quinta-feira, setembro 25, 2014

Os Maias







Antes da partida de Lisboa ainda consegui ver o filme que João Botelho realizou a partir da obra de Eça de Queiroz "Os Maias".
Reduzir a duas horas uma narrativa de tamanha envergadura foi tarefa árdua mas o resultado está excelente.
Pensava eu que as cenas do exterior, tendo como pano de fundo telas enormes pintadas pelo artista plástico João Queiroz, iriam empobrecer o filme mas afinal enganei-me porque esteticamente foi muito bem concebido.
Contudo não estou aqui para fazer uma crítica ao filme mas para vos dizer que me veio, a partir da visualização do mesmo, uma forte vontade de reler a obra e é o que ando a fazer...eu que até não sou dada a reler obras completas.
Às tantas, quando Carlos da Maia anda  entusiasmadíssimo na construção do laboratório fundamental para a sua actividade de médico, surge este saboroso diálogo:

"- O quê, sangue? - dizia Carlos, olhando a fresca, honrada e roliça face do demagogo.
- Não senhor, um navio, um simples navio...
- Um navio?
- Sim, senhor, um navio fretado à custa da nação, em que se mandasse pela barra fora o rei, a família real, a "cambada" dos ministros, dos políticos, dos deputados, dos intrigantes, etc, e etc.
Carlos sorria, às vezes argumentava com ele.
- Mas está o sr. Vicente bem certo, que apenas a "cambada", como tão exactamente diz, desaparecesse pela barra fora, ficavam resolvidas todas as coisas e tudo atolado em felicidade?
Não, o sr. Vicente não era tão "burro" que assim pensasse. Mas, suprimida a cambada, não via Sua Excelência? Ficava o país desatravancado, e podiam então começar a governar os homens de saber e de progresso...
- Sabe Vossa Excelência qual é o nosso mal? Não é má vontade dessa gente; é muita soma de ignorância. Não sabem. Não sabem nada. Eles não são maus, mas são umas cavalgaduras!"

Nota: as fotos tirei-as no Chiado onde estes cartazes publicitam o filme.


terça-feira, setembro 23, 2014

Outono


Vinhas em Arles de Vincent van Gohg


Tarde pintada
Por não sei que pintor.
Nunca vi tanta cor
Tão colorida!
Se é de morte ou de vida,
Não é comigo.
Eu, simplesmente, digo
Que há tanta fantasia 
Neste dia,
Que o mundo me parece
Vestido por ciganas adivinhas,
E que gosto de o ver, e me apetece
Ter folhas, como as vinhas.

Miguel Torga

Nota: Tomei a liberdade de escolher o pintor...

segunda-feira, setembro 22, 2014

Comissão de serviço

O bando de pombos que debicava na relva em busca de sementes, à minha passagem, levantou voo num sobressalto estilhaçado que se juntou ao ramalhar da folhagem  das árvores da pracinha.
Abri o carro, sentei-me, puxei a porta, coloquei o cinto de segurança, ouvi o clique, accionei a chave do motor e ao mesmo tempo o cd que andava há semanas no carro começou a tocar.
Em breve estava na 2ª circular e poucos minutos depois transpunha a via verde da A1 rumo a norte.
Para trás ficava Lisboa onde só voltarei de visita.
E foi assim que, no dia 19, a minha comissão de serviço junto dos netos chegou ao fim!


sexta-feira, setembro 12, 2014

Mudança

(foto da net)



Mais uma vez em mudança!

segunda-feira, setembro 08, 2014

Novo ciclo

Há um cheiro no ar a relva fresca e a terra molhada!
Na pracinha em frente de casa já não há crianças em alegres brincadeiras...
Um novo ciclo se inicia com o regresso ao trabalho, às aulas, às aparentes rotinas...
Também para mim se vai fechar um ciclo e abrir outro.
Não vou recomeçar, vou começar de novo...ninguém recomeça porque o que vamos deixar para trás modificou-nos e o que vamos encontrar lá no sítio de onde partimos também se  modificou.
Sendo a mesma...sou outra porque vejo a realidade com outros olhos!

sábado, setembro 06, 2014

Chuva


(imagem da net)


Chove uma grossa chuva inesperada,
Que a tarde não pediu mas agradece.
Chove na rua, já de si molhada
Duma vida que é chuva e não parece.

Chove grossa e constante,
Uma paz que há-de ser
Uma gota invisível e distante
Na janela, a escorrer...

Miguel Torga

terça-feira, setembro 02, 2014

Aromas de Setembro

Logo que entra Setembro, vêm-me à memória a infância e os aromas que sentia quando entrava no grande celeiro dos meus avós paternos.
Maçãs, pêras, figos, bem enfileiradinhos, descansavam em tabuleiros de madeira que por sua vez estavam colocados em cima das arcas dos cereais,  ao lado das pipas do vinho.
Lá mais para o fim do mês, as uvas de mesa eram penduradas nas traves do tecto.
E havia fruta quase todo o ano.
Há dias, a convite de um primo que herdou a casa juntamente com dois irmãos, entrei no celeiro.
Tornou-se bem mais pequeno, não tinha nem arcas, nem pipas, nem tabuleiros com fruta...
Estava transformado numa espécie de depósito de livros que irá dar origem à vasta biblioteca do meu tio, falecido há dois anos.
Já não cheirava a fruta madura mas também ainda não cheirava a biblioteca.
Jurei não voltar lá!