'atravessado', ou seja, tenho de o ler a sério. Adoro o Mia, a Sophia e gosto muito da Adelia Prado.
    Esta 'coisa' da net tira-me demasiado tempo. Que depois me faz falta para ler...

    Um abraço

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  6. Grande, belíssimo livro, amiga! Cada vez gosto mais do "encantador de palavras" que é Mia Couto.

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  7. também quero ler, "Jesusalém", a construção promete.

    abraço Rosa

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  8. Cara amiga aqui te deixo um poema de Sophia de Mello......., e ao mesmo tempo dizer-te que o MOKUNA ainda vai mexendo.

    Um abraço.

    Porque os outros se mascaram mas tu não
    Porque os outros usam a virtude
    Para comprar o que não tem perdão.
    Porque os outros têm medo mas tu não.
    Porque os outros são os túmulos caiados
    Onde germina calada a podridão.
    Porque os outros se calam mas tu não.

    Porque os outros se compram e se vendem
    E os seus gestos dão sempre dividendo.
    Porque os outros são hábeis mas tu não.

    Porque os outros vão à sombra dos abrigos
    E tu vais de mãos dadas com os perigos.
    Porque os outros calculam mas tu não.

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  9. É um dos meus pontos fracos.
    A escrita de Mia Couto que nos embala e sacode a cada metáfora.
    E as palavras reinventadas?
    Beijinhos

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  10. Está na lista.
    Obrigada pelo poema, aguçou o apetite!

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  11. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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  12. Também sou um fiel seguidor da Sophia de Mello, mas tenho que reconhecer que o poema que expões é de muita qualidade.
    Tampouco conheci a autora nem o poema.

    Agradeço com abraços

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  13. ... não li o livro, mas o poema desta mulher é uma delícia no seu todo e a cereja em cima do bolo nas duas últimas linhas.

    Abraço.

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  14. Gostei menso do livro.
    Não descansei enquanto o não terminei.

    Cada capítulo começa com um poema escrito por mulheres.

    Trata de forma excepcional o «Olvido» moçambicano.

    Saudações

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  15. O livro está na minha lista para as próximas leituras.
    Não conhecia o poema.

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