Há dias, acabei de ler "Jesusalém", de Mia Couto e posso classificá-lo muito globalmente como dolorosamente poético.
Esta obra tem algumas divisões e sub-divisões todas elas iniciadas por poemas ou simples frases.
Os poemas são quase todos de mulheres e maioritariamente de Sophia de Mello...
Apesar de ser uma grande admiradora e consumidora da sua poesia, escolhi um poema de Adélia Prado, brasileira, que me era totalmente desconhecida, para aqui o deixar registado.
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Uma noite de lua pálida e gerânios
ele virá com a boca e mão incríveis
tocar flauta no jardim.
Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.
Eu rejeito e exprobro
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo o dia,
os cabelos entristecidos,
a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier, porque é certo que vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
- só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela, se não for doida?
Como a fecharei se não for santa?
Adélia Prado
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Nota: o título não é meu, é precisamente o título do capítulo iniciado por este poema.
Tenho-o aqui para o ler, há já algum tempo, talvez lhe pegue agora.
ResponderEliminarEste poema é fabuloso.
ResponderEliminarAs eternas dualidades que a vida nos põe no prato...
O melhor é ser, à vez, santo e louco.
:)***
Sensacional poema de Adélia Prado.Parabéns pelo seubom gosto e obrigado por nos mostrar algo tão lindo.Beijos
ResponderEliminarAcho que a minha louca tem o suficiente de santa para se auto-proteger :)
ResponderEliminarGostei muito, Rosa.
Um abraço, com saudades das tardes mornas de livro na mão.
Já o li 'atravessado', ou seja, tenho de o ler a sério. Adoro o Mia, a Sophia e gosto muito da Adelia Prado.
ResponderEliminarEsta 'coisa' da net tira-me demasiado tempo. Que depois me faz falta para ler...
Um abraço
Grande, belíssimo livro, amiga! Cada vez gosto mais do "encantador de palavras" que é Mia Couto.
ResponderEliminartambém quero ler, "Jesusalém", a construção promete.
ResponderEliminarabraço Rosa
Cara amiga aqui te deixo um poema de Sophia de Mello......., e ao mesmo tempo dizer-te que o MOKUNA ainda vai mexendo.
ResponderEliminarUm abraço.
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
É um dos meus pontos fracos.
ResponderEliminarA escrita de Mia Couto que nos embala e sacode a cada metáfora.
E as palavras reinventadas?
Beijinhos
Está na lista.
ResponderEliminarObrigada pelo poema, aguçou o apetite!
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ResponderEliminarTambém sou um fiel seguidor da Sophia de Mello, mas tenho que reconhecer que o poema que expões é de muita qualidade.
ResponderEliminarTampouco conheci a autora nem o poema.
Agradeço com abraços
Excelente poema de Adélia Pado.
ResponderEliminar... não li o livro, mas o poema desta mulher é uma delícia no seu todo e a cereja em cima do bolo nas duas últimas linhas.
ResponderEliminarAbraço.
Gostei menso do livro.
ResponderEliminarNão descansei enquanto o não terminei.
Cada capítulo começa com um poema escrito por mulheres.
Trata de forma excepcional o «Olvido» moçambicano.
Saudações
O livro está na minha lista para as próximas leituras.
ResponderEliminarNão conhecia o poema.