sexta-feira, setembro 23, 2022
Novo Ano Letivo
Sempre que chega o início das aulas vem-me à memória um conto de Trindade Coelho presente no seu livro "Os Meus Amores" e que reflete as técnicas de ensino da época.
Para a Escola
No velho casarão do convento é que era a aula. Aula de primeiras letras. A porta lá estava, com fortes pinceladas vermelhas, ao cimo da grande escadaria de pedra, tão suave que era um regalo subi-la. Obra de frades, os senhores calculam...Já tinha principiado a aula quando a Helena entrou comigo pela mão. Fez-se um silêncio nas bancadas, onde os rapazes mastigavam as suas lições e a sua tabuada, num ritmo cadenciado e monótono, cantarolando. E ouviu-se então a voz da Helena dizer para o Sr. Professor, um de óculos e cara rapada, falripas brancas por baixo do lenço vermelho, atado em nó sobre a testa.
- Muito bons dias. Lá de casa mandam dizer que aqui está a encomendinha.
- Oh! Oh! A encomendinha era eu, que ia pela primeira vez à escola. Ali estava a encomendinha!
Trindade Coelho foi um defensor esclarecido e sincero dos direitos do povo com que leal e francamente se identificava.
Suicidou-se em 1909, facto que desconhecia.
Também eu fui no domingo fui levar as minha duas encomendinhas a Lisboa, ao pai, para o novo início do ano letivo.
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Historinha bem contada, que provoca um sorriso! E desejo que as tuas 2 encomendinhas se divirtam com o novo ano lectivo
ResponderEliminarTão belo e curioso o texto de Trindade Coelho, quão bela e enternecedora a forma como nos contas que os teus rapazinhos já regressaram a casa do Pai. O dever os chama...e as férias de Natal, estão quase à porta! :)
ResponderEliminarAbraço
Esta tua publicação, Leo, leva-me até à minha avó materna que era professora e adorava a obra de Trindade Coelho. Embora fosse obrigada a ler a sua obra, pouco sei da sua vida. Não sabia que se tinha suicidado. Abraço outonal 🍂
ResponderEliminarAqui 🇩🇪 começam duas semanas de férias de outono 🍂 na próxima semana. Antigamente eram chamadas as “férias da batata” 🥔 qualquer dia explico porquê. Continuação de uma sexta-feira outonal 🍂 e literária.
ResponderEliminarO novo ano letivo começou (para os professores) no dia a seguir ao “Dia do Trabalho”, 6 de setembro. Para os alunos começou no dia seguinte.
ResponderEliminarMuita alegria por parte das "encomendinhas", ansiosas por falar com os seus amigos e passar a maior parte do dia num ambiente escolar. : ))
Como será a escola num ambiente rural hoje em dia? Não creio que se ouvirá o cantarolar da tabuada... que, na minha opinião, deveria continuar. : )
Concordo com o que Catarina diz sobre a tabuada, e outras coisas, que nem tudo estava "mal". Bastava alargarem-se os horizontes para caberem, ou se acrescentarem, os de hoje. E lembro-me bem desse texto de Trindade Coelho, da "encomendinha": sentia eu a "vergonha" que a criança deveria sentir. Porque me diziam desde pequena que eu era "de encomenda" eh eh eh.
ResponderEliminarAs minhas filhas, no papel de encomendinhas, iam pela mão de sua mãe... a mim tocou-me um papel diferente, na reunião dos encarregados de educação... Participativo? Claro!
ResponderEliminarHoje muitos pais descartam-se dessa missão... e que é pena
Os meus filhos também foram pela minha mão e os meus netos pela mão do pai.
EliminarAbraço
Texto delicioso. Eu fui no primeiro com os meus irmãos mais velhos pois a escola ficava perto de casa. Muito satisfeita, caminhei para lá a cantarolar. À tarde voltei para casa chorosa, aquilo não era o que eu pensava e sentenciei: Já não quero mais saber da escola! No dia seguinte, claro, a minha mãe teve de me levar pela mão...
ResponderEliminarBom ano lectivo para as suas encomendinhas.
Abraço
Olinda
Também não sabia que ele se tinha suicidado. Ao ler imaginei as encomendinha :) um abraço e bom início de ano lectivo para os dois
ResponderEliminarLi Os Meus Amores aos 12,imposto pela professora de Português.
ResponderEliminarDessas obras "impostas" durante dois anos os Amores é das que mais releio e recomprei.
Numa das edições completas há uma Dedicatória do Autor a Helena,escrita no dia de Formatura em Coimbra. Leitura obrigatória.