domingo, setembro 28, 2025

Poesia ao domingo

 Nasceu-te um filho


Nasceu-te um filho. Não conhecerás,

jamais, a extrema solidão da vida.

Se a não chegaste a conhecer - já não conhecerás


a dor terrível de a saber escondida

até no puro amor. E esquecerás,

se alguma vez adivinhaste a paz

traiçoeira de estar só, a pressentida,


leve e distante imagem que ilumina

uma paisagem mais distante ainda.

Já nenhum astro te será fatal.


E quando a Sorte julgue que domina,

ou mesmo a Morte, se a alegria finda

- ri-te de ambas, que um filho é imortal.


Jorge de Sena, in " Visão Perpétua"


PS - Porque hoje seria o seu aniversário!

sexta-feira, setembro 26, 2025

Música à sexta



Homenagem a Cláudia Cardinale que partiu a 23 deste mês.

quarta-feira, setembro 24, 2025

Cinema

 Emir Kusturica é um cineasta e músico sérvio.

Com uma expressiva sequência de trabalhos internacionalmente aclamados, é visto como um dos mais criativos diretores de cinema dos anos oitenta e noventa.

Recebeu duas vezes a Palma de Ouro bem como a comanda francesa da Ordre des Arts et des Lettres.

Vi na segunda-feira, num horário que me levou para a cama depois da 1h e meia, o seu filme Underground ou Era uma Vez um País e pude, de novo,  constatar a sua originalidade.

Tendo como cenário a Jugoslávia, durante a 2aª Guerra Mundial, alia a cenas de uma enorme comicidade a tragédia de um território destruído. e com milhares de mortos.

Como músico introduz sempre uma sonoridade com um ritmo frenético, alucinante mesmo, mas também músicas da época em tom bem nostálgico.

É uma fábula apaixonante e metafórica  sobre o destino trágico da Jugoslávia, vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1995.

Um "partisan" engana o seu maior amigo e restantes companheiros, mantendo-os numa cave mesmo após o final da guerra, convencendo-os que a luta continua e lucrando com o tráfico de armas.

No meio do cómico de muitas cenas também surge o elemento mágico que dão ao filme um tom de estranheza que se entranha.

domingo, setembro 21, 2025

Poesia ao domingo

 Canção de Outono


No entardecer da terra

O sopro do longo outono

Amareleceu o chão.

Um vago vento erra

Como um sonho mau num sono

Na lívida solidão.


Soergue as folhas e pousa

As folhas volve e revolve

Esvai-se ainda outra vez.

Mas a folha não repousa

E o vento lívido volve

E expira na lividez.


Eu já não sou quem era;

O que eu sonhei, morri-o;

E mesmo o que hoje sou

Amanhã direi: quem dera

Volver a sê-lo! mais frio

O vento vago voltou.



Fernando Pessoa

sábado, setembro 20, 2025

Autárquicas

 Vamos ter eleições Autárquicas no próximo dia 12 de outubro e a campanha eleitoral já mexe.

De novo, depois de alguns anos de interregno, eis-me envolvida na campanha no meu concelho e, sobretudo, na minha freguesia.

Numa terra onde o Chega conseguiu uma percentagem de votos superior ao nível nacional, torna-se premente uma campanha esclarecedora, criativa e com gente que já deu provas em várias áreas profissionais e sem telhados de vidro.

O Chega é uma séria ameaça à nossa democracia, há que combatê-lo com o exemplo da dignificação da política, sem o nomear. Quanto mais se falar dele, pior.

sexta-feira, setembro 19, 2025

Música à sexta

E vem aí o outono!


quarta-feira, setembro 17, 2025

Doce Setembro

 Setembro vai anunciando a chegada do outono, mas, por enquanto, os dias ainda estão luminosos e apetece acrescentar-lhes doçura.

Um dos meus pessegueiros deu fruta para dar e vender, fiz doce de pêssego, deram-me figos e transformei-os em doce.

Hoje, uma boa alma veio trazer-me um poceiro de maçãs de uma das minhas propriedades, já que estou impossibilitada de ir apanhá-las. Claro que serão transformadas em doce, mas talvez também faça umas tartes.

Adoro o cheiro adocicado que se espalha pela casa, durante estas minhas tão pouco habituais aventuras culinárias.

segunda-feira, setembro 15, 2025

Leituras

 O romance "Lillias Fraser" de Hélia Correia despertou-me um enorme interesse.

Começa com  a batalha de Culloden, na Escócia onde os escoceses católicos se opõem aos ingleses protestantes, numa tentativa de colocarem no trono o católico Charles Stuart.

A batalha resultou numa carnificina que matou vários clãs e levou "à deportação em massa dos escoceses para o novo mundo."

Tive que fazer consultas para entender esta luta.

Do massacre salvou-se uma menina loira, de olhos cor de mel que tinha o condão de adivinhar a morte dos que a rodeavam.

Depois de várias mudanças, vamos encontrar a protagonista em Lisboa, num convento de religiosas inglesas nas vésperas do terramoto de 1755. Adivinhando esse cataclismo, sai da cidade e chega a Mafra, cujo convento permanece de pé.

Regressa a Lisboa e visualizamos o horror da morte, da destruição e a ação do  Ministro, como construtor da cidade e perseguidor dos Távoras, entre outras vítimas.

Para abreviar Lillias Fraser, pela mão de Blimunda Sete-Luas, atravessa o Alentejo para ir dar à luz na terra de ninguém, entre Portugal e Espanha. 

E foi assim o seu encontro.

" A criança está bem. De hoje em diante, eu tomo conta de vocês as duas.

- Que criança, senhora? - disse Lillias.

- A que tu Lillias Fraser, vais parir.

- Como pode sabê-lo?

- Vejo dentro do corpo das pessoas quando estou em jejum - explicou Blimunda.

- Eu vejo a morte - disse Lillias.


Peço desculpa pelo atabalhoado do resumo, mas de facto a obra é interessantíssima do ponto de vista histórico.

domingo, setembro 14, 2025

Poesia ao domingo

Natália Correia nasceu, nos Açores,  a 13 de setembro de 1923 e é um vulto assinalável e desassombrado da nossa literatura.

Hoje recordo-a.


Há noites...


Há noites que são feitas dos meus braços

e um silêncio comum às violetas

e há sete luas que são sete traços

de sete noites que nunca foram feitas.


Há noites que levamos à cintura

como um cinto de grandes borboletas.

E um risco de sangue na nossa carne escura

de uma espada à bainha de um cometa.


Há noites que nos deixam para trás

enrolados no nosso desencanto

e cisnes brancos que só são iguais

à mais longínqua onda de seu canto.


Há noites que nos levam para onde

o fantasma de nós fica mais perto:

e é sempre a nossa voz que nos responde

e só o nosso nome estava certo. 

sábado, setembro 13, 2025

Setembro

 Nos setembros da minha infância e adolescência ainda se fazia praia, porque as aulas começavam em outubro e eram belas tardes em jogos de grupos de amigos que passavam de um ano para o outro e dos banhos de sol a comer pastéis de nata ou bolas de Berlim.

Era também tempo de vindimas e, como o meu avô paterno tinha pelo menos três vinhas, pude participar nessa atividade muitas vezes. Eram umas uvas deliciosas e, tanto eu como os meus primos, comíamos mais do que apanhávamos.

A avó guardava as mais especiais para pendurar no celeiro, onde lentamente, se iam transformando em passas, enquanto em cima de uma enorme arca repousavam figos, maçãs e peras. Cheirava a outono quando lá entrávamos.

Agora, os meus netos já tiveram ontem a abertura do ano letivo e não demonstram grande entusiasmo em regressar à escola.

Lembro-me de estar ansiosa pelo começo das aulas, depois de três meses de férias, sobretudo no colégio que frequentei em regime de internato. Tínhamos tantas novidades para contar às amigas, os primeiros namoricos, os novos amigos que fizemos na praia, a arrumação da nossa cama no dormitório, vermos quem iria dormir ao nosso lado, vermos a nossa posição na sala de aula e arrumarmos os novos livros dentro da carteira.

Atualmente, não chegam a sentir saudades dos amigos, graças ou "desgraças" aos telemóveis, porque estão sempre em contacto com conversas e jogos.

Outros tempos, outros passatempos, tudo muda e nós também.